Brasil vê aumento de casos e pressão sobre sistema de saúde. Ciência lamenta que dados sobre a covid-19 estejam fora do ar há um mês

 

O Brasil está às cegas diante da covid-19. Desde dezembro, o Ministério da Saúde não informa com precisão os registros de novos casos da doença e de mortes. Isso diante dos recordes em todo o mundo, que somente de ontem pra hoje somou 2,6 milhões novos casos, sobretudo pelo avanço da variante ômicron. E também num momento em que os sistemas de saúde de diversas cidades do país dão sinais de sufoco devido a síndrome respiratória. Pouco se sabe sobre o tamanho dessa nova onda no país. A comunidade científica lamenta, e passou a cobrar pelo mínimo: a divulgação dos dados reais.

“Nós da Rede Análise Covid-19 viemos a público para pedir ajuda de todos vocês na cobrança dos dados abertos da covid-19 no Brasil, pois estão fora do ar desde o início de dezembro de 2021”, apelam os cientistas. O apagão nos dados veio após supostos ataques hackers em sistemas do Ministério da Saúde. Antes disso, em setembro, a pasta comandada por Marcelo Queiroga já havia imposto dificuldades com a exigência de dados sobre cada caso de covid-19.

Subnotificação

Assim, o Brasil que teve durante toda a pandemia elevado índice de subnotificação, passou a “voar às cegas”. Estes fatos ficam explícitos diante do avanço da ômicron. Os sistemas públicos de saúde já notificam pressão e falta de leitos. A cidade de Belo Horizonte, ontem (4), chegou a 100% de ocupação de leitos públicos para a covid-19. Da mesma forma, Santa Catarina observa uma ascensão radical de casos da doença.

A ausência dos dados oficiais afeta registros governamentais, mas também institutos de excelência, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que dependem das informações do sistema para elaborar análises epidemiológicas. Isso porque esses dados permitem ao pessoal do Observatório da Covid-19 (da Fiocruz) fazer o nowcasting. “É um cálculo que consegue compensar o atraso de notificação deste banco de dados de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), trazendo o que está acontecendo agora de forma um pouco mais fidedigna”, explicam os pesquisadores da Rede Análise Covid-19.

Além disso, assim como faltam dados sobre contaminações e às mortes, as informações sobre o alcance da imunização também são imprecisas. “Também não temos mais dados de cobertura vacinal (doses aplicadas) do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização. Então, não sabemos se as vacinas continuam sendo aplicadas na mesma velocidade de antes ou se estagnamos na cobertura.”

O fim precoce de políticas públicas como distanciamento social e uso de máscaras leva ao descontrole do surto. E as aglomerações típicas do fim do ano começam a somar-se ao caos. “Passamos por um aumento forte de mobilidade (festas de fim de ano e férias). E estamos vendo relatos (que estão sendo nosso guia, mas sabemos que não podemos contar com eles) de aumentos significativos de casos positivos para covid-19”, finalizam.

Balanço

Mesmo diante do apagão, o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) atualiza os dados como pode. Nesta quarta (5) foram 129 mortos, totalizando 619.513 desde o início da pandemia. Também foram registrados 27.267 novos casos em um total de 22.351.104. Estão totalmente vacinados, com duas doses, cerca de 70% da população. Tomaram a primeira dose 80%. Mas apenas pouco mais de 10% tomaram a dose de reforço.

 

conass

 

 

Por Redação RBA