O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), tirou a quarta-feira (21) para negar que o Brasil comprará a vacina chinesa CoronaVac, desautorizar o Ministério da Saúde e fragilizar ainda mais a já delicada relação com governadores dos estados. A reação ao anúncio de que o Ministério da Saúde assinou protocolo de intenções para adquirir 46 milhões de doses do imunizante tomou corpo após questionamentos da militância bolsonarista na internet.
Já pela manhã, Bolsonaro reservou tempo para responder a comentários nas redes sociais. Um internauta, que disse ser adolescente, pediu "Presidente, a China é uma ditadura, não compre essa vacina, por favor. Eu só tenho 17 anos e quero ter um futuro, mas sem interferência da ditadura chinesa". Bolsonaro deu atenção à demanda do jovem e afirmou em caixa alta, "NÃO SERÁ COMPRADA".
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Ainda pela internet, o presidente usou a palavra traição para se referir ao movimento do Ministério da Saúde ao anunciar a intenção de compra da CoronaVac. O comentário foi feito em resposta a uma mensagem que questionava a atuação do ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello: “Meu presidente o seu ministro nos traio com acordo de compra da vacina mim sinto envergonhado ! O senhor se enganou mas uma vez (sic)"
Mais tarde, em visita ao Centro Tecnológico da Marinha (CTMSP), no interior de São Paulo, Bolsonaro disse que mandou cancelar o protocolo de intenções e enfatizou: "O presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade". Segundo ele, “toda e qualquer vacina está descartada por enquanto. A vacina precisa de comprovação científica para ser usada, não é como a hidroxicloroquina". O presidente não detalhou porque em um caso é necessário aval da ciência e no outro não.
A reação
Também pelas redes sociais, governadores de alguns estados reagiram à decisão de Bolsonaro. No Twitter, Flávio Dino (PCdoB), à frente do governo do Maranhão, afirmou que o presidente "agora quer fazer a 'guerra das vacinas'. Só pensa em palanque e guerra". Segundo Dino, os governadores vão recorrer ao Congresso Nacional e ao Judiciário para garantir o acesso a "todas as vacinas que forem eficazes e seguras".
O governador da Bahia, Rui Costa (PT), afirmou que Bolsonaro não pode desmoralizar e desautorizar um ministro. Ele ressaltou que o país está em guerra contra a covid-19 e disse que a medida anunciada pelo Ministério da Saúde foi "sensata".
Entenda a história
Nessa terça-feira (20), o Ministério da Saúde anunciou que assinou protocolo de intenções para adquirir 46 milhões de doses da CoronaVac, vacina contra o novo coronavírus desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac e que, no Brasil, tem parceria com o Instituto Butantan. Eduardo Pazuello, que nesta quarta-feira teve diagnóstico de infecção pelo coronavírus confirmado, afirmou que as doses seriam distribuídas pelo Programa Nacional de Imunizações.
Após ser desautorizado, o Ministério voltou atrás. O secretário-executivo da pasta, Elcio Franco, afirmou que "não há intenção de compra de vacinas chinesas". Ele disse também que "não houve qualquer compromisso com o governo do estado de São Paulo ou seu governador no sentido de aquisição de vacinas contra covid-19". De acordo com o secretário, o protocolo de intenções entre com o Instituto Butantan não tem "caráter vinculante".
O texto do comunicado à imprensa que anunciava a intenção de compra foi retirado no ar e, posteriormente, modificado. A publicação tinha como título a frase "Brasil negocia aquisição de 46 milhões de doses contra a covid-19 com Instituto Butantan". Na versão mais recente, a afirmação foi alterada para "Ministério da Saúde assina protocolo de intenção para possível aquisição de 46 milhões de doses da Vacina Butantan-Sinovac/Covid-19, em desenvolvimento pelo Instituto Butantan."
Havia ainda a informação de que seria disponibilizado crédito orçamentário de R$ 2,6 bilhões para compra do insumo. O trecho também foi retirado do comunicado.
As reações de Bolsonaro ao anúncio ocorrem em meio a uma briga política que ele trava com o governador de São Paulo, João Dória (PSDB). A gestão do estado é responsável pelo acordo com a Sinovac para testes e pesquisas no Brasil. Em algumas ocasiões, o tucano chegou a dar data para o início do processo de imunização em território paulista.
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Em julho, o presidente Jair Bolsonaro já alardeava críticas ao imunizante produzido no país asiático, maior parceiro comercial do Brasil. As farpas se estendiam também ao acordo com o governo de São Paulo. Durante transmissão pela internet, Bolsonaro se gabou de que o Brasil iria adquirir 100 milhões de doses da vacina britânica pesquisada por Oxford e ironizou: "Não é daquele outro país, não. Tá ok, pessoal?".
Voluntário da vacina de Oxford morre
Um brasileiro que fazia parte do grupo de voluntários nos testes da vacina britânica produzida por Oxford morreu, de acordo com informações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O imunizante também está em avaliação no Brasil, por meio de uma parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Não há informações sobre a possível ligação do óbito com o imunizante.
Em nota, a Anvisa informou que a investigação sobre o caso é sigilosa para a garantia de regulamentações internacionais, "Com base nos compromissos de confidencialidade ética previstos no protocolo, as agências reguladoras envolvidas recebem dados parciais referentes à investigação realizada por esse comitê, que sugeriu pelo prosseguimento do estudo. Assim, o processo permanece em avaliação."
Os estudos do imunizante chegaram a ser interrompidos em outra ocasião, por causa de reações adversas identificadas em uma voluntária do Reino Unido. O acordo do governo brasileiros com a iniciativa prevê R$ 2 bilhões para compra de doses e transferência de tecnologia. Não há previsão de retorno dos valores, caso a vacina não seja eficaz.
Números diários no Brasil
Segundo dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, até esta quarta-feira (20), 155.402 pessoas morreram por causa da covid-19 em território nacional. Foram confirmados 565 óbitos em um dia. O total de contaminados é de 5.298.772 e somente nas últimas 24 horas houve registro de 24.818 novos pacientes.
O que é o novo coronavírus?
Trata-se de uma extensa família de vírus causadores de doenças tanto em animais como em humanos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em humanos os vários tipos de vírus podem provocar infecções respiratórias que vão de resfriados comuns, como a síndrome respiratório do Oriente Médio (MERS), a crises mais graves, como a Síndrome Respiratória Aguda severa (SRAS). O coronavírus descoberto mais recentemente causa a doença covid-19.
Como ajudar quem precisa?
A campanha “Vamos precisar de todo mundo” é uma ação de solidariedade articulada pela Frente Brasil Popular e pela Frente Povo Sem Medo. A plataforma foi criada para ajudar pessoas impactadas pela pandemia da covid-19. De acordo com os organizadores, o objetivo é dar visibilidade e fortalecer as iniciativas populares de cooperação.
Fonte: Brasil de Fato