Os indicadores do mercado de trabalho na América Latina e Caribe mostram sinais de melhora na comparação com 2020 e, em alguns países, superam os níveis pré-pandêmicos, mas a qualidade do emprego se deteriora com o aumento da informalidade.
A conclusão é da segunda fase das Pesquisas Telefônicas de Alta Frequência (HFPS, na sigla em inglês), realizadas por Banco Mundial e PNUD para monitorar como a pandemia de COVID-19 afetou o bem-estar dos lares da região.
A taxa de ocupação regional está 11 pontos abaixo do período pré-pandêmico, mas alguns países se recuperaram totalmente, como é o caso de Guatemala, Nicarágua e El Salvador. México e Bolívia então em vias de recuperação, mas a situação permanece difícil em Brasil, Colômbia e Equador, cujas taxas de ocupação estão muito abaixo da fase anterior à pandemia.
“Enquanto os países flexibilizam as medidas de contenção e avançam suas campanhas de vacinação, os níveis de emprego mostram sinais de recuperação. No entanto, os trabalhadores da região ainda enfrentam desafios para garantir postos de trabalho, pelo menos no mesmo nível de antes da pandemia”, afirma o relatório.
O estudo indicou que as horas trabalhadas permanecem 14% abaixo dos níveis pré-pandêmicos e, portanto, mais da metade dos entrevistados afirmou que sua renda não se recuperou por completo, enquanto a informalidade subiu de 48% para 53%. O emprego formal teve queda em todos os países analisados.
Além disso, a proporção de trabalhadores autônomos aumentou de 15% para 21%, e a parcela de empregos em microempresas (aquelas com até quatro trabalhadores) aumentou em mais de 8 pontos percentuais, em média.
As mulheres enfrentam mais dificuldades para manter seus empregos ou retornar ao mercado e ainda precisam lidar com aumento do trabalho doméstico não remunerado, particularmente a supervisão de atividades educativas das crianças. Jovens trabalhadores e aqueles com menores níveis educacionais também têm registrado recuperação mais lenta.
Muitos trabalhadores também deixaram a força de trabalho após serem demitidos. Um em cada quatro pessoas empregadas antes da pandemia disse não trabalhar mais, e mais da metade abandonou o mercado de trabalho. Depois do Haiti, a Colômbia tem a maior taxa de perda de empregos (36%), com cerca de metade dos adultos em idade produtiva tendo deixado a força de trabalho.
“Este cenário de turbulência econômica para as famílias latino-americanas e caribenhas persiste, apesar das tentativas dos governos de neutralizá-lo por meio de expansões na cobertura e nos gastos com transferências sociais regulares e a introdução de transferências de emergência, que beneficiam 46% das famílias na região atualmente”, diz o documento.
A pesquisa para a nota “Uma recuperação desigual: Tomando o pulso da América Latina e do Caribe depois da pandemia” foi realizada entre maio e julho de 2021 e também apresenta resultados nas áreas de segurança alimentar, educação, saúde e acesso a serviços digitais e bancários.
A insegurança alimentar quase duplicou na região, para 24% dos lares, com impacto maior entre países com mais desigualdade e pobreza. Embora o acesso à comida tenha melhorado, grandes setores da população continuam enfrentando deficiências.
Os países do Caribe, como Haiti, Jamaica, Dominica, Santa Lúcia, Guiana e Belize, enfrentam níveis particularmente altos de insegurança alimentar. Em outros, há recuperação, como é o caso de Bolívia, Guatemala e Honduras, que mostraram diminuições significativas na incidência de insegurança alimentar. Por outro lado, a situação em Argentina, Colômbia e Equador continua preocupante.
O estudo mostrou também que a participação em alguma forma de atividade educativa na América Latina e Caribe está 11 pontos percentuais abaixo da taxa anterior à pandemia, sendo que apenas um quarto dos alunos assistia às aulas de forma remota devido a dificuldades de acesso à Internet. O nível e o tipo de participação varia substancialmente entre e dentro dos países.
O acesso aos serviços gerais de saúde voltou aos níveis anteriores à pandemia, mas as dúvidas sobre a vacinação continuam sendo motivo de preocupação na região. Isso ocorre particularmente nos países do Caribe, nos lares rurais e entre as populações com baixos níveis de educação formal.
O estudo também apontou que a pandemia incentivou o uso de pagamentos móveis em toda a América Latina e Caribe, apesar de as taxas de utilização continuarem baixas. O uso de transações digitais (tanto transações bancárias digitais como comércio eletrônico) também aumentou, o que indica a importância das tecnologias digitais para se manter economicamente conectado e/ou receber apoio monetário.
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