Operador do sistema elétrico disse que conta de luz ficaria sem taxa extra. Mas analistas dizem que não é possível garantir que país ficará sem reforço de térmicas
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) previu na segunda-feira que o Brasil deve seguir com bandeira verde, sem cobrança extra na conta de luz, até o fim do ano. No entanto, especialistas não estão convencidos disso ainda e dizem que não é possível garantir que o país não precisará do reforço da geração térmica neste ano.
Está em vigor a bandeira de Escassez Hídrica, criada ano passado para compensar o uso maior de termelétricas e que representa custo adicional de R$ 14,20 a cada cem quilowatts-hora consumidos. A sobretaxa tinha previsão de vigorar até o fim de abril, mas o presidente Jair Bolsonaro anunciou que ela deixará de valer no próximo dia 16.
Para Clarice Ferraz, diretora do Instituto Ilumina, a previsão do ONS de bandeira verde até o fim do ano deve ser vista com ressalvas. Para ela, não é possível garantir que as termelétricas mais caras, como as movidas a óleo diesel, não precisarão ser acionadas, e há chances de que a previsão tenha motivação política:
— A gente teve um pouco mais de alívio com as térmicas inflexíveis (acionadas todo o tempo), mas, se tivermos uma seca maior, não será suficiente. Nesse caso, como seria feito? Um novo empréstimo para manter a bandeira verde artificialmente? O ONS não tem como garantir que vai manter a bandeira verde o ano todo.
Termelétricas complementam oferta de energia
As termelétricas complementam a oferta de energia no país. Normalmente, são acionadas de acordo com a ordem de mérito, espécie de hierarquia que significa que primeiro entram no sistema as que produzem energia com fontes mais baratas, até chegar, por fim, nas mais caras. No ano passado, em razão da seca, foram ligadas todas as termelétricas, mas não se espera cenário similar este ano.
Neste ano, apontou o ONS, os níveis dos reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste estão no melhor nível desde 2012. No Norte e Nordeste, os níveis estão quase em 100%. As hidrelétricas dessas regiões representam 70% da capacidade de armazenamento do país.
Segundo o ONS, a água de alguns reservatórios em Sul, Sudeste e Centro-Oeste será poupada em razão da entrada em operação de termelétricas a partir de maio como resultado de um leilão emergencial realizado no ano passado. Isso vai permitir guardar mais água e reduzir o risco de uma nova crise à frente.
Apreensão com período seco
Eduardo Faria, sócio-diretor da Mercurio Trading, avalia que é necessário reduzir o uso de termelétricas. Ele alerta, porém, para o cuidado com a preservação de água nos reservatórios durante o período seco, que começa em maio:
— Em breve entraremos no período seco, e apesar de termos armazenamento de água confortável, é preciso usar os reservatórios de forma racional para não chegarmos ao fim do período seco dependendo de um bom período úmido.
Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, não está claro se, de fato, será possível manter a bandeira verde até o fim do ano em razão do período seco.
— É algo que se justifica fazer agora, mas não dá pra considerar que está resolvido e que não vai ser preciso mudar mais a bandeira no final do ano. Ainda temos uma grande dependência hídrica.
Fonte e Foto: O Globo