Na semana que passou, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou um novo empréstimo ao setor elétrico, que será utilizado para cobrir os custos da energia elétrica do ano passado. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o professor Pedro Luiz Côrtes, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, discorre sobre a atual situação energética do País.

 

De acordo com Côrtes:

“[A guerra] já está afetando, embora a gente não tenha percebido isso. Parte da conta vai chegar este ano, com o aumento dos combustíveis, mas boa parte virá após as eleições; foram R$ 10,5 bilhões que serão cobrados dos consumidores a partir de 2023. Como o governo não conseguiu cobrir as despesas dos custos de geração de energia, devido à crise hídrica, ele autorizou as empresas a contratarem empréstimos nos bancos privados, nos bancos públicos e já deixou claro que quem vai pagar essa conta serão os consumidores, pois isso será repassado em 2023, após as eleições”. Ele ainda completa ao relatar que “pode ser que a conta não pare por aí, o aumento dos combustíveis fósseis vai impactar nos custos da geração termelétrica”.

O desenrolar da guerra nas últimas semanas está refletindo na energia do Brasil. “O que a gente tem são usinas termelétricas movidas a gás e petróleo, que têm sofrido um aumento significativo em função da guerra. Então as termelétricas, que já têm um custo elevado de produção, vão ter ainda um custo aumentado, certamente esse empréstimo que o governo autorizou não será suficiente para bancar esses custos e tudo isso vai ser repassado para a gente após as eleições. O governo vai tentar segurar o máximo possível, por questões eleitorais, mas depois das eleições as bombas tarifárias vão estourar”, analisa o professor.

 

Falta de planejamento

Cortês atribui parte dos problemas brasileiros à falta de planejamento do governo federal: “Essa falta de planejamento plantou essas bombas que vão estourar no orçamento dos consumidores. A primeira delas é o pagamento dos empréstimos de R$ 10,5 bilhões e a outra é o aumento dos combustíveis utilizados pelas termelétricas. O que poderia ser feito: incentivar as usinas, as plantas eólicas e as usinas solares. Aqui em São Paulo, o movimento de placas solares triplicou no último ano, ou seja, quem pode está buscando soluções para evitar instabilidade no preço da energia elétrica”.

As complicações no País não são de agora. “Nós temos problemas já com a crise anterior, nós herdamos um custo que agora o governo está tentando bancar e nós vamos infelizmente ter problemas em decorrência da cotação internacional do petróleo, subindo por conta da guerra da Ucrânia”, afirma o professor.

 

Fonte: Jornal da USP