No encontro sobre o clima, Lula deve resgatar protagonismo do Brasil por Acordo do Clima. “Ou fazemos um pacto de solidariedade climática, ou um pacto de suicídio coletivo”, diz secretário-geral da ONU

 

 

Começou neste domingo (6) a 27º Conferência do Clima da ONU, a COP27, no Egito. O encontro terá a missão de pressionar países para que revejam e cumpram metas de proteção ao meio ambiente e de enfrentamento ao aquecimento global. Entre os principais objetivos está reconstruir compromissos factíveis em torno do Acordo de Paris, assinado em 2016. Um dos destaques do evento será a participação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que deve viajar ao Egito no próximo dia 15 – a COP27 vai até dia 18.

 

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres disse nesta segunda-feira (7) que o mundo caminha para “um inferno climático com o pé no acelerador”. Guterres alertou que a conferência é “um lembrete de que o relógio está correndo”. Ao cobrar por um “pacto de solidariedade” entre nações ricas e economias emergentes, Guterres afirmou que a questão climática é “a luta pelas nossas vidas e estamos perdendo. As emissões de gases de efeito estufa continuam crescendo. As temperaturas globais continuam subindo”.

 

De acordo com pesquisadores da ONU, os últimos oitos anos podem ter sido os mais quentes da história. “Nosso planeta está se aproximando rapidamente de pontos de inflexão que tornarão o caos climático irreversível.” Segundo a Organização Mundial Meteorológica (OMM), a temperatura média mundial deve cravar aumento de 1,15°C acima da marca pré-industrial. Na prática, isso significa que ondas de calor, secas e inundações que já afetam milhões de pessoas devem piorar.

 

Fora de alcance?

O Acordo de Paris tenta limitar o aumento na temperatura em 1,5°C até 2050. Para a OMM, meta “praticamente fora de alcance”. Principalmente em razão da lentidão na resposta global. “A ciência é clara aqui. A esperança de limitar o aumento da temperatura a 1,5°C significa zerar as emissões de gases estufa até 2050. Estamos chegando perigosamente perto de um ponto sem retorno. E para evitar esse destino terrível, todos os países do G20 devem acelerar sua transição agora. Os países desenvolvidos devem assumir a liderança, mas as economias emergentes também são fundamentais para dobrar a curva de emissões globais”, disse Guterres.

 

Ele finalizou seu discurso ao apontar “especial responsabilidade” para Estados Unidos e China, maiores economias e maiores poluentes. “Países mais ricos e instituições financeiras internacionais devem fornecer assistência técnica e financeira para ajudar as economias emergentes a acelerar sua própria transição para energia renovável”, disse Guterres.

 

“As duas maiores economias, os Estados Unidos e a China, têm a particular responsabilidade de unir esforços para tornar este pacto uma realidade. Ou fazemos um pacto de solidariedade climática, ou um pacto de suicídio coletivo.”

 

Liderança renovada

Quem também discursou hoje na COP27 foi o presidente da França, Emmanuel Macron, que reforçou a responsabilidade de China e Estados Unidos durante um encontro com jovens na cidade de Sharm el Sheik. “Eles devem responder a este desafio, já que os europeus são os únicos que pagam”, disse. Para o francês, as economias europeias já estão em um caminho para zerar as emissões de carbono. Todavia, “é necessário pressionar os países ricos não europeus”, destacou.

 

Macron disse que os países ricos devem ajudar os emergentes neste desafio, com políticas de incentivo comerciais e econômicas. Neste sentido, existe grande expectativa pelo início do governo de Lula. Existe um vácuo na liderança global entre os países emergentes e o petista é cotado internacionalmente para assumir essa liderança. O Brasil foi um dos países que mais regrediu nas emissões de carbono durante o governo de Jair Bolsonaro. Com Lula, espera-se a retomada de uma política responsável que, durante seu governo, posicionou o Brasil como ícone mundial de desenvolvimento sustentável.

 

Oportunidade na COP-27

Lula deve chegar ao Egito no fim de semana e já é foco de conversas de bastidores no Egito. O ativista e ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore disse hoje que “o Brasil escolheu parar de destruir a Amazônia”. Assim, Lula participará de uma agenda de compromissos já como virtual chefe de Estado do Brasil. Isso porque o atual governo evita dialogar sobre o tema por seus resultados desastrosos na área ambiental. Logo, Lula será o protagonista brasileiro na conferência. Ele estará acompanhado de uma equipe, que inclui o deputado federal Nilto Tatto (PT-SP).

 

O parlamentar comentou sobre as expectativas da conferência em reportagem da revista CartaCapital. “Poucos países têm cumprido suas metas, não somente o Brasil de Bolsonaro. Esta COP estará muito focada na agenda de implementação dos acordos e é preciso inclusive ir além daquilo que os países acordaram como meta de redução de emissões. Será um momento oportuno para dialogar com todo mundo do Brasil que acompanha a agenda ambiental e estará no Egito. Com certeza haverá os momentos de ouvir também. Lula já se comprometeu a fazer esse diálogo”, disse. Ainda estarão com Lula na COP27 a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede) e a senadora Simone Tebet (MDB-MS).

 

Fonte: Rede Brasil Atual