Em 08 de novembro, o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Telemarketing (Sintratel) promoveu o I Encontro sobre as Percepções da Secularidade do Racismo Estrutural e seus efeitos na Sociedade Brasileira. O Encontro aconteceu durante toda a tarde da sexta-feira no auditório de outro sindicato Ugetista e também parceiro: Padeiros de São Paulo.

O I Encontro sobre as Percepções da Secularidade do Racismo Estrutural e seus efeitos na Sociedade Brasileira, reuniu dezenas de profissionais da categoria que compartilharam as análises dos convidados como: Doné Oyacy líder do Quilombo de Araras, o Procurador da Justiça, Nadir de Campos, o Professor da Unesp, Juarez Xavier, além do Diretor do Sport Club Corinthians, André Luiz.  

Os efeitos do Racismo estrutural que permearam toda a organização econômica e social do Brasil nestes cinco séculos foram objeto de análise dos que lá estavam presentes desnaturalizando a exploração material, a violência e o sofrimento imposto as vítimas da discriminação que apesar de criminosa ainda persiste em todos os espaços da sociedade.

Este importante acontecimento na agenda sindical das organizações brasileiras realizado para o setor de telemarketing teve enorme relevância diante das análises realizadas, que trouxeram consigo toda a problemática das manifestações do racismo no trabalho e nos espaços da sociedade, como observou o Presidente do Sintratel, Marco Aurélio C. de Oliveira, que destacou a violência empregada contra os afrodescendentes, responsável pelo crescente índice de assassinatos e violações dos direitos individuais, em especial, da juventude negra periférica, conforme recente documento publicado pela "Rede Nossa São Paulo".

Paulo Martins Secretário de "Equidade nas Relações do Trabalho" tratou sobre os dilemas no mercado de trabalho diante da imobilidade  econômica e profissional da esmagadora maioria dos afrodescendentes em nosso setor, que ainda são exceção nos cargos de maior prestigio, "se pardos e negros são a maioria dos empregados nas centrais de telemarketing, por que não ocupam a maioria dos cargos de comando como coordenadores, gerentes  ou executivos? Queremos equidade no trabalho e para tanto chega de racismo, queremos igualdade de oportunidades", concluiu.

Dando continuidade ao Encontro, as análises sobre o racismo estrutural foram articuladas de maneira pedagógica pelo professor, Juarez Xavier, que levou os participantes a revisitarem seus conceitos sobre o cenário social do Brasil atual, através de sua vivência acadêmica reafirmou a importância da constituição de políticas públicas afirmativas para a superação da desigualdade. De acordo com seu apontamento, "o Estado é um dispositivo de destruição de corpos negros, pretos e pardos, de mulheres, de pobres e não normatizados". E continuou, "desde a sua idealização o Estado teve as digitais do racismo como marca".

Já o Procurador, Nadir de Campos e o dirigente de futebol, André Luiz, do Corinthians foram os próximos oradores, que foram extremamente felizes ao narrar suas trajetórias de superação, dos desafios impostos pelo racismo, que culminaram em sucesso. De acordo com André Luiz a discriminação deve ser enfrentada de frente, e corroborando com o Procurador, Nadir de Campos, quando afirmam ser "a Constituição Brasileira a garantia de igualdade de direitos fundamentais como a liberdade e a cidadania, independente da nossa raça ou cor".

Emocionada a dirigente sindical, Valmira Luzia, ouviu com atenção a análise de Doné Oyacy, que materializou em suas palavras simples, porém sábias, a importância da luta pelo direito à terra e da vivência quilombola. Segundo Oyacy, “a terra é um bem da humanidade, pois nos dá sustento e nos une como família e nação, mesmo assim nos foi negada durante séculos e a população afrodescendente neste país foi relegada ao plano de subscrição na história e na sociedade deste".

Após suas considerações, em seu canto ancestral, Oyacy inspirou a jovem plateia do Encontro a reivindicar também sua herança cultural através da história dos povos africanos escravizados no Brasil e que encontraram no quilombo meio de vida e símbolo de resistência, preservando o legado religioso e social das nações africanas subscritas na construção da identidade nacional, que de acordo com a líder do "Quilombo de Araras" não se apagará e estará presente na história brasileira.

De acordo com Valmira Luzia, "nossos ancestrais nos doaram através de seu trabalho e da sua resistência não apenas o direito à vida, mas a força e a sapiência para constituirmos uma sociedade livre do racismo, cujo o único objetivo secular foi acumular riqueza através da exploração e opressão do outro, perpetuando em desumanização das relações sociais numa nação, que também é nossa", e ainda reafirmou, "nossa luta por aplicações de políticas em prol da equidade nas relações do trabalho é fundamental para a conquista de equidade em todos os espaços sociais e empoderando afrodescendentes de sua cidadania livre do aleijamento moral imposto pelo racismo".

 Assim, o I Encontro do Sintratel sobre o tema nos deixa um legado para construirmos a luta pela emancipação dos excluídos na sociedade.
E como mensagem devemos evidenciar o lema: "Vidas Negras Importam!!!"

 

Veja as fotos abaixo: