Em meio a retomada do crescimento da economia brasileira, um estudo da consultoria em recursos humanos Korn Ferry aponta para um sério fator de risco para o Brasil: a falta de profissionais especializados, capazes de preencher as vagas que serão abertas em diversos setores.

De acordo com o levantamento feito pela empresa, que ouviu executivos brasileiros, esse “déficit” de profissionais deve chegar a 1,8 milhão de pessoas já em 2020. A estimativa é que esse número cresça cerca de 12% ao ano, atingindo 5,7 milhões de vagas abertas ou preenchidas por pessoas sem a competência ideal até 2030.

“O Brasil vive uma severa carência de mão-de-obra especializada” diz Jean-Marc Laouchez, presidente do Korn Ferry Institute, responsável pelo estudo. Para ele, apesar de algumas iniciativas nessa área terem sido lançadas, “muito ainda precisa ser feito para o país alcançar seu potencial de crescimento”.

Por que isso está acontecendo? Há carência de profissionais nos setores mais envolvidos e impactados pelas mudanças da economia digital. O estudo da Korn Ferry destaca três: tecnologia, mídia e telecomunicações; negócios e serviços bancários; e manufaturas.

Um exemplo de como essa crise projetada já é um problema sério pode ser visto na Logicalis, grupo britânico de tecnologia com 3,2 mil funcionários na América Latina. Hoje, a empresa mantém de 100 a 120 vagas abertas no Brasil, segundo o presidente da companhia para a região, Rodrigo Parreira. “O mercado brasileira precisa hoje de 70 mil desenvolvedores de software por ano, mas só formamos 30 mil profissionais”, diz.

Qual é o impacto dessa situação para a economia brasileira? Além de representar uma espécie de “trava” para a retomada do crescimento, a carência de profissionais especializados e a alta demanda por parte das empresas já cria desequilíbrios, como o aumento excessivo de salários e de programas de benefício, segundo os executivos ouvidos pela Korn Ferry.

De acordo os entrevistados, é esperado aumento de até US$ 10,8 mil para áreas mais disputadas até 2030. “Um profissional como cientista de dados começa com salário de R$ 10 mil, R$ 12 mil, mas é muito difícil encontrar alguém”, diz Parreira.

“Muitas áreas, como as de engenharia de software e ciência de dados ficam constantemente com vagas abertas pois são essenciais para suportar o crescimento”, afirma Ana Paula Maia, gerente de recursos humanos da fintech Nubank.

Esse é um problema só do Brasil? Não. O levantamento da Korn Ferry é global, feito com 115 mil empresas pelo mundo, sendo cem no Brasil. E o que os números apontam é que esse problema de falta de mão de obra especializada, principalmente nas tecnologias digitais, ocorre em todo o mundo.

De acordo o relatório, empresários ou presidente de companhias estimam que, no mundo, a falta de pessoal especializado deve alcançar, até 2030, 85,2 milhões de vagas de trabalho.

O que as empresas podem fazer a esse respeito? A tendência é uma aposta cada vez maior, por parte das companhias, em programas de formação interna dos empregados. A consultoria PwC (PricewaterhouseCoopers) anunciou neste ano um programa de formação digital que deve, em menor e maior escala, atingir todos os funcionários da empresa pelo mundo.

O plano deve consumir US$ 3 bilhões nos próximos quatro anos e envolve formação de gestores e analistas de transformação digital, além de profissionais na área de educação para servirem às universidades.

“A gente não tem como encontrar esses talentos no mercado. As universidades não estão preparadas e é preciso uma mudança de comportamento e investimento em formação nos funcionários que temos”, diz Erika Braga, diretora de recursos humanos da PwC.

 

O programa, no Brasil, deve atingir os 4,5 mil empregados da empresa. “Esse é um caminho sem volta, a gente vai ter de investir na formação interna”, afirma Luciene Magalhães, sócia-líder de recursos humanos da KPMG no País.

 

FONTE: https://6minutos.com.br/