“Parem de mentir em relação ao BNDES”, afirma presidente na posse de Aloizio Mercadante na presidência do banco de fomento, no Rio de Janeiro
Em discurso proferido na cerimônia de posse de Aloizio Mercadante como presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), nesta segunda-feira (6), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar a taxa de juros imposta pelo Banco Central. “Um dos maiores empresários brasileiros, Antônio Ermírio de Moraes, levantava e ia dormir fazendo críticas à taxa de juros”, disse, citando também seu vice nos primeiros mandatos, José Alencar, que não passava “uma reunião” sem reclamar dos juros.
“O problema não é Banco Central independente ou ligado ao governo, é que o Brasil tem uma cultura de juros altos que não combina com a necessidade de crescimento. Por que acabar com a TJLP pra não ter financiamento de longo prazo?”, questionou. “Não tem nenhuma justificativa para que a taxa de juros esteja em 13,75%, é uma vergonha o aumento e a explicação que deram para a sociedade”, continuou Lula.
“Tem gente que fala que o presidente não pode falar isso. Ora, se eu que fui eleito não puder falar, quem eu vou querer que fale por mim?” Segundo Lula, a economia precisa voltar a crescer e “só tem dois jeitos” que possibilitam isso: “a iniciativa privada fazer investimento, e só faz se tiver demanda, ou o Estado incentivar a fazer.”
Além da taxa de juros, Lula também comentou os ataques ao Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal e Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro. Para Lula, os atos golpistas foram uma “revolta dos ricos que perderam as eleições”.
Mentiras contra o banco
O presidente afirmou que o banco foi vítima de difamação e incontáveis mentiras de bolsonaristas nos últimos anos e no processo eleitoral. Uma delas dizia que o BNDES era uma “caixa preta”. “De tanto martelarem isso, o banco teve que gastar 48 milhões (de reais) em auditoria internacional” em 2020, sem nada encontrar, frisou.
Outras inverdades citadas por ele davam conta de que o banco “dava” dinheiro para outros países (como Cuba e Venezuela) e “privilegiou meia dúzia de empresas”. Na verdade, disse Lula, a instituição financiou projetos de engenharia na América Latina e Caribe de empresas brasileiras entre 1998 e 2017. Segundo ele, de R$ 10,5 bilhões financiados, o BNDES recebeu de volta R$ 12,8 bilhões (considerando atualizações).
Os empréstimos, acrescentou, deram lucros e geraram emprego. Se Cuba e Venezuela não pagaram, afirmou, é porque o governo de Jair Bolsonaro (PL) cortou relação com esses países. Para Lula, com o novo governo as duas nações vão pagar a dívida que têm com o Brasil. “Parem de mentir em relação ao BNDES”, protestou o petista.
Ele enfatizou ainda que “a palavra responsabilidade fiscal é muito importante, (mas responsabilidade) social é mais importante ainda”, e é preciso “decidir pra que lado a balança vai pender em determinados momentos”. “Se temos dívida fiscal de 40 anos, temos uma dívida social de 100, 200 anos, impagável se a gente não colocar como prioridade.”
BNDES do futuro
Em um longo discurso, Mercadante declarou que a nova gestão do banco de fomento não quer “debater o BNDES do passado, mas construir o BNDES do futuro, que será verde, inclusivo, tecnológico, digital e industrializante”. Segundo ele, o governo não tem a intenção de retornar a um padrão de subsídios como no passado, mas que o país tenha uma taxa de juros mais competitiva, sobretudo para as micro, pequenas e médias empresas.
“Não pretendemos disputar (com o BNDES) mercado com sistema o financeiro privado, queremos entrar na Febraban”, pontuou, lembrando que o Banco de Brasil e a Caixa já fazem parte da federação. De acordo com ele, disputar mercado com o sistema “não é papel do BNDES”, que deve construir parcerias com o sistema.
Meio ambiente
De acordo com ele, a instituição deve ter papel ativo num contexto histórico que está “perto de uma catástrofe ambiental sem retorno”. Salientou a necessidade de se investir em desenvolvimento sustentável. “Precisamos enterrar o obtuso negacionismo ambiental e climático e apoiar a transição para uma economia de baixo carbono e empregos verdes de baixa emissão. Não haverá futuro se não preservarmos a AM e outros biomas.”
Para Mercadante, a liderança de Lula no cenário internacional “reposicionou” no Brasil “e abriu uma janela de oportunidades para explorarmos a nova configuração geopolítica planetária, (tirando o país) da condição de pária do governo anterior”.
O novo Conselho de Administração do BNDES será presidido por Rafael Luchesi, diretor do Senai. Também estarão no colegiado Carlos Nobre e Isabella Teixeira, “expoentes da questão ambiental e climática”, além do sociólogo Clemente Ganz Lúcio e o ex-chanceler Celso Amorim. A nova gestão, acrescentou, está criando uma Comissão de Estudos estratégicos que será coordenada pelo economista André Lara Resende.
Fonte: Rede Brasil Atual