“Soldado populista de extrema-direita levou o Brasil retroceder décadas ou mesmo séculos durante a pandemia”, diz o jornal francês ‘Libération’
Em editorial publicado na noite desta quinta-feira (11), o jornal francês Libération avalia o estado atual de democracia brasileira e afirma que o país está “às portas de uma eleição presidencial de alto risco”. De perfil progressista, o periódico publica sua opinião acompanhada, na mesma edição, de reportagem sobre os atos de hoje na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. “Foi aqui, sob as arcadas da venerável instituição, que em 8 de agosto de 1977, em plena ditadura militar, foi lida uma famosa ‘Carta aos Brasileiros’ para romper o chumbo do regime”, diz a publicação. “Quarenta e cinco anos depois, trata-se agora de manter a democracia conquistada.”
Já em seu editorial, Libération expressa sua opinião de que, desde a eleição de Donald Trump “e seu assalto ao Capitólio quatro anos depois, sabemos que nossas democracias, que pensávamos aprender com os erros do passado, não estão imunes a golpe ou loucura”.
O texto diz que o Brasil, que há 20 anos “era laboratório de uma esquerda aberta à globalização, determinada a elevar o país entre as potências emergentes do planeta, parou repentinamente com a eleição de Jair Bolsonaro”. O “soldado populista de extrema direita” levou o país a “retroceder décadas ou mesmo séculos durante a pandemia, negando a doença e incentivando a conspiração”.
O jornal francês afirma ainda que, se o ex-presidente Lula “influenciou notavelmente grande parte dos empregadores que temem o isolamento internacional em caso de reeleição de Bolsonaro”, por outro lado “isso pode não ser suficiente” diante da “tentação da ordem militar”.
“Imenso perigo”
Por sua vez, o norte-americano The Washington Post também cobriu os eventos no Largo São Francisco de hoje. “Milhares de brasileiros se reuniram nesta quinta-feira em uma faculdade de Direito em defesa das instituições democráticas do país, um evento que ecoou uma reunião de quase 45 anos atrás, quando os cidadãos se uniram no mesmo local para clamar contra uma ditadura militar brutal”, diz o jornal da capital dos Estados Unidos, no título que melhor resume o espírito dos atos de hoje: “Brasileiros se mobilizam pela democracia e buscam conter Bolsonaro”.
O britânico The Guardian também destacou os atos no Brasil em defesa do Estado democrático de direito, com a leitura dos documentos pela manhã, no Salão Nobre da Faculdade de Direito, e a nova Carta aos Brasileiros, à tarde. Na reportagem intitulada “Manifesto de cidadãos declara que a democracia brasileira enfrenta imenso perigo”, o Guardian também chama a atenção para a ameaça de Bolsonaro à democracia brasileira. A oficialmente intitulada Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito! deve chegar a 1 milhão de adesões nesta sexta-feira (12).
O jornal sediado em Londres menciona Thomas Shannon, embaixador dos Estados Unidos no Brasil de 2010 a 2013, no período de Barack Obama, que afirma estar “muito preocupado com o esforço do presidente Bolsonaro e sua equipe em minar a credibilidade das instituições e dos processos pelos quais as eleições são conduzidas no Brasil”. Para ele, a intenção é “tentar impedir que uma eleição aconteça ou mudar seu curso ou resultado.”
“A semente plantada deu frutos”
Já a rede venezuelana Telesur, na edição em inglês, afirma em título que “milhões de brasileiros ouvem carta em defesa da democracia”. A publicação cita a Carta de 1977, que clamava pela a volta do Estado de direito e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte e inspirou a de 2022, lida hoje no Largo São Francisco. “A semente plantada deu frutos. O Brasil superou a ditadura militar”, diz Telesur, citando a nova Carta aos Brasileiros. A rede também publica o vídeo em que artistas leem o documento.
Fonte: Rede Brasil Atual