Índice em março era de 4% para trabalhadoras e escalou para 15,5% em abril; entre homens foi de 4% para 13%

 

As mulheres são novamente o grupo mais vulnerável e atingido por um dos graves efeitos da pandemia do coronavírus. Desta vez, somam mais da metade das 20,5 milhões de pessoas que perderam o emprego nos EUA somente em abril.

 

De acordo com dados do Departamento de Trabalho americano, o desemprego no país disparou dez pontos percentuais em 30 dias, e o índice entre as mulheres chegou a dois dígitos pela primeira vez desde 1948.

 

Especialistas explicam que parte desse impacto acontece porque elas ocupam postos da linha de frente dos setores mais afetados pela pandemia, como lazer, turismo, educação e saúde, e ressaltam que os números já bastante alarmantes ainda vão piorar para as trabalhadoras.

 

O desemprego total nos EUA chegava a 4,4% em março e, no mês passado, saltou para 14,7% —maior índice desde a Grande Depressão, na década de 1930, quando não existia estatística oficial.

 

 

Entre as mulheres, o índice em março de 2020 era de 4% e escalou para 15,5% em abril, enquanto a taxa foi de 4% para 13% entre os homens.

 

O recorde de desemprego total pós-Segunda Guerra Mundial era 10,8%, registrado em novembro de 1982.

Depois de quatro meses do primeiro caso confirmado de Covid-19 nos EUA, o país soma mais 33 milhões de desempregados e o governo estima que a taxa pode passar de 14,7% e chegar até 25%.

 

Especialista em disparidade de raça e gênero, Quenette L. Walton, da Universidade de Houston, explica que empresas seguirão demitindo nos próximos meses e que as mulheres, geralmente em posições de mão-de-obra mais barata e menos qualificada, vão permanecer na ponta da lista de cortes em uma crise como essa.

 

"Acredito que seja só o começo. Vamos continuar a ver o crescimento do desemprego entre as mulheres."

Segundo o governo americano, elas representam 49% da força de trabalho dos EUA, mas já somaram 55% dos novos desempregados.

 

Ao contrário da crise de 2008, quando homens dos setores de manufatura e construção somavam 70% dos que perderam seus empregos, garçonetes, manicures, cabeleireiras, professoras, babás e camareiras estão entre as profissões majoritariamente femininas acertadas em cheio pela pandemia.

 

Pelo menos 1 em cada 3 empregos perdidos por causa do coronavírus nos EUA foram em setores como lazer e turismo, que inclui bares e restaurantes.

 

Até março, 90% do país estava sob regras de isolamento e distanciamento social, com esse tipo de serviço fechado ou liberado apenas para entregas.

 

No setor de educação e saúde, por sua vez, foram 2,5 milhões de postos de trabalho fechados em abril, sendo que as mulheres ocupavam 2,1 milhões deles, ou seja, 83%.

 

Desde o fim da década de 1940, a taxa de desemprego entre as mulheres ficava em torno de 3% a 5%, acompanhando a média total dos EUA. Houve picos em 1975 e 2010, após a crise global, quando o número chegou a quase 9%.

 

Com salários mais baixos —mulheres ganham 82% do rendimento dos homens— e menos reserva financeira, elas devem demorar mais tempo para se recuperar da crise.

 

E não só economicamente, afirma Walton, mas também em termos de saúde mental.

 

Pesquisas mostram que mulheres são as mais afetadas psicologicamente pela quarentena e a professora de Houston diz que isso é potencializado com a perda de emprego.

 

"Veremos ainda maiores picos de depressão e ansiedade entre elas. Quando se é mãe solteira, é mais uma camada para esse desafio. É assustador não ter nada além de efeitos negativos para a saúde mental. As mulheres definitivamente vão lutar para sobreviver por um longo tempo."

 

Durante a recessão de 2007-2008, os homens se recuperaram de maneira mais rápida que as mulheres americanas, mesmo estando entre os mais afetados pelo desemprego naquela época.

 

Entre junho de 2009 e junho de 2011, por exemplo, as mulheres perderam 280 mil empregos, enquanto os homens ganharam 805 mil.

 

O histórico de racismo e discriminação nos EUA faz com que outra discrepância seja reforçada durante a pandemia: mulheres negras e hispânicas estão em situações ainda piores, com taxas de desemprego que chegam a 16,4% e 20,2%, respectivamente.

 

Walton diz que isso não é surpresa e que o desafio é como devolver essas pessoas ao mercado de trabalho de maneira saudável.

 

"O que estamos vendo agora é o véu levantado, escancarando as diferenças no impacto de uma pandemia como essa. As comunidades negra e hispânica compõem mais da metade dos postos de mão de obra barata e pouco estável. Não há dúvida de que são as primeiras a serem dispensadas."

 

Fonte: Folha de SP