O presidente mudou o discurso. Antes, dizia que seu governo não tinha corrupção. Agora, reclama: “Se alguém faz algo de errado, pô, vai botar a culpa em mim?”

 

A prisão de Milton Ribeiro, nesta quarta-feira (22), desmonta definitivamente a falácia de Jair Bolsonaro de que em seu governo não existe corrupção. É o primeiro ex-ministro da gestão a ser preso, num momento em que circula nas redes e na TV um novo bordão de sua equipe de marketing, junto com seu partido, o PL. “Sem pandemia, sem corrupção e com Deus no coração. Ninguém segura esta nação”, diz o slogan. O momento não poderia ser pior. As eleições estão chegando rapidamente e o presidente continua a ver o adversário, Luiz Inácio Lula da Silva, inabalável e com chance de vencer no primeiro crescendo a cada pesquisa.

Com a prisão de Ribeiro o discurso de Bolsonaro mudou. “Eu tenho 23 ministros, tenho mais de uma centena de secretários, mais de 20 mil cargos em comissão. Se alguém faz algo de errado, pô, vai botar a culpa em mim?”, disse hoje em entrevista à rádio Itatiaia, sobre o aparentemente ex-aliado. Mas, segundo Natuza Nery e Gerson Camarotti, comentaristas da GloboNews, o ex-ministro do MEC é muito próximo da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Antes da prisão, o presidente Bolsonaro demonstrava mais autoconfiança, apesar da grande série de denúncias e suspeitas de corrupção em seu governo. Por exemplo, em evento internacional virtual de pouca relevância, mas promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em dezembro de 2021 – a Cúpula pela Democracia –, Bolsonaro garantiu que não havia corrupção em seu governo. “A luta contra a corrupção também constitui prioridade permanente, tanto é que estamos completando três anos sem uma denúncia sequer em nosso governo, ao contrário do que ocorria em anos anteriores”, disse, para o mundo inteiro ouvir.

Porém, as denúncias ou fatos que apontam para desmandos do presidente que se elegeu prometendo acabar com a corrupção já são vários. Confira alguns deles:

 

Laranjal

No primeiro ano de mandato, em outubro de 2019, a Polícia Federal indiciou o então ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, no âmbito da Operação Sufrágio Ostentação, investigação que apurava desvio de recursos por meio de candidaturas laranjas nas eleições do ano anterior. O PSL, partido pelo qual Bolsonaro e inúmeros aliados se elegeram, teria usado candidaturas em disputas forjadas para ter acesso a recursos de fundo eleitoral para candidaturas de mulheres. Segundo a investigação, o ex-ministro seria o articulador do esquema, que ficou conhecido como “laranjal”. Apesar das denúncias, mantido no cargo, ele só foi demitido no final de 2020.

 

Ricardo Salles

Um dos mais arrogantes e agressivos aliados de Bolsonaro, o então ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, foi acusado em abril de 2021 de sabotar fiscalização ambiental e atrapalhar apurações da Operação Handroanthus, da Polícia Federal, em nome de interesses de madeireiros investigados por extração ilegal na Amazônia.

Notícia-crime da PF enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF) apontava Salles como membro de organização criminosa. A Operação Handroanthus apreendeu mais de 130 mil metros cúbicos de madeira em toras na divisa de Pará e Amazonas, cerca de 6,4 mil caminhões. Salles pediu demissão do cargo há um ano.

 

CPI da Covid

Durante o ano de 2021, o Senado Federal realizou a CPI da Covid, que escancarou o escândalo envolvendo a compra da vacina indiana Covaxin, superfaturada durante a gestão do general Eduardo Pazzuelo no Ministério da Saúde. O relatório final da comissão acusa Bolsonaro de nove crimes, entre os quais emprego irregular de verba pública, do artigo 315 do Código Penal. O relatório foi enviado ao Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, na Holanda, em fevereiro deste ano.

No âmbito da CPI, o ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias seria o mentor de esquema de propina de US$ 1 por dose, para autorizar a compra de vacinas da AstraZeneca. Dias foi o único a receber ordem de prisão na CPI.

 

Orçamento secreto

Em maio de 2021, o jornal O Estado de S. Paulo denunciou o chamado “orçamento secreto”, em que um esquema organizado por Bolsonaro e aliados do Centrão “alimenta” sua base no Congresso Nacional, principalmente na Câmara. Antes de ser eleito, para agradar o eleitorado, o hoje presidente definiu o Centrão como “a nata do que há de pior no Brasil”.

As emendas negociadas e liberadas para deputados aliados eram, no momento da denúncia, destinadas à compra de tratores e equipamentos agrícolas cerca de 260% mais caros do que os valores de referência do próprio governo.

 

MEC

O Ministério da Educação do próprio Milton Ribeiro é envolvido em um dos mais graves casos de corrupção do atual governo. Em vez de educadores ou pessoas da área, os pastores Gilmar dos Santos e Arilton Moura eram as pessoas mais influentes na pasta. Eles intervinham no ministério em favor de municípios para liberação dos recursos em troca de propinas. Os pastores viajavam em voos da FAB e “abriam as portas” do ministro Ribeiro, que é ouvido em áudio afirmando que seguia determinação de Bolsonaro em relação aos pastores.

 

Casos de família

Em sua página na internet, a deputada Sâmia Bomfim (Psol-SP) elenca casos de corrupção – mais do que ao governo – relacionados diretamente à família Bolsonaro, pais e filhos principalmente. Como o do conhecido como “rachadinha”, quando o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) era deputado na Assembleia do Rio. Também destaca o cheque de R$ 24 mil do ex-assessor do filho “zero 1” do presidente, Fabrício Queiroz, que teria sido depositado na conta da então futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Sâmia cita ainda a “expressiva evolução patrimonial” da família Bolsonaro, com 13 imóveis que somam cerca de R$ 15 milhões em preço de mercado, a maioria em pontos altamente valorizados do Rio de Janeiro. Em 2021, lembra a deputada, Flávio comprou uma mansão em Brasília por R$ 6 milhões.

 

Fonte: Rede Brasil Atual