Entre os 20 distritos mais pobres da capital paulista, apenas Marsilac não teve crescimento superior a 100%
Em três semanas, os 20 distritos mais pobres da capital paulista registraram aumento médio de 170% nas mortes causadas pela covid-19. Entre esses, apenas Marsilac, no extremo sul da cidade, não teve crescimento superior a 100% nos óbitos em casos suspeitos ou confirmados de coronavírus.
Os distritos com mais mortes são Brasilândia, com 133, e Cachoeirinha, com 99, na zona norte; e Capão Redondo, com 99, e Grajaú, com 94, na zona sul. Em Sapopemba, na zona leste, foram 131 mortes. A região leste é a que concentra o maior número de mortes, 1.856, número que deve ser maior, pois os dados da Secretaria Municipal da Saúde por distrito remetem ao dia 8.
Os 20 distritos mais pobres da cidade acumulam 1.279 mortes, das 4.874 ocorridas em toda a cidade, até 8 de maio. Nessa quarta-feira (13), já são 5.388 óbitos causadas pela pandemia do novo coronavírus. Também são os que possuem menos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com um máximo de oito para cada 100 mil habitantes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda 30 para cada 100 mil. Na capital paulista, 60% dos leitos de UTI estão concentrados em três distritos: Sé, Vila Mariana e Pinheiros.
Mais mortos em toda a cidade
Apesar de liderar em número de casos, a zona leste não registra o maior crescimento percentual. Em três semanas, a região teve aumento de 135% nas mortes, enquanto a zona sul da cidade teve alta de 164% nos óbitos, chegando a 1.131. Depois vem a zona norte, com crescimento de 147% e 1.080 mortes. Já nos 20 distritos mais ricos da cidade, o percentual de crescimento das mortes causadas pela covid-19 foi de 127%, em três semanas.
Confira a tabela completa de mortes por distrito da cidade:
Extremamente preocupante
O ex-ministro da Saúde Arthur Chioro já destacou que o aumento das mortes em função do coronavírus na periferia de São Paulo é extremamente preocupante. “É a efetiva ‘periferização’ das mortes de covid-19, revelando toda vulnerabilidade da nossa população e a gravidade do quadro”, lamentou Chioro.
“Na medida em que são pessoas que vivem com piores condições sanitárias, têm estrutura habitacional muito mais frágil para poder fazer o isolamento preventivo ou quando houver casos na própria família. Não têm condições, às vezes, de acesso a produtos de higiene, material de limpeza de roupas, poder separar talheres, roupas de cama. Às vezes dormem na mesma cama e, portanto, potencializa o processo de disseminação da doença.”
Iniquidade
A situação também evidencia a desigualdade na capital paulista e expõe a falta de assistência à saúde nos bairros pobres, na avaliação do médico infectologista e diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo Gerson Salvador.
“A gente está vendo o número de mortos crescendo desproporcionalmente nos bairros mais pobres. Isso reflete uma iniquidade de acesso à saúde”, critica. “Nas regiões periféricas tem um contingente de pessoas que dependem unicamente do Sistema Único de Saúde. A gente sabe que outras doenças de transmissão respiratória, por exemplo a tuberculose, acometem de maneira desproporcional as pessoas que vivem na rua, em cortiços e em favelas. O risco de transmissão da covid-19 em pessoas que vivem nessas condições vai ser maior. A falta de assistência e as condições de vida acabam resultando num número desproporcional de mortes na população mais pobre”, disse.