Tempo de espera excessivo, superlotação e desrespeito às paradas são alguns dos problemas enfrentados diariamente pelos usuários nos ônibus em São Paulo. 

 

Nos primeiros quatro meses do ano, o número de reclamações cresceu 18,4% --as queixas saltaram de 16,8 mil para 19,9 mil na comparação com o mesmo período do ano passado.

 

Nas 20 linhas mais problemáticas, o aumento foi ainda maior, segundo dados da SPTrans, ligada à prefeitura, sob gestão Bruno Covas (PSDB), obtidos via Lei de Acesso à Informação. Neste ano, as reclamações saltaram de 655 para 810, um aumento de 23,6%.

 

Juntas, as 20 linhas correspondem a 4,2% do total de queixas na cidade, onde operam atualmente 1.350 linhas de ônibus.

Na linha 575A-10, campeã isolada, o intervalo excessivo entre um ônibus e outro é o que mais incomoda os usuários. Das 68 reclamações feitas à Ouvidora do município, 55 eram relativas à demora entre as partidas.

 

Usuários se queixam ainda do tempo da viagem, que parte do terminal Tatuapé e para na divisa com São Caetano do Sul (ABC). "O ônibus não passa por nenhum corredor e fica dando voltas no bairro. Acaba gastando muito tempo", diz Alberto Barros, de 51 anos, que mora na região da Vila Prudente e trabalha como gerente em uma loja no Shopping Tatuapé.

 

Ainda assim, ele considera o 575A-10 como a sua melhor opção de transporte. "Até consigo ir mais rápido pegando um outro ônibus que passe no metrô, mas prefiro sair mais cedo de casa e economizar esse dinheiro", diz Barros.

 

Na última terça-feira (4), o Agora acompanhou o percurso completo da linha até o ponto final. No terminal, a espera foi de cerca de 20 minutos, ainda que o site da SPTrans indique partidas a cada 12. O caminho, que normalmente leva 40 minutos de carro, demorou quase uma hora e meia.

 

As 20 linhas com mais queixas na capital
575A/10 - Divisa de São Caetano/Shopping Metrô Tatuapé (68)
607C/10 - Jardim Miriam/Itaim Bibi (52)
6063/42 - Chácara Santo Antônio/Terminal Varginha (46)
967A/10 - Imirim/Pinheiros (44)
6913/10 - Terminal Varginha/Terminal Bandeira (42)
513C/10 - Vila Califórnia/E. T. Itaquera (42)
6061/10 - Jardim Marilda/Terminal Grajaú (42)
6026/10 - Jardim Icaraí/Terminal Santo Amaro (42)
6000/10 - Terminal Parelheiros/Terminal Santo Amaro 
4310/10 - E. T. Itaquera/Terminal Parque Dom Pedro 2º (40)
695X/10 - Terminal Varginha/Metrô Jabaquara (38)
6093/10 - Vargem Grande/Terminal Grajaú (38)
4313/10 - Terminal Cidade Tiradentes/Terminal Parque Dom Pedro 2º (38)
311C/10 - Parque São Lucas/Bom Retiro (38)
477A/10 - Sacomã/Terminal Pinheiros (38)
476G/10 - Jardim Elba/Ibirapuera (35)
756A/10 - Jardim Paulo VI/E. T. Água Espraiada (34)
917H/10 - Terminal Pirituba/Metrô Vila Mariana (34)
502J/10 - CPTM Autódromo/Metrô Santa Cruz (34)
2590/10 - União de Vila Nova/Parque Dom Pedro 2º (3)

 

Sistema tem sobrecarga, diz engenheiro

Das 20 linhas mais reclamadas, 14 ligam bairros afastados a estações de metrô. Para o engenheiro de tráfego Creso Peixoto, isso demonstra uma sobrecarga no sistema.

 

"O serviço trabalha além da capacidade. Há um número baixo de veículos por linha", afirma. "Nesse sentido, o serviço fica aquém da demanda das periferias."

Isso gera, segundo o especialista, um efeito em cadeia que leva aos principais problemas apontados por usuários. "A pressão faz com que o motorista se apresse e passe no ponto antes do horário. Com isso, o ônibus de trás recebe também os seus passageiros. Essa superlotação, por sua vez, leva ao atraso", afirma.

 

A campeã de superlotação

Pelo segundo ano consecutivo, a linha de ônibus 607C-10 está entre as piores na avaliação dos passageiros. Quem a utiliza todos os dias já sabe que é quase regra: em horário de pico, só vai sentado se o embarque for no ponto inicial.

 

A linha, que leva do limite entre São Paulo e Diadema (ABC) à região do Itaim Bibi (zona sul), é a segunda mais problemática da cidade e a campeã de reclamações por superlotação.

 

"Pego esse ônibus há um ano e acho que nunca consegui sentar", afirma a recepcionista Kátia Novaes, de 34 anos, moradora da Vila Mascote (zona sul).

Segundo usuários, o ônibus já parte cheio todos os dias, mas quando chega ao ponto da Cidade Ademar, muita gente nem sequer consegue embarcar.

 

"Tem dia que a gente gasta cinco minutos no ponto porque não cabe mais gente, e o motorista tem que abrir a porta de trás", diz Gildasio da Silva, 50, que pega o 607C-10 há mais de dez anos para ir ao trabalho. 

Principais reclamações

Tipo Queixas Linhas campeãs
Intervalo excessivo da linha 317 575A/10 - Divisa de São Caetano/Shopping Metrô Tatuapé
Motorista não atender embarque/desembarque   107  502J/10 - CPTM Autódromo/Metrô Santa Cruz
Falta de respeito em geral com o público 83 6000/10 - Terminal Parelheiros/Terminal Santo Amaro
Descumprimento de partida no ponto inicial/final  64   6026/10 - Jardim Icaraí/Terminal Santo Amaro
Ônibus com superlotação   32   607C/10 - Jardim Miriam/Itaim Bibi

Resposta

A SPTrans, sob gestão Bruno Covas (PSDB), atribuiu o aumento nas reclamações no primeiro quadrimestre deste ano ao maior número de interrupções viárias ocorridas no período.

 

"Essas interrupções podem interferir no desempenho das linhas e ocasionar oscilações no intervalo programado, acarretando reclamações dos passageiros", diz, em nota.

 

Segundo a autarquia, as reclamações referentes ao comportamento do motorista, cobrador ou fiscal são repassadas às empresas operadoras, que podem ou não aplicar sanções.

 

"Já as reclamações operacionais, ou seja, referentes à oferta e regularidade das linhas, são encaminhadas à fiscalização da SPTrans para que tome as medidas necessárias junto à operadora", afirma.

 

A autarquia diz ainda que avalia periodicamente todas as operadoras do sistema, levando em conta fatores como o cumprimento de viagens, pontualidade das partidas e reclamações recebidas sobre os serviços, entre outros.

 

Quanto à linha 575A-10, a SPTrans disse que acompanha a operação da linha de forma intensiva e que autua a operadora em caso de irregularidades. Já a linha 607C-10, segundo o texto, opera com ônibus de grande capacidade e é dimensionada de acordo com o limite de cinco passageiros em pé por m² na hora pico. 

 

Procurada pelo Agora, a SP Urbanuss (o sindicato das empresas) não respondeu à reportagem.

 

Fonte: Agora