Presidente da Câmara atribuiu a defesa de medidas menos restritivas de enfrentamento ao coronavírus a pressões do mercado financeiro
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), atribuiu nesta quarta (25) a pressões do mercado financeiro os movimentos em defesa do fim de medidas menos rigorosas de enfrentamento à pandemia do coronavírus.
"A gente não pode deixar de cuidar das pessoas porque as pessoas estão perdendo dinheiro na Bolsa de Valores", disse Maia em reunião do fórum de governadores, que reuniu gestores de 26 estados.
O deputado pediu aos governadores que elenquem projetos prioritários para análise do Legislativo que tenham impacto econômico de curto prazo no combate à pandemia do coronavírus e sugeriu que os governadores não entrem no debate sobre romper as medidas de isolamento social nos estados.
"Acho que a gente tem que sair desse enfrentamento sobre abrir ou não abrir, sair do isolamento ou não sair, porque isso nada mais é do que a pressão de milhares de pessoas que aplicaram seus recursos na Bolsa, acreditaram no sonho, na prosperidade da Bolsa a 150 mil pontos. Ela está a 70 mil por vários problemas. E a gente não pode deixar de cuidar das pessoas porque as pessoas estão perdendo dinheiro na Bolsa de Valores", disse.
"Porque esta é a pressão que vem acontecendo, do meu ponto de vista, nos últimos quatro, cinco dias. Começou com aquele jornal Brazil Journal e aí foi ampliando, a gente foi vendo parte do mercado caminhando... mas eles são assim, né. Eles vivem de estatística. Todos nós, que fazemos política, vivemos das vidas. Então é isso que nós temos que saber equilibrar, a vida com os empregos", continuou o presidente da Câmara.
A reunião da qual participou Maia foi proposta na noite de terça (24) por governadores logo após o pronunciamento de Jair Bolsonaro em cadeia de rádio e televisão no qual o presidente defendeu o fim do isolamento social.
Em seu discurso, Bolsonaro atacou governadores, a imprensa, e criticou medidas como o fechamento de escolas e comércios.
Diversos estados têm adotado medidas que restringem a movimentação de pessoas pela tese, defendida por especialistas, de que as iniciativas podem conter a transmissão do vírus.
Maia foi chamado ao encontro porque governadores avaliaram que precisavam estabelecer um canal direto com o Legislativo, onde projetos de seus interesses serão votados, em meio a um desgaste profundo na relação com o governo federal.
Após participar da reunião com os chefes de Executivos estaduais, em coletiva na noite desta quarta (25), Maia reforçou seus argumentos sobre a pressão do mercado financeiro.
“O que eu acho que está acontecendo é que está tendo uma pressão muito grande de investidores preocupados com as suas perdas que querem impor ao Brasil, aos brasileiros, uma realidade que não está acontecendo em nenhum país do mundo”, afirmou.
Para o deputado, colocar a vida de brasileiros em risco por causa da pressão desses investidores é um equívoco.
“Acredito que a vida de cada um de nós, os empregos dos brasileiros, nada disso pode virar uma mera estatística na mão daqueles que têm interesse legítimos, mas têm interesses em investimentos de risco e especulação e que precisam entender que o risco é para você ganhar e é para você perder”, afirmou.
Maia ressaltou ainda que o governo precisa oferecer à sociedade previsibilidade. Desta forma, seria possível avaliar, junto com governadores, se já é o momento adequado para sair do isolamento ou se é preciso manter a restrição.
Na reunião, Maia ainda disse que o Executivo prometeu editar até no máximo esta quinta (26) a nova medida provisória que vai regulamentar a suspensão do contrato de trabalho tendo o seguro-desemprego como contrapartida aos trabalhadores durante o a pandemia do novo coronavírus.
O deputado contou que avisou o governo que se o prazo não fosse cumprido, o próprio Congresso legislaria sobre a questão.
"[O governo] Prometeu e eu disse a eles que se não acontecesse isso, o Congresso ia legislar porque a gente não podia deixar esse assunto ficar avançando sem uma solução. Fica parecendo que eles estão esticando a corda exatamente para que parte da sociedade acabe indo para a rua e fique num estado de maior pânico em relação aos próximos passos", disse.
Maia pediu aos governadores que separassem as medidas de curto prazo e médio prazo e enviassem a ele três propostas prioritárias.
"Vocês sabem que o ambiente do Parlamento também com o governo não é dos melhores, então tudo o que nós pudermos em conjunto organizar no curto prazo facilita muito", afirmou o deputado.
O presidente da Câmara disse que o Congresso tentaria votar nesta quarta (25) o projeto do governo de fazer um envio mensal a trabalhadores informais, mas que o valor a ser previsto será maior do que os R$ 200 propostos pelo governo.
Deputados e senadores defendiam um repasse de no mínimo R$ 500 aos informais durante o estado de emergência decretado pelo governo diante da pandemia do coronavírus.
O chamado plano Mansueto, que propõe o socorro financeiro da União em troca da adesão de estados a medidas de ajuste fiscal, foi elencado pelos governadores como uma prioridade para ser votada pelo Parlamento neste período.
Segundo Maia, o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, responsável pelo projeto, ficou de mandar até esta quinta (26) a versão final da proposta para que a Câmara tente votá-la até a semana que vem.
Fonte: Folha de SP