Utilizando-se de fotocopiadora e estêncil, a obra do artista mistura autorrepresentação, homoerotismo e gesto contracultural
“Hudinilson Jr.: Explícito” é a nova mostra Pinacoteca de São Paulo, em que 77 obras do artista tomam conta do segundo prédio da instituição, a Pina Estação.
O título da exposição faz referência à obra “Explicit” (1980), que Hudinilson grafitou com estêncil e tinta spray sobre os muros de São Paulo. O termo é replicado na forma de uma pequena obra em papel que faz parte da mostra e que pode oferecer algumas chaves de entendimento sobre a conduta na vida e na arte de um artista cujo caminho se construiu à revelia do conservadorismo e do preconceito.
Para além desse referencial, a mostra reúne fotografias, xilogravuras, desenhos, documentos, cadernos, objetos e trabalhos em xerografia. Entre os últimos consta uma de suas séries mais conhecidas, “Exercício de me ver” (1980-1984), que marca seu pioneirismo, no início dos anos 1980, no uso da xerox como suporte artístico no Brasil.
Entre 1975 e 1981, Hudinilson Urbano Jr. (1957-2013) coordenou o Centro de Xerografia na Pinacoteca, no qual foi responsável por fomentar uma produção prática, teórica e editorial nesse suporte. Realizou ainda, na instituição, quatro exposições individuais e curou duas coletivas com trabalhos produzidos a partir do mesmo suporte.
Durante o período de pesquisas e dispondo frequentemente do próprio corpo nu, utilizou uma fotocopiadora da instituição para realizar ações que unem performance e registro e que acabaram tornando-se marcos importantes da arte produzida no período.
Com a doação, a série retorna agora ao espaço onde foi concebida. Em “Detalhe do detalhe” (1981-1983), espécie de Parte II de “Exercício de me ver”, Hudinilson Jr. ampliou pequenos pedaços da primeira série até sua quase total abstração, escapando assim de uma eventual censura devida à aspiração erótica e pornográfica da obra.
Dessa necessidade constante de se expor, de se tornar explícito, surge também a obra “Intra Narciso” (1990), em referência à personagem da mitologia grega que se apaixona pela própria imagem. A figura, adotada pelo artista como codinome ao longo da vida, aparece em boa parte de suas obras.
Tomando ainda como base a autorrepresentação, o homoerotismo e o gesto contracultural, interessou-se por outros suportes como o estêncil (aprendizado adquirido através do artista Alex Vallauri), a arte postal, a performance, o grafite e as intervenções urbanas.
Para as últimas, costumava sair à noite pelas ruas de São Paulo e se juntou à Mario Ramiro (1957) e Rafael França (1957 – 1991) para montar o coletivo 3NÓS3, celebrado por suas ações transgressoras no espaço público entre 1979 e 1982.
O museu e a cidade, portanto, foram duas instâncias da vida pública com as quais o artista se engajou. Esse interesse consta nos projetos que desenvolveu no decorrer de mais de três décadas de carreira, e que agora, graças ao gesto generoso de sua família, podem se unir às quatro obras já existentes na coleção da instituição, abrindo caminhos para que a Pinacoteca venha a tornar-se um dos principais locais de pesquisa sobre o legado do artista.
Intrigante, não? A mostra “Hudinilson Jr.: Explícito” fica em cartaz de 14 de março a 17 de agosto, na Pina Estação – ao lado da Sala São Paulo. A visitação pode ser feita de quarta a segunda, das 10h às 18h. Todos os dias a entrada é gratuita!