Combater o racismo e o sexismo é essencial para qualquer mudança!
O 25 de julho foi determinado como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha em 1992, no 1º encontro de Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas, em Santo Domingos, na República Dominicana, para a humanidade refletir sobre como construir uma sociedade sem racismo e sem sexismo.
Essa mesma data foi instituída no Brasil como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, em 2014, em homenagem à importante líder da luta antiescravista no país, no século 18, em Mato Grosso.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) as mulheres negras representam 28% e os negros e pardos constituem 56% da população. Então, como construir um país sem racismo e sexismo, numa sociedade machista e racista como a brasileira?
Para Lucimara Cruz, secretária da Igualdade Racial da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), “além do retorno do Ministério da Igualdade Racial, a escola tem um papel fundamental com aplicação da Lei 10.639/2003 e com o ensino da história das negras e negros brasileiros criarmos uma identificação com a maioria da população que é negra”.
Isso porque as manifestações racistas cresceram no país nos últimos anos. De acordo com o 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, no ano passado foram 2.458 ocorrências registradas, 67% a mais do que em 2021 quando ocorreram 1.464 registros.
Ainda segundo o anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 56,8% das 74.930 vítimas de estupro, em 2022, foram as mulheres negras. Em 2021, elas representavam 52,2%. “Esses dados fortalecem a necessidade de um amplo trabalho de combate à dupla violência enfrentada pelas mulheres negras”, acentua Lucimara.
Já Raimunda Leone, secretária-adjunta da Igualdade Racial da CTB, defende que “para combater as violências em relação às mulheres negras, é preciso combater as desigualdades sociais, junto às discriminações de raça e gênero” porque “o racismo e o machismo são formas de opressão para impedir que as mulheres negras tenham melhores condições de vida.”
Fato comprovado pelo levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), ao mostrar que o desemprego entre as mulheres negras foi o dobro do que entre os homens brancos, em 2021. Além da população branca ganhar 68% a mais do que os negros, em 2019, aponta o IBGE.
Enquanto um estudo do Centro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), mostra que 41,5% das mulheres negras estavam subutilizadas no mercado de trabalho em 2021, enquanto a subutilização entre os homens brancos era de 18%.
Raimunda destaca também a estratégia do capitalismo em “dividir a classe trabalhadora, fomentando a divisão sexual e racial do trabalho”. Lucimara afirma que “a mentalidade escravocrata permanece em parte da sociedade e o capitalismo se apropria disso para aprofundar o sentimento de rivalidade e exclusão”.
Sentimento visto no número de letalidade policial averiguado pelo 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Porque as polícias do Brasil mataram 6.430 pessoas em serviço ou em folga no ano passado, ou 17 mortes por dia. Sendo que 44,5% das vítimas eram jovens de até 17 anos ou 7 jovens por dia, sendo 5 de jovens negros, 85,1% dessa faixa etária.
Até porque a política de segurança pública permanece a mesma do período da ditadura de 1964. “Nem a Constituição de 1988 criou uma nova Política Nacional de Segurança Pública e quem sofre na alma são as mães negras que perdem seus filhos para o braço armado do Estado”, afirma Lucimara.
Mas a violência é mais abrangente do que os crimes letais que causam grande sofrimento às mães negras. Como mostra estudo do IBGE. A taxa de desemprego no segundo trimestre de 2022 foi de 9,3%, já entre as mulheres negras a desocupação foi de 13,9%, as mulheres brancas representavam 8,9%, os homens negros 8,7% e os homens brancos eram 6,1% entre os desempregados.
Além disso, o racismo e o sexismo são comprovados pela média salarial. No segundo trimestre de 2022, os homens brancos receberam em média R$ 3.708, as mulheres brancas R$ 2.774, as mulheres negras receberam R$ 1.715, e os homens negros, R$ 2.142. As mulheres negras receberam 53,7% a menos do que os homens brancos, nesse período.
“Para mudar essa realidade, é necessário criar políticas de inserção das mulheres negras na sociedade para criar condições de oportunidades iguais no mundo do trabalho, na educação e em todos os setores da vida”, realça Raimunda.
Lucimara acredita que para “a luta contra o racismo e com o sexismo – essa dupla violência que as mulheres negras enfrentam diariamente – fazem do dia 25 de julho, mais um dia fundamental no calendário de lutas por uma sociedade mais justa e igual, onde as mulheres possam viver e amar sem medo.”
Fonte: Rádio Peão Brasil - Marcos Aurélio Ruy