Cerca de 29,1 milhões de pessoas de 18 anos ou mais sofreram violência psicológica, física ou sexual, no Brasil, revela a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019 – Acidentes, Violência, Doenças Transmissíveis, Atividade sexual, Características do trabalho e Apoio social, divulgada hoje (7), pelo IBGE e feita em parceria com o Ministério da Saúde. Esse total corresponde a 18,3% dos residentes no país.

 

 

A pesquisa mostra que a violência atinge mais as mulheres, os jovens, os negros e a população mais pobre. De acordo com a PNS, o percentual de mulheres que sofreram violência nos 12 meses anteriores à entrevista é de 19,4% ante 17,0% de homens. Entre jovens de 18 a 29 anos, o percentual chega a 27,0%, enquanto é de 20,4% na faixa de 30 a 39 anos; 16,5% entre os adultos de 40 a 59 anos e 10,1% entre os de 60 anos ou mais. As pessoas pretas (20,6%) e pardas (19,3%) sofreram mais com a violência do que as pessoas brancas (16,6%).

 

A mesma tendência ocorreu com a população com menor rendimento (sem rendimento ou até 1/4 do salário-mínimo), em comparação com a de maior rendimento (mais de 5 salários-mínimos), 22,5% e 16,9%, respectivamente.

 

“Há uma incidência maior de violência entre pessoas com domicílios com menor rendimento. Mas não podemos fazer uma correlação entre pobreza e violência, pois há outras questões envolvidas como a cultural, o machismo e o racismo”, diz a analista da pesquisa, Flavia Vinhaes.

 

Tatiane Spitzner foi agredida pelo marido Felipe Manvailer em 2018 e depois foi morta. O caso ainda corre na justiça, Felipe é suspeito por seu assassinato.

 

Companheiro, ex-companheiro, namorado e ex-namorado ou parentes foram os principais agressores das mulheres que sofreram violência física (52,4%), psicológica (32,0%) e violência sexual (53,3%) e a violência ocorre mais frequentemente em casa. Já entre os homens, o mais comum são agressões físicas e psicológicas de amigos, colegas, vizinhos ou pessoas desconhecidas na rua.

 

“O tipo de agressão e o local onde ela ocorre são informações que conversam entre si; como o agressor da mulher é o companheiro, ex-companheiro ou familiar, consequentemente, o domicílio acaba sendo o principal local da agressão; enquanto no caso dos homens a violência é mais alta fora do domicílio, embora a agressão psicológica a homens seja relativamente alta dentro do domicílio”, diz o analista da pesquisa, Leonardo Quesada.

 

Vítimas de violência psicológica correspondem a 95,0% das vítimas de pelo menos uma das três agressões

 

Em 2019, a PNS estimou que 17,4% da população – um total de 27,6 milhões de pessoas de 18 anos ou mais – sofreram agressão psicológica nos 12 meses anteriores à entrevista. Considerando que 27,6 milhões de pessoas sofreram violência psicológica e 29,1 milhões sofreram algum tipo de violência, das pessoas que sofreram alguma violência, 95,0% sofreram violência psicológica.

 

O percentual de mulheres vitimadas foi maior do que o dos homens, 18,6% contra 16,0%. A população mais jovem (18 a 29 anos) sofreu mais violência psicológica do que a população com idade mais elevada (60 anos ou mais), 25,3% contra 9,6% respectivamente. Mais pessoas pretas (19,3%) e pardas (18,3%) sofreram com este tipo de violência do que pessoas brancas (15,9%).

 

Entre os tipos de agressão psicológica a PNS revela que ser ofendido, humilhado ou ridicularizado na frente de outras pessoas foi respondido por 59,1% das vítimas de ambos os sexos (56,2% dos homens e 61,3% das mulheres). Alguém ter gritado com ou xingado o entrevistado foi indicado por 76,4% das vítimas (72,8% dos homens e 79,2% das mulheres). A pesquisa revela, ainda, que o tipo de violência psicológica relatada por 31,5% das pessoas foi que alguém as ameaçou verbalmente de lhes ferir ou ferir alguém importante para elas.

 

Violência psicológica é mais comum por parentes ou parceiros para mulheres e fora do grupo familiar para os homens

 

Entre as mulheres, foi mais comum sofrer agressão psicológica por parentes ou parceiros, sejam os mais próximos ou os mais distantes, incluindo pessoas que não possuíam mais relacionamentos com a vítima. Para os homens, os agressores eram, principalmente, fora do grupo familiar.

 

Os ex-cônjuge, ex-companheiro(a), ex-parceiro(a) ou ex-namorado(a) são os principais agressores das mulheres (32,0% ante 14,7% dos homens). A maior parte dos agressores dos homens são amigo, colega ou vizinho, indicado por 27,8% (contra 18% das mulheres); ou por pessoa desconhecida, apontado por 27,5% dos homens (versus 13,6% das mulheres).

 

Para 55,3% das mulheres e 26,6% dos homens, a residência foi indicada como local da última ocorrência ou a mais grave. Por outro lado, ao considerar via pública ou outro local público, o percentual foi de 27,6% para os homens e 15,4% para as mulheres. A mesma tendência foi identificada em violência psicológica no ambiente de trabalho, 18,4% das respostas gerais, 13,2% das mulheres e 25,2% dos homens.

 

Violência física atingiu 6,6 milhões de pessoas em 2019

 

A PNS 2019 estimou que 6,6 milhões de pessoas de 18 anos ou mais sofreram violência física nos 12 meses anteriores à entrevista, o que representa 4,1% da população. A exemplo da violência psicológica, mais pessoas jovens (18 a 29 anos) sofreram com a violência física do que idosos (60 anos ou mais), 7,7% contra 1,6%. Por cor ou raça, um percentual maior de pessoas pretas (5,2%) e pardas (4,9%) sofreu este tipo de agressão, em comparação às pessoas brancas (3,2%).

 

Tanto para as mulheres quanto para os homens, o tipo de violência mais frequentemente informado foi ser empurrado, segurado com força ou ter algo jogado em sua direção com intenção de machucar, 67,4% e 57,5%, respectivamente. Em segundo lugar, para elas, foi receber um tapa ou uma bofetada (47,6%, mulheres e 37,5%, homens) e para eles, foi ser ameaçado ou ferido com uma faca, arma de fogo ou alguma outra arma ou objeto (27,7%, mulheres e 40,9%, homens).

 

A exemplo do que ocorreu em relação à violência psicológica, o grupo de agressores mais citado em violência física foi cônjuge, companheiro(a), ou namorado(a) (incluindo ex) com 35,9% das respostas, sendo 52,4% das mulheres (52,4%) e 16,3% entre os homens.  Essa situação inverteu quando o agressor é uma pessoa desconhecida (22,1%), citados por 34,5% das vítimas do sexo masculino e 11,6% do feminino.

 

A violência física ocorre com mais frequência nas residências das vítimas (54,0%), sendo revelada por 72,8% das mulheres e 31,7% dos homens. As ocorrências em locais públicos representaram 29,0% dos casos, com destaque para o sexo masculino 42,1% das agressões, em oposição ao sexo feminino, com 17,9% dos casos.

 

Quase 6% da população já sofreu violência sexual alguma vez na vida

 

Em 2019, estimou-se que 1,2 milhão de pessoas foram vítimas de violência sexual nos últimos 12 meses anteriores à entrevista, dentre as quais 72,7% eram mulheres (885 mil). Os mais jovens e as pessoas declaradas pretas também foram os que mais sofreram agressão sexual.

 

Foram questionados dois tipos de agressão: “foi tocada, manipulada, beijada ou teve partes do corpo expostas contra a vontade” (respondido por 79,7% das vítimas de violência sexual, 76,1% das mulheres e 89,3% dos homens); e “foi ameaçada ou forçada a ter relações sexuais ou quaisquer atos sexuais, contra a vontade” (respondido por 50,3% dessas vítimas, 57,1% das mulheres e 32,2% dos homens).

 

De forma semelhante à violência psicológica e física, os agressores mais citados pelas vítimas de violência sexual foram cônjuge(s), companheiros(as), ou namorados(as) (incluindo ex-parceiros(as), ex-cônjuge(s) etc.), citados em 45,6% dos casos, sendo 53,3% para as mulheres e 25,3%, homens. Em seguida, ficaram as pessoas desconhecidas, com 21,8% das respostas (26,3% dos homens e 20,1% das mulheres).

 

A violência sexual também ocorre com mais frequência na residência das vítimas (52,3%), e, novamente, este número é prevalente entre mulheres, pois 61,6% sofreram este tipo de violência no domicílio. Para os homens, esse percentual ficou em 27,4%.

 

A pesquisa também questionou se a pessoa sofreu violência sexual alguma vez na vida – e não apenas nos 12 meses anteriores. Estimou-se que 9,4 milhões de pessoas de 18 anos ou mais de idade foram vítimas de violência sexual, independentemente do período de referência, o que corresponde a 5,9% desta população, 2,5% dos homens e 8,9% das mulheres.

 

Violência tirou de atividade 3,5 milhões de pessoas, mas apenas 15,6% procuraram atendimento médico

 

A violência também pode ser incapacitante. No Brasil, 3,5 milhões de pessoas deixaram de realizar suas atividades habituais em decorrência da violência sofrida, o que representa 12,0% das vítimas de violência, seja psicológica, física ou sexual. Mais uma vez as mulheres (15,4%) são mais atingidas que os homens (7,6%) assim como as pessoas pretas (14,5%, contra 11,0% das brancas e 12,2% das pardas) e aquelas com rendimento de até 1/4 do salário-mínimo (20,0%, contra 8,8% das pessoas com rendimento per capita de mais de cinco salários-mínimos).

 

Em relação às consequências, 47,7% das vítimas de violência psicológica alegaram que tiveram consequências psicológicas para a saúde. A violência física trouxe sobretudo consequências psicológicas (77,6%), mas também físicas (33,7%) para as vítimas. Por fim, a violência sexual gerou consequências psicológicas (60,2%), físicas (19,4%) e sexuais (5,0%), para as vítimas.

 

Dentre as pessoas que alegaram ter tido alguma consequência devido à violência sofrida, 15,6% das vítimas, ou 2,3 milhões de pessoas, procuraram atendimento de saúde. Para os homens, este percentual foi de 13,2% e para as mulheres, 16,9%. Por cor ou raça, os percentuais foram de 17,5% das pessoas brancas, 14,8% das pardas e 13,4% das pretas.

 

Fonte: IBGE