O escritor, poeta e jornalista Peter Lownds, faz parte da equipe do periódico “Peoples´s World”, do Partido Comunista dos EUA. Quando jovem ele morou em Pernambuco, onde chegou em 1966 como Voluntário da Paz,e pode ver de perto a barbárie crescente da ditadura militar, que – diz ele – era especialmente dura no Recife.
Ele conta que morou e trabalhou na Ilha do Maruim, “mocambo histórico construído ao redor de um mangue num terreno praieiro que pertenceu à Marinha”. Absorveu em profundidade a cultura pernambucana e brasileira e recorda-se daqueles anos com este poema, que escreveu em português.
Cápsula de outrora
Era uma vez um burguês
veio ao Mirim dos Caetés
para tentar ‘ajudar’ os
indígenas indigentes.
Este acólito do Tio Sam
com mãos e bolsas lisas
não achava seu papel
no rojão do nordestino.
Na Rainha do Mangue,
a freguesia aproveitou
do inocente jovem gringo
fumando e bebendo gratis
até um sussurro de espia!
perfurou o bom vizinho.
Eremita-leitor, decidia de
cometer suicídio de classe.
Se metia no vuco vuco
do Mercado São José
onde engolia mocotó, sirí,
angu, sarapatel e jaca mole.
Na escuma das ondas
fazia unção no crepúsculo
onde o país estende seu
peito pros orixás d’aluanda.
No Recife se refazia
entre as multidões sofridas
nas margens do Capiberibe
até que um muambeiro
aparecia ao seu lado com
folhas de um texto ignoto
que explicava nitidamente
a mecânica da opressão.
Hoje, na EJA[1] de Los Angeles
continua a averiguar os preceitos
que naquele tempo descobria:
o estudo dialógico abre
portas de percepção e cultura,
o povo faz cultura e reconhece
seu valor, educador e educando
são duas faces da mesma moeda.
Que viva Paulo Freire, coração e obra!
Peter Lownds
Fonte: Portal Vermelho