Retórica de Witzel estimula ações policiais que podem ser fatais para quem vive em comunidades — como o Alemão de Ágatha.
Não houve confronto entre criminosos e a Polícia Militar do Rio de Janeiro.
A justificativa oficial para o assassinato de Ágatha Vitória, de apenas 8 anos, foi contestada por testemunhas do crime e familiares dela.
A menina estava ao lado da mãe dentro de uma kombi, a caminho de casa, no Complexo do Alemão, quando levou o tiro pelas costas.
Ao Fantástico, o motorista da kombi foi categórico ao chamar de “mentira” a versão da polícia: “Não teve tiroteio nenhum; foram dois disparos que ele [policial] deu”.
Emocionado ao receber a notícia ainda na sexta-feira (21) à noite, o avô de Ágatha, Aílton Félix, questionou o argumento das autoridades do Rio de Janeiro para explicar o tiro fatal na criança: "Que confronto? Confronto com quem? Isso é confronto? A minha neta estava armada, por acaso, para precisar levar um tiro?"
Nesta segunda-feira (23), a Delegacia de Homicídios do Rio tomará depoimento dos PMs apontados como participantes da “ação” que culminou com a morte.
As armas deles passarão por perícia, assim como fragmentos do projétil extraído do corpo de Ágatha.
Na hora do assassinato, os policiais estavam tentando acertar um motociclista. Eles relataram que foram “atacados de várias localidades da comunidade de forma simultânea” e, por isso, “revidaram”.
Com cada vez mais testemunhas refutando o que diz a polícia, ganham força as críticas à atuação da PM no Rio. No fim de semana, o presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no estado, Luciano Bandeira, falou em “política de extermínio”.
“É uma política que não protege o cidadão, nem mesmo o mais vulnerável — aquele oprimido pelo tráfico e pelas forças de segurança do Estado”, resumiu Bandeira, ao comentar o caso Ágatha.
Dados da ONG Fogo Cruzado apontam 16 crianças baleadas na região metropolitana do Rio em 2019. Cinco morreram.
O assassinato de Ágatha, aliás, aconteceu apenas um dia depois de o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), dizer que criminosos nas comunidades serão “caçados e combatidos”.
É uma retórica que seguramente estimula ações policiais que podem ser fatais para quem vive nessas comunidades — como no Alemão de Ágatha.
Afinal, conseguirá uma política de extermínio distinguir suspeitos e inocentes?
Fonte: https://www.huffpostbrasil.com