Sociedade civil tem papel fundamental para deter atual modelo insustentável de consumo e exploração
A pandemia da Covid-19 segue desafiando o Brasil e o mundo em diversas esferas. Na saúde com a pesada dor de mortes diárias; no social, com um quadro dramático de desemprego e ampliação das desigualdades; e, na economia, com desaceleração mundial e acentuação da crise brasileira.
O atendimento às necessidades do momento, que são muitas, deve também estar associado a uma visão de futuro, pois toda crise tem começo, meio e fim.
Entre as principais discussões de reconstrução, ganha destaque a busca pela produção sustentável e o uso de produtos renováveis. O modelo até então praticado tornou-se insustentável. A entidade internacional Global Footprint Network calcula o momento em que o consumo de recursos naturais supera o volume que o planeta é capaz de renovar. Neste ano, esse dia foi 20 de agosto.
O consumidor global já tem exigido rastreabilidade dos produtos, reforçando essa agenda verde.
Vemos manifestações de instituições financeiras exigindo padrões ambientais e sociais. Grandes fundos de investimentos mundiais sinalizaram preocupação com projetos com muita emissão de CO₂. A Bolsa brasileira criou novo índice sustentável em parceria com a S&P Dow Jones.
Na política, o Green Deal, pactuado pela União Europeia, propõe chegar à neutralidade de carbono até 2050. Nos Estados Unidos, a eleição destaca o tema como plataforma de governo de Joe Biden.
Nesse cenário, a Amazônia entrou na mira do Fórum Econômico Mundial no começo do ano e da Assembleia-Geral da ONU, que ocorre nesta semana.
Na contraposição, o Brasil sofre com impactos graves na imagem em razão das ilegalidades na maior floresta tropical do mundo, como desmatamento, queimadas, grilagem de terras e garimpo.
O setor privado, a sociedade organizada, academia e o setor financeiro brasileiros estão se unindo para contribuir na busca de soluções efetivas para os desafios que se impõem. A estratégia é o diálogo para implementação de uma política ambiental nacional de longo prazo.
O Movimento Empresarial é uma ação inédita, com coordenação do Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável, que reúne mais de 80 presidentes-executivos de companhias que atuam no Brasil preocupados com a questão da Amazônia e dispostos dialogar pela busca de soluções. Temos na articulação desse movimento parceiros importantes como Ibá, Abag, Abiove e a Rede Brasil do Pacto Global das Nações Unidas.
Com os mesmos propósitos, a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, formada por mais de 200 representantes do agronegócio, do setor financeiro, da sociedade civil e da academia, também apresentou ações estratégicas. A mobilização conta até com uma carta de ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central, como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Malan, Joaquim Levy, Nelson Barbosa, Arminio Fraga e Persio Arida, reforçando que recuperação econômica precisa conectar preservação ambiental e a responsabilidade social.
Ponto de atenção de qualquer plano de recuperação sustentável está nos 25 milhões de brasileiros que moram na Amazônia, com a maioria vivendo abaixo da linha da pobreza e infraestrutura precária. Assim, a floresta é um dos caminhos para o crescimento socioeconômico.
A floresta em pé já gera riquezas para o país com os serviços ecossistêmicos, como a absorção de CO₂ —uma potencial fonte de renda para o Brasil— e os regimes de chuva, que são um dos grandes responsáveis pelo sucesso do agronegócio brasileiro com até três safras por ano.
O ambiente, que já deixava de ser um assunto lateral, tornou-se imperativo para políticas públicas, impulsionou uma nova maneira de se fazer negócios e deu outra dinâmica ao consumidor consciente e sustentável.
O Brasil pode entregar soluções para esse consumidor e para a bioeconomia, além de ampliar empregos dentro de uma cadeia renovável e sustentável, que melhoram nossa qualidade de vida hoje e possibilitam que outras gerações tenham boas experiências em um planeta saudável.
Fonte: Folha de SP