Ator negou financiar ONGs que, segundo o presidente, teriam colocado fogo na floresta amazônica.
O ator americano Leonardo DiCaprio rebateu acusações, sem provas, feitas pelo presidente Jair Bolsonaro, de que ele teria financiado organizações para promover incêndios na floresta amazônica. As declarações do ex-deputado ganharam destaque no jornais americanos Washington Post e New York Times e no britânico The Guardian.
Em nota, DiCaprio nega que tenha feito doações a ONGs (organizações não governamentais) citadas por investigadores brasileiros. “Embora mereçam apoio, nós não financiamos as organizações citadas”, diz o texto. No comunicado, o ator também elogia a atuação desses grupos. “O povo brasileiro está trabalhando para salvar seu patrimônio natural e cultural.”
Em conversa com um grupo de eleitores, na entrada do Palácio do Alvorada, nesta sexta feira (29), Bolsonaro afirmou “agora, o Leonardo DiCaprio é um cara legal, não é? Dando dinheiro para tacar fogo na Amazônia”.
Um dia antes, em transmissão ao vivo nas redes sociais, o presidente havia feito acusação semelhante. “O pessoal da ONG, o que eles fizeram? O que é mais fácil? Botar fogo no mato. Tira foto, filma, a ONG faz campanha contra o Brasil, entra em contato com o Leonardo DiCaprio, e o Leonardo DiCaprio doa 500 mil dólares para essa ONG. Uma parte foi para o pessoal que estava tocando fogo, tá certo? Leonardo DiCaprio tá colaborando aí com a queimada na Amazônia, assim não dá”, disse.
Nesta quinta-feira (29), a Justiça do Pará determinou a soltura de quatro brigadistas da Brigada de Incêndio de Alter do Chãoe da ONG Projeto Saúde e Alegria (PSA), presos no balneário de Alter do Chão (PA).
A Polícia Civil do estado acusa o grupo de ter provocado incêndios na região, em setembro. Segundo esses investigadores, haveria indícios de que essas pessoas, que trabalham de forma voluntária no combate às queimadas, em parceria com o Corpo de Bombeiros, poderiam ter promovido, elas mesmas, esses focos do fogo, a fim de aumentar o financiamento dessas entidades.
Em entrevista coletiva sobre o caso, o delegado José Humberto Melo Júnior afirmou que a ONG criava focos de incêndio para fotografar e que tinha um contrato para vender essas fotos por R$ 47 mil para a ONG WWF-Brasil.
Segundo Júnior, as fotos teriam sido usadas para conseguir doações internacionais, incluindo uma do ator Leonardo de DiCaprio no valor de U$ 500 mil.
As acusações foram refutadas pela organização. “A WWF-Brasil não adquiriu nenhuma foto ou imagem da Brigada, nem recebeu doação do ator Leonardo DiCaprio.” A entidade disse também que “fazer acusações sem provas é um desrespeito à Constituição”.
Apesar das acusações, não há comprovação de atuação criminosa dessas organizações. O inquérito policial que sustenta pedido de prisão dos brigadistas mostra preocupação dos ativistas em cumprir os processos legais de contrato com a WWF.
O documento repleto de ilações, com termos como “certamente”, “é cógnito” (no sentido de que algo é notório), “perceptível”. Aponta também como indício de que eles arquitetavam os crimes o fato de os brigadistas chegarem primeiro nos incêndios — sendo que a função deles é apagar o fogo.
O governador do Pará, Helder Barbalho, determinou a troca do delegado de Conflitos Agrários, Fábio Amaral Barbosa, pelo diretor da Delegacia Especializada em Meio Ambiente, Waldir Freire Cardoso, no caso.
Nesta sexta-feira, o Sindicato dos Delegados do Pará (Sindpol) divulgou uma nota de repúdio à mudança. De acordo com o texto, o governador violou a lei federal 12.830, que trata de investigação criminal, e a associação estuda medidas jurídicas para reverter a situação.
O Ministério Público Federal no Pará, por sua vez, pediu acesso ao inquérito da Polícia Civil do estado. O MPF também questionou a competência da polícia paraense de investigar o caso e detalhou que já há uma apuração em curso, que aponta grileiros como mentores de queimadas no estado.
“Ao contrário, a linha das investigações federais, que vem sendo seguida desde 2015, aponta para o assédio de grileiros, ocupação desordenada e para a especulação imobiliária como causas da degradação ambiental em Alter. (...) Por se tratar de um dos balneários mais famosos do país, a região é objeto de cobiça das indústrias turística e imobiliária e sofre pressão de invasores de terras públicas”, informa o MPF em nota.
Um dos principais destinos turísticos da região, Alter do Chão foi atingido por um incêndio que começou em 14 de setembro e consumiu uma área de cerca de 650 mil m². O fogo foi controlado pelo Corpo de Bombeiros e pelos brigadistas após quatro dias.