Índice de desemprego com Lula atinge o menor patamar dos últimos 10 anos, mas o presidente do BC, vê perigo no pleno emprego para manter a inflação em baixa. CUT e demais centrais querem “fora Campos Neto”
Sem dinheiro de capital de giro para investimento, tanto grandes como pequenas empresas diminuem as contratações de trabalhadores e trabalhadoras com receio de não conseguir pagar as dívidas, até mesmo por falta de compradores para os seus produtos, já que o endividamento das famílias impede que elas consumam. É um círculo vicioso que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto poderia ajudar a se encerrar, mas ele insiste em manter a taxa Selic (os juros oficiais do país) em patamares acima de dois dígitos (10,50%).
O próprio Campos Neto em entrevista recente ao canal de TV CNN disse que o pleno emprego alcançado no governo Lula, prejudica a contenção da inflação porque com desemprego menor as empresas tendem a pagar mais e ao aumentar o consumo, o custo de vida sobe, numa clara sabotagem contra os trabalhadores e as trabalhadoras. Desde que Lula assumiu para um terceiro mandato como presidente da República, foram criadas mais de dois milhões de vagas com carteira assinada e o índice do desemprego caiu. No último ano do governo Bolsonaro a taxa de emprego estava em 11,1% e no primeiro trimestre de 2024 (sob Lula), a taxa de desemprego no Brasil atingiu o patamar de 7,9%, representando o menor índice para o período desde 2014, quando registrou 7,2%.
Para a diretora-técnica do Departamento Intersindical de Estudos e Estatítiscas Socioeconômicas (Dieese), Adriana Marcolino, o remédio administrado pelo presidente do BC, de controlar a inflação mantendo os juros altos, na verdade, propõe que as pessoas comam menos.
“O que pressiona a inflação no momento no Brasil são aos alimentos e os juros altos impedem que o produtor rural invista mais na sua produção. Por isso que os juros aumentam a insegurança alimentar”, afirma Adriana.
A diretora técnica do Dieese reforça ainda que durante o governo Bolsonaro os estoques reguladores da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), foram zerados, assim alimentos como arroz, feijão e trigo, entre outros, aumentaram de preços, quando houve uma redução da produção.
“É preciso rearticular, reconstruir os estoques reguladores. A gente sabe que no governo Bolsonaro os estoques dos alimentos que compõem a dieta do brasileiro, foram zerados e a função do estoque é evitar que esses produtos aumentem de preços quando se reduz a produção. Os preços do arroz e do feijão poderiam ser menores se Bolsonaro não tivesse sucateado as funções da Conab”, afirma.
Diante desta sabotagem do presidente do Banco Central contra os trabalhadores e dos demais prejuízos ao país com a alta dos juros, que a CUT e as demais centrais decidiram marcar para a próxima terça-feira (30), atos pelo Brasil contra a taca Selic, a dos juros oficiais do Brasil.
Os atos serão a partir das 10 da manhã em Brasília, em São Paulo e nas demais cidades em que a instituição financeira tem representação. Use a hastag #menosjurosmaissalários
Glossário para entender os juros
Copom - O Comitê de Política Monetária (Copom) é o órgão do Banco Central, formado pelo seu Presidente (hoje, Roberto Campos Neto) e diretores, que define, a cada 45 dias, a taxa básica de juros da economia – a Selic.
Uma vez definida a taxa Selic, o Banco Central atua diariamente por meio de operações de mercado aberto – comprando e vendendo títulos públicos federais – para manter a taxa de juros próxima ao valor definido na reunião.
Banco Central - Criado em 1964, a instituição é uma autarquia de natureza especial, inicialmente comandada pelo Executivo Federal com o propósito de regular, por meio de uma política monetária, a economia brasileira.
Entre as atribuições estão o controle da inflação, garantir a solidez do sistema financeiro, gerenciar a circulação da moeda nacional (em espécie) além de ser o banco dos bancos e o banco do governo.
Isso significa que o BC funciona como uma instituição onde os bancos mantêm contas com suas reservas, que são monitoras a fim de garantir que transações financeiras aconteçam, ou seja que assegurem que os demais bancos terão capital suficiente para arcar com seus compromissos.
É também o banco do governo, que também mantém no BC suas reservas nacionais e internacionais.
Outra responsabilidade do Banco Central, definida por lei, é fomentar o pleno emprego no Brasil.
Autonomia do BC – Em 2021 o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), sancionou a Lei Complementar 179 que deu autonomia ao Banco Central. Se antes a instituição era subordinada ao executivo, a partir da lei passou a ter autonomia para, por exemplo, como acontece hoje, manter taxas elevadas de juros como política monetária, tornando-se, portanto, parcial em seu posicionamento, já que penaliza a classe trabalhadora e favorece os rentistas (aqueles que ganham dinheiro com investimentos e não com produção) e o sistema financeiro (os bancos). Em outras palavras, transfere recursos da população ao sistema financeiro, promovendo ainda mais desigualdade no país.
A autonomia, de acordo com a lei, dá poder ao BC que as metas da política monetária sejam estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (Copom), ligado ao próprio banco.
O presidente do Banco Central é escolhido pelo presidente da República e tem mandato de quatro anos. A figura que atualmente ocupa o cargo é o declarado apoiador de Bolsonaro, Roberto Campos Neto, que de acordo com o movimento sindical tem agido para boicotar o atual governo com a manutenção toda taxa básica de juros em patamares elevados.
De acordo com a lei, apenas o Senado tem o poder de avaliar a conduta do presidente do Banco Central. Desta forma, é o Senado que pode decidir a permanência dele no cargo.
Política monetária / Selic
Por ter a finalidade de controlar e alcançar as metas de inflação do país, o Banco Central define, por meio da política monetária, qual a taxa de juros básica a ser aplicada no país. É conhecida como Selic e serve de referência para todas as transações financeiras realizadas, desde empréstimos pessoais a juros do cartão de crédito, passando por operações que movimentam a economia do país como os financiamentos destinados à produção nos mais diversos setores.
Ou seja, não somente o cidadão, mas também o setor produtivo – as empresas, o comércio, as indústrias, a agricultura e a pecuária também ficam submetidas a tal política.
Fonte: CUT