"E tome vaia!!! O governador de São Paulo foi vaiado por um grupo de professores na cidade de Campo Limpo Paulista, na manhã desta terça-feira. Geraldo Alckmin esteve nesta manhã no município para inaugurar um viaduto. Os docentes fizeram um protesto contra as mudanças na rede estadual de ensino."

Entre gritos e palavras de ordem, parte dos manifestantes discutiu de forma áspera com integrantes da comitiva do governador.

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59% dos paulistanos reprovam remanejamento de alunos no Estado

  Edilson Dantas/Folhapress  
Escola da zona norte de SP já de ciclo único e com nota acima da média, mas que será fechada
Escola da zona norte de SP já de ciclo único e com nota acima da média, mas que será fechada

Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO

A comerciante Maria Helena da Silva Nogueira, 37, tirou seu filho de um colégio particular e o matriculou no final do ano passado em uma escola estadual na região de Pirituba, zona norte de SP.

O problema para ela e para o filho de sete anos é que a escola Professor João Nogueira Lotufo, assim como outras 93 do Estado, serão fechadas pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) no ano que vem.

O fechamento dessas unidades ocorre em meio ao processo que visa oferecer nas escolas classes de apenas um dos três ciclos do ensino básico –anos iniciais (1º ao 5º) e finais (6º ao 9º) do ensino fundamental e ensino médio.

 

"Em dois anos na escola particular, ele não aprendeu nada, mas, na pública, aprendeu a ler e escrever em dois meses. Essa notícia [fechamento] é um absurdo. Não tenho dinheiro para pagar para levar meu filho para uma escola pública boa ou pagar uma particular", afirma.

A opinião de Maria Helena é semelhante à da maioria dos paulistanos. Segundo pesquisa Datafolha realizada na semana passada na cidade, 59% dos entrevistados são contrários ao remanejamento de alunos na rede estadual.


Segundo o levantamento, outros 28% dos paulistanos são a favor da medida, 3%, indiferentes e 9% não souberam opinar. Desde o anúncio das mudanças, o governo tem sofrido críticas de pais e alunos das escolas afetadas, do sindicato dos professores e de movimentos estudantis.

Para o governo, o objetivo da mudança é atenuar a mistura de alunos com idades diferentes –que podem variar de seis a 18 anos, por exemplo, numa mesma escola.

O chefe de gabinete da secretaria estadual da educação, Fernando Padula, disse que a reprovação dos entrevistados ocorre devido à falta de informação de parte deles. "Nós temos a certeza de que esse número será outro muito em breve. Estamos absolutamente convencidos de que a reorganização é um caminho para melhorar a educação", disse.

Ele relata que esse posicionamento foi causado, principalmente, pelas recentes manifestações feitas contra o fechamento das escolas.

"O sindicato, numa estratégia político-partidária, visou desinformar, criar boataria e insegurança. Hoje existe mais a desinformação do que a rejeição", afirmou Padula.

Segundo a reorganização anunciada, além do fechamento de 94 escolas, 311 mil alunos serão transferidos de colégio . Segundo o governo, esses 94 prédios serão aproveitados como creches e escolas municipais ou como colégios técnicos do Estado –mas ainda não há uma definição para todas as unidades.

Segundo o Datafolha, seis em cada dez (62%) entrevistados estão pessimistas com as mudanças e acreditam que elas trarão mais prejuízos que benefícios aos estudantes.

Outros 27% acreditam que as ações serão benéficas aos alunos das escolas públicas.

No caso do Lotufo, como é conhecido o colégio onde estuda o filho da Maria Helena, a rejeição à mudança parece dominar todos as classes.


Folha perguntou nesta quarta (4) a alunos do 1º ao 4º ano de cinco salas se eles querem continuar estudando no Lotufo no próximo ano letivo. Todos levantaram a mão para acenar positivamente.

A escola já funciona em ciclo único e tem notas acima da média do Estado (6,1 no Idesp –principal indicador do ensino no Estado, ante 4,76 de média das escolas estaduais do ciclo 1 – para estudantes do 1º ao 5º ano).

A gestão argumenta que o motivo da mudança é o pequeno número de alunos matriculados. O colégio tem capacidade para 1.050 pessoas, mas hoje só atende 303.

A escola chama a atenção pela limpeza e estrutura melhores que as geralmente encontradas em outras da periferia. As carteiras estão em bom estado, paredes não têm pichação e a quadra esportiva tem uma pintura nova.

O colégio foi campeão regional de xadrez, dama, queimada e do festival de inverno, que envolve atividades de dança e teatro. Os estudantes fazem exposições artísticas –a última será dia 14, quando vão se despedir da escola.