Trabalho do Instituto Identidades do Brasil com base em dados do IBGE e Caged aponta, porém, avanços nos últimos anos com a inclusão da pauta racial nas empresas
O mercado de trabalho do Brasil só deve se tornar mais igualitário daqui a 167 anos, segundo estudo da organização sem fins lucrativos Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) antecipado ao Estadão. Com isso, o cenário seria presenciado apenas pela terceira geração de uma criança nascida em 2023.
O levantamento aponta que, caso as políticas governamentais não avancem e as ações das empresas não sejam mais aceleradas e consistentes, as oportunidades entre pessoas negras e brancas no mercado de trabalho devem se equilibrar somente em 2190.
Feito com base em dados do Censo Demográfico, Pnad Contínua do IBGE e Caged, o levantamento aponta, porém, que houve um avanço nos últimos anos com a inclusão da pauta racial nas empresas e a criação de programas de trainee com foco em pessoas pretas e pardas, por exemplo.
No entanto, o longo período demonstra que ainda existe muito a ser feito pelas empresas, principalmente em relação a ações que confiram celeridade à inclusão de diversidade nas empresas e práticas que ajudem a manter essas pessoas dentro delas — considerando que, nos layoffs recentes das grandes empresas de tecnologia, os alvos preferenciais foram as minorias.
“Para a gente melhorar esse número, temos que aumentar o número de empresas sendo treinadas, evoluindo dentro de uma jornada antirracista, ter a frente acadêmica funcionando muito bem, assim como as leis”, afirma o diretor de relações institucionais e financeiro do Instituto, Tom Mendes.
Ele afirma ser importante que o poder público haja fortalecendo ações, emendas e projetos que incentivem a contratação de pessoas pretas e pardas no ambiente de trabalho, mas também fortalecer a ideia de pessoas pretas em cargos de liderança e de destaque.
Mendes destaca que enquanto pessoas com os mesmos pensamentos, vivências e etnias ocuparem os mesmos cargos, dificilmente as coisas vão mudar de forma acelerada, promovendo, de fato, uma mudança no mercado e a inclusão.
“Precisamos de mais pessoas com poder de caneta nesses espaços, para que tenham outras práticas de mercado. Se não, o cenário não muda”, afirma Mendes.
Para ele, é preciso também que a pauta não fique isolada somente nos times de RH, mas também nas demais áreas, setores e departamentos das organizações.
Diversidade como negócio
Especialistas ouvidos pelo Estadão destacam que ainda existe um desequilíbrio da agenda ESG nas empresas, com a maioria delas adotando ações e práticas com foco em sustentabilidade por enxergarem a pauta como uma oportunidade de negócio, cenário que não se repete com a diversidade.
Segundo especialistas, a pauta ainda é atrelada a uma visão assistencialista e como uma benfeitoria das empresas, e não como uma ação que irá gerar retorno, seja de produtividade ou financeiro.
Embora essa visão seja perpetuada no mercado, dados recentes demonstram que o mercado de diversidade e inclusão gera engajamento. Segundo o relatório Diversity Matters, organizações com perfis variados de pessoas entregam resultados 25% melhores do que organizações “não-diversas”.
Além disso, é um mercado que movimenta bilhões de dólares. Segundo dados do Dei & You Consulting, a expectativa é que o mercado de diversidade e inclusão atinja US$ 9 bilhões (R$ 46 bilhões) em 2023, projetando alcançar US$ 24,3 bilhões (R$ 125 bilhões) em 2030.
Outro ponto de destaque é que estudos revelaram que o aumento de 1% na diversidade e inclusão nos locais de trabalho resultam em um aumento de 1,46% nas receitas empresariais. Dados da instituição apontam um aumento de 10% na diversidade e a inclusão das equipes leva a um aumento médio de quase 4% na produtividade.
Fonte: Estadão