A baixa cobertura vacinal é um dos fatores, analisa a professora Ana Marli Sartori, ao comentar classificação da Opas que aumentou para risco muito alto a possibilidade de a pólio retornar ao País
A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) classificou o Brasil, em 2020, como local de alto risco de reintrodução da poliomielite. Já a partir de 2021, essa classificação subiu para uma de risco muito alto.
“A Opas classifica conforme a cobertura vacinal nas crianças menores de 5 anos e outros parâmetros como a vigilância epidemiológica. [A classificação de risco muito alto] Significa que 60% dos municípios brasileiros estão dentro desse risco muito alto“, comenta a professora Ana Marli Sartori, da Faculdade de Medicina da USP e responsável pelo setor de imunização do Hospital das Clínicas.
A pólio, conhecida também como paralisia infantil, é uma doença causada por um vírus e a consequência mais grave é a paralisia irreversível. Embora sendo prevenível pela vacinação, a poliomielite é uma grande ameaça para a população brasileira.
Reintrodução
A cobertura para a vacinação da pólio ficou abaixo de 70%, isto é, menor do que o esperado. Parte do problema é causada pela desvalorização da vacina, como analisa a professora: “Eu acho que o fato de não existir mais a doença no nosso meio faz com que as pessoas se esqueçam das doenças e passem a desvalorizar a vacinação”.
Assim como o sarampo, o Brasil já havia erradicado a pólio no território nacional. Mas, além da crença de que a vacina não tem credibilidade, a disseminação de propagandas antivacina e a falta de divulgação da campanha também são pontos cruciais na queda da cobertura vacinal e na possível reintrodução da pólio no País. “Tem uma propaganda antivacina que cresceu no País, principalmente durante a pandemia. E tem também o fato de que a campanha de vacinação não teve uma comunicação extensa, não teve uma grande propaganda sobre ela, então acho que faltou dos órgãos governamentais ênfase no procedimento para que as pessoas ficassem sabendo dos horários, dos locais e da própria campanha”, diz a professora.
Vacinação
A campanha de vacinação da poliomielite está em andamento e, conforme o calendário, deve se estender até o dia 30 de setembro, mas pode sofrer prorrogação. “[A vacina está disponível] Para todas as crianças de 1 a menores de 5 anos. Para todas as crianças, independentemente de terem recebido as vacinas de rotina, é muito importante que elas recebam essa dose de reforço da campanha”, pontua Ana Marli.
Todo ano a vacina é disponibilizada e, para aqueles com a carteira de vacinação atrasada, a atualização da carteirinha pode ser feita a qualquer momento no serviço de saúde.
A paralisia, decorrente da pólio, deixa sequelas para o resto da vida e pode ser prevenida por meio da vacinação. “ [A vacinação] É muito importante para que nossas crianças estejam protegidas”, enfatiza a professora.
Jornal da USP