Considerando que as despesas familiares das classes mais pobres têm maior parcela destinada a gastos em alimentação, este aumento gera um alto impacto no custo de vida. O professor também afirmou que grande parte do Auxílio Emergencial durante a pandemia foi gasto com custos em alimentação.
Foto RPB
O Índice de Preço ao Consumidor (IPC-S) de 22 de novembro de 2020 subiu 0,77%, ficando 0,15 ponto percentual (p.p) acima da taxa registrada na última divulgação. Com este resultado, o indicador acumula alta de 3,88% no ano e 4,68% nos últimos 12 meses.
Nesta apuração, seis das oito classes de despesa componentes do índice registraram acréscimo em suas taxas de variação. A maior contribuição partiu do grupo Educação, Leitura e Recreação (0,75% para 1,79%). No item passagem aérea, a taxa passou de 5,80% para 14,07%.
Também registraram acréscimo em suas taxas de variação os grupos: Transportes (0,80% para 0,94%), Alimentação (1,57% para 1,69%), Saúde e Cuidados Pessoais (0,11% para 0,17%), Despesas Diversas (-0,04% para -0,01%) e Habitação (0,22% para 0,23%). Nestas classes de despesa, vale destacar o comportamento dos itens: gasolina (1,49% para 1,99%), hortaliças e legumes (9,20% para 11,40%), medicamentos em geral (0,00% para 0,20%), cigarros (-0,84% para -0,61%) e equipamentos eletrônicos (-0,43% para -0,19%).
Em contrapartida, os grupos Vestuário (0,51% para 0,29%) e Comunicação (0,12% para 0,09%) apresentaram recuo em suas taxas de variação. Nestas classes de despesa, vale citar os itens: roupas (0,57% para 0,32%) e tarifa de telefone residencial (0,83% para 0,56%).
Alta dos preços dos alimentos
O professor e especialista em inflação da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, Heron do Carmo, destacou, em entrevista à Rádio USP, nesta segunda (23) que a desvalorização do câmbio é um dos fatores responsáveis pela alta dos preços dos alimentos, que alavanca a inflação das classes mais pobres do Brasil.
Isso porque, segundo ele, o preço dos produtos internamente também tem relação com o dólar uma vez que o Brasil é um grande exportador de alimentos. Se o preço aumenta, a inflação é significativamente afetada.
Ao comentar sobre os impactos que os altos preços têm nas vidas das classes mais baixas, o professor mostrou que a variação da inflação em 12 meses até outubro deste ano ficou em 3,92%, enquanto que somente os alimentos semielaborados (carnes, frutas, óleo de soja) aumentaram em 27%.
Considerando que as despesas familiares das classes mais pobres têm maior parcela destinada a gastos em alimentação, este aumento gera um alto impacto no custo de vida. O professor também afirmou que grande parte do Auxílio Emergencial durante a pandemia foi gasto com custos em alimentação.
A previsão de Heron é que a situação dos preços dos alimentos volte à normalidade só no fim de 2021. Ele explicou, na entrevista, que, “como os preços já subiram, há uma tendência de estabilização no pico por um tempo para que, com a evolução da economia e do câmbio, haja uma queda”.
Sobre a inflação em outras áreas da economia, Heron do Carmo aponta que a área de transporte aéreo está em alta, mas não afeta as classes mais pobres. “Se nós calculássemos só a inflação da classe média, ela seria menor que a inflação geral, enquanto a dos mais pobres é muito maior que a geral.” O professor também traz previsões de que a inflação deve continuar a aumentar em novembro, mas começar a apresentar recuos em dezembro.
Com informações de Ibre FGV e Jornal da USP