Marcha das Mulheres Negras, em. Salvador, Belém e São Paulo marcaram as manifestações pelo Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha no Brasil
Salvador, Belém e São Paulo marcaram a data de ontem (25) – dia nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha – com atos da Marcha das Mulheres Negras. Indicadores sociais, do mercado de trabalho e da participação na política evidenciam a falta de paridade e representatividade de grupos como mulheres, negros e pardos. Em particular, o grupo mais vulnerável é o das mulheres negras.
Dados da Oxfam divulgados ontem revelam, por exemplo, que as mulheres negras são 25% da população e ocupam apenas 3,9% das prefeituras; mulheres brancas são 8,1%. Uma desigualdade que, de acordo com o levantamento, pode levar mais de um século para ser resolvida. A desigualdade também é notável no mercado de trabalho, em que mulheres negras ocupam apenas 3% dos cargos de gerência, ou superiores, de acordo com dados do IBGE.
Em São Paulo, a concentração começou por volta das 17h, na Praça da República, região central. Em Belém, no mesmo horário, as participantes se reuniram na Estação das Docas, antes de seguir em caminhada até o Quilombo da República.
Já em Salvador, a manifestação começou mais cedo, às 14h, na Praça da Piedade e marchou em direção à Praça Terreiro de Jesus, no Centro Histórico. Ao chegarem, foram recebidas por um festival de música, arte e resistência. “Um constelação em dança, ocupando as ruas na construção de uma sociedade em conexão com a natureza, a ancestralidade e a cultura. Por Mulheres Negras no Poder, construindo o bem viver”, disse a vereadora de Salvador pelo PT e pré-candidata a deputada federal Maria Marighella, que participou do ato.
Direitos negados
“O Movimento de Mulheres Negras foi construído nas ruas. O ato de marchar está diretamente ligado ao ativismo político da população negra para reivindicar demandas coletivas na busca por direitos negados, no combate às várias formas de violências”, disse ao portal Notícia Preta, Dailza Araújo, do Coletivo Angela Davis, que participou do ato em Salvador.
Entre as pautas defendidas pelas mulheres, questões sobre racismo estrutural, ausência de políticas públicas eficazes para combater a desigualdade e a falta de representatividade nas instâncias de poder. “Durante a Marcha das Mulheres Negras de Salvador, manifestantes aproveitaram para protestar contra o racismo ambiental e religioso, disfarçados de urbanização, que atinge as Dunas do Abaeté e a memória patrimonial da população negra deste território“, reporta a organização de mídia negra Blogueiras Negras.
“Mulheres Negras reivindicam durante a marcha em Salvador que Juristas Negras ocupem cadeiras no Supremo Tribunal Federal (STF). Por mais representatividade no poder judiciário”, completa as blogueiras. “A juventude negra tá marcando presença na Marcha das Mulheres Negras de Salvador. Lutamos por um projeto político que permita que a nossa juventude não seja exterminada”, finaliza.
Quem também marcou presença nos atos da Marcha das Mulheres Negras foi a Marcha Mundial de Mulheres. “Dia 25 de julho é o Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha. Nós, da MMM, estamos em luta permanente contra o capitalismo patriarcal e racista. Pela vida das mulheres negras, seguiremos em marcha até que todas sejamos livres”, comentaram através de uma rede social.
‘Parem de nos matar’
Em São Paulo, ativistas, trabalhadoras e estudantes aproveitaram a marcha para lançar o manifesto “Nem fome, nem tiro, nem cadeia, nem covid: Parem de nos matar!”. As mulheres lembraram as violências cotidianas de que são vítimas. “Mulheres negras nas ruas e nas urnas para derrotar o fascismo, o racismo, a LGBTfobia e o genocídio! Por comida, emprego, educação, saúde e demarcação das terras quilombolas e indígenas! Por nós, por todas nós, pelo Bem Viver”, afirma o manifesto.
A integrante da marcha desde 2015 Olivia de Lucas explica, em entrevista ao portal Mundo Negro, que “neste ano assistimos ainda ao agravamento da insegurança alimentar que 33 milhões de famílias brasileiras estão sofrendo devido a uma política econômica desastrosa”. Olivia citou a pandemia de covid-19 e a falta de ações do governo federal. “A crise sanitária que ainda está presente, com menos letalidade, mas ainda impactando a vida das pessoas mais vulneráveis, em sua maioria negras. Sem falar nas ameaças diárias de golpe e os retrocessos promovidos pelo governo federal”.
Fonte: Rede Brasil Atual