A inflação no Brasil foi negativa em setembro (-0,04%), o que significa que houve uma queda na média dos preços (deflação). Mas o que pode ser uma boa notícia para o consumidor agora pode ser um sinal ruim para a economia no futuro e ter impacto negativo na vida dos brasileiros.

 

Economistas consultados pelo UOL comentam o resultado de deflação apontado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quarta-feira (9) e como a queda de preços pode ter um lado negativo.

 

Por que os preços caíram? 

 

O resultado negativo de setembro foi puxado, principalmente, por alimentos e bebidas, com destaque para o tomate, a cebola e a batata-inglesa, cujos preços caíram 16,17%, 9,89% e 8,42%, respectivamente.

 

O economista André Braz, professor do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Fundação Getulio Vargas), afirma que a queda no preço desses produtos está ligada a condições climáticas. "Nesta época do ano, alimentos in natura costumam ser os 'mocinhos', porque eles não têm como ser estocados, a oferta sobe e o preço cai."

 

Por outro lado, outros setores registraram aumento nos preços, como saúde e cuidados pessoais (0,58%) e vestuário (0,27%), o que acabou deixando a deflação muito próxima de zero.

 

A queda de preços não é boa para a população? 

 

Em um primeiro momento, a deflação é favorável para o consumidor. Mas, a longo prazo, pode ser um problema.

 

Para o economista Guilherme Santos Mello, professor da Unicamp (Universidades Estadual de Campinas), a deflação pode ser pior do que a inflação porque desincentiva a produção. "A deflação sugere ao produtor que não há consumidor. Ele planeja a produção em torno de um determinado preço, mas, na hora de vender, se esse produto estiver valendo menos, vai ter prejuízo", afirmou.

 

O risco, segundo Braz, é que a deflação crie um efeito dominó: "Se não produz, não contrata, ou até demite, aí diminui mais a demanda porque não há salário nem crédito, o que faz cair o nível de preço, porque as pessoas não compram, e assim por diante."

 

O resultado de setembro é preocupante? 

 

Para os economistas consultados, como a deflação de setembro foi muito próxima de zero e não aconteceu em todos os setores, não há motivo para grande preocupação.

 

Por outro lado, a inflação acumulada nos últimos 12 meses ficou em 2,89%, chegando próxima do limite mínimo previsto pelo governo, que é de 2,75% (o centro da meta é de 4,25%, com 1,5 ponto percentual de margem para mais ou para menos). Isso pode ser ruim. "Nós trabalhamos com sistema de metas para dar previsibilidade para o investidor fazer o seu cálculo. Se descumprimos a meta, tiramos essa previsibilidade", afirmou Mello.

 

Mas a tendência, segundo Braz, é que a inflação feche o ano dentro da meta, principalmente pelos resultados dos meses de novembro e dezembro, que têm projeção de alta de preços. 

 

Por que aumentar um pouco os preços?

 

A ideia de todos os países é ter uma inflação baixa, razoavelmente estável, mas positiva, segundo Mello. "Isso serve como sinalização para o produtor de que haverá demanda pelo seu produto e que ele não vai ter o preço menor do que os custos de produção", disse.

 

Por que a inflação para o consumidor é diferente da oficial?

 

Os índices de inflação são usados para medir a variação dos preços e o impacto no custo de vida da população. 

 

A inflação que as pessoas sentem no bolso é bem maior que o índice oficial. Isso é normal e não quer dizer que o dado oficial seja fraudado.

 

Centenas de produtos

 

O índice geral é calculado com base numa cesta de centenas de produtos (como tomate, sabonete e celular, por exemplo). Essa cesta varia conforme o índice (IPCA, INPC, IGP-M). São mais de 400 itens no IPCA, a inflação "oficial" do país.

 

Cada item dessa lista tem um peso relativo no índice geral. Se o preço do tomate sobe 50%, o consumidor paga isso, mas a inflação geral não será de 50%, porque o tomate tem uma certa influência na cesta, mas existem muitos outros produtos a serem considerados nessa conta.

 

É uma combinação disso que faz chegar ao índice. Cada pessoa consome uma quantidade, um tipo e uma marca diferente de cada produto. Por isso o cálculo é complexo.

 

Diferentes índices

 

Esses produtos e seu peso variam conforme a faixa de renda da população. Por isso, existem diferentes índices de inflação.

 

O mais citado é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), usado como "oficial" pelo governo. Quando se fala que a meta da inflação está sendo cumprida ou estourou é a esse índice que se refere.

 

Mas há muitos outros, como INPC, IPC-Fipe, IPC-S e IGP-M. Cada índice tem uma metodologia diferente, e a medição é feita por diversos órgãos especializados, como o IBGE, a FGV e a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

 

Entre as diferenças de método, estão os dias em que os índices são apurados, os produtos que incluem, o peso deles na composição geral e a faixa de população estudada.

 

Fonte: Economia UOL