Governo estadual estabeleceu como meta reduzir o número de estudantes das Escolas Técnicas Estaduais, ação iniciada esse ano com a não criação de novas turmas
Estudantes preparam nova onda de lutas para preservar o ensino técnico paulista, contra a extinção de cursos
Estudantes das Escolas Técnicas Estaduais (Etec) de São Paulo vão realizar uma manifestação nesta quinta-feira (31) contra a extinção de cursos nas Etecs pelo governo de João Doria (PSDB). Pelo menos três cursos não abriram vagas no Vestibulinho que será realizado em 15 de dezembro: Museologia, Produção de Áudio e Vídeo e Hospedagem – este, especificamente, na unidade Santa Ifigênia. Dados do Plano Plurianual (PPA) do governo tucano demonstram sua intenção de reduzir o número de vagas em cursos nas Etecs de 117,6 mil para 97 mil, até 2023, excluindo cerca de 20 mil jovens da formação técnica.
Os estudantes preparam panfletagens, uma aula pública e querem apresentar suas reivindicações à direção do Centro Paula Souza (CPS), contra a extinção de cursos nas Etecs. A manifestação vai ocorrer a partir das 13h, na sede da CPS, na Luz, região central da capital paulista. “Queremos que sejam abertas vagas para o curso de Produção de Áudio e Vídeo, assim como sejam abertas vagas para os cursos de Museologia, de Hospedagem da Etec Santa Efigênia e todos os outros que não terão novas vagas já para o próximo semestre”, explicou Juliano Angelim, aluno da Etec Jornalista Roberto Marinho (JRM), na zona sul.
O estudante de Produção de Áudio e Vídeo não vê sentido em não abrir novas turmas para o curso, já que ele é dos mais concorridos da educação técnica estadual. “Entendemos a importância do curso de Produção de Áudio e Vídeo, por ser o único curso técnico gratuito desse tipo nas Etecs. Tem duração de dois anos e recebe, a cada semestre, 40 alunos, tendo uma procura de aproximadamente 15 alunos por vaga. Sendo assim um dos cursos mais procurados das ETECs”, disse.
Além de não oferecer novas vagas para o curso de Produção de Áudio e Vídeo, a ETEC que Angelim estuda abriu vagas para dois cursos de NovoTec Integrado: Informática para Internet e Marketing, ambos para o período da tarde. “Percebemos que há uma escolha em privilegiar essa nova modalidade do ensino médio em detrimento do ensino técnico noturno. Sabemos que os estudantes do período noturno são, em grande parte, pessoas que trabalham de dia. E que optam pelo curso técnico também por não ter dinheiro para um curso ou faculdade particular. Parece também uma forma de reduzir a presença da classe trabalhadora no ensino técnico”, afirmou.
O NovoTec integrado é um novo formato de curso em que o estudante faz o curso técnico junto com o ensino médio, no mesmo período. Os estudantes reclamam que os cursos, no entanto, são menos aprofundados que os do ensino técnico regular e só podem ser frequentados por estudantes do ensino médio, excluindo os que já concluíram. Além disso, por ser em apenas um período, os alunos não recebem almoço. No entanto, as aulas chegam a 6 horas diárias.
A deputada estadual Mônica Seixas, da Bancada Ativista (Psol), considera a extinção de cursos nas Etecs como mais um passo no desmonte das políticas que o país vem vivendo. “Doria, assim como o governo federal, segue a lógica de desmonte dos serviços públicos e ataques a educação em todos os níveis. Agora ele usa as ETECs como laboratório para seu projeto de ainda mais precarização do ensino médio a ser posteriormente implementado em todas as escolas estaduais de São Paulo. O Novotec, ao contrário do que tem sido propagandeado pelo governo, pretende fechar cursos e modificar a grade curricular para atender a demanda do mercado, e ainda permitir a contratação de professores “autônomos” sem direito a férias, 13º salário ou licença médica por exemplo”, afirmou.
Gustavo do Nascimento, aluno de Museologia da ETEC Parque da Juventude, em Santana, considera absurdo encerrar um curso que é o único do estado de São Paulo. “No Brasil existem 14 universidades que possuem o curso de Museologia e nenhuma delas está em São Paulo. Para cursar aqui, só fazendo mestrado pela USP. O único curso técnico de Museologia que existe no Brasil, ou existia, é o da Etec Parque da Juventude. É um curso muito respeitado no meio. Praticamente todo museu na cidade de São Paulo tem, ou teve, um funcionário que passou pelo curso da Etec. Todos os professores do curso são atuantes na área”, explicou.
Segundo Nascimento, desde setembro circulam informações sobre a extinção de cursos nas Etecs. Não há vagas para o curso de Museologia no Vestibulinho aberto. O estudante contou que procurou a ouvidoria do CPS e foi informado que o curso seria “fechado para uma revisão”. Mas lembra que em 2011 houve outra tentativa de encerrar o curso, barrada pela mobilização dos alunos. Em 2016, estudantes ocuparam o CPS contra a reforma do ensino médio. “O principal argumento para o fechamento é a evasão. Sim, ela ocorre, mas não de uma maneira estrondosa como falam. Estou no segundo módulo. Minha sala começou com 40 e hoje tem 30. Mas, de todos os cursos da unidade, o de Museologia tem a segunda maior demanda, só perde para Enfermagem”, afirmou.
No caso do curso de Hospedagem, o modelo técnico regular não abriu novas vagas para a Etec Santa Ifigênia, apenas o modelo NovoTec. “Justificam que não tem demanda, mas não é verdade. É a própria Etec que não divulga os cursos, porque o objetivo é cortar gastos. São Paulo tem uma rede hoteleira com muita demanda”, disse um estudante que preferiu não ser identificado por medo de represálias. Ele aponta que, além do risco de extinção de cursos nas Etecs, há uma série de problemas nas unidades, como computadores lentos, laboratórios pequenos e com falta de materiais, calor excessivo nas salas, que dependem apenas de ventiladores – muitos deles quebrados.
Fonte: Brasil Atual