Levantamento mostra que negro tem espaço como aprendiz, mas é minoria na chefia

 

Um novo indicador busca medir a diversidade racial em empresas instaladas no Brasil. Batizado de IIRE (Índice de Inclusão Racial Empresarial), ele foi criado pela Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, movimento de empresas e instituições contra o racismo, em parceria com a Faculdade Zumbi dos Palmares e a ONG Afrobras.

 

A primeira rodada de pesquisas mostrou que revelar dados sobre políticas de diversidade e inclusão racial ainda é tabu em empresas que atuam no Brasil. Das 76 companhias signatárias da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, apenas 23 responderam as questões que constituem o indicador e tratam sobre temas como recenseamento de funcionários, conscientização racial, engajamento em ações afirmativas, recrutamento e políticas de ascensão para profissionais negros.

 

Segundo o levantamento, empresas com atuação global se mostram mais ativas do que aquelas com operação 100% nacional. Raphael Vicente, coordenador da iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, afirma que está em curso uma mudança que favorece a diversidade nas companhias como um todo: a discussão sobre a necessidade de implementar medidas para promover a diversidade de raça nas equipes chegou à alta liderança das empresas e a percepção no topo é que desigualdade não é apenas um problema social, mas racial.

 

“Quando a alta liderança assume o compromisso e toma à frente a questão racial o resultado das ações é mais efetivo em um período menor”, diz ele.

 

Também cresce a mentalidade de que é preciso globalizar medidas que fomentem a diversidade racial, o que indica um grande avanço, avalia. “Nos anos 1990, muitas políticas aplicadas nas matrizes não eram aplicadas aqui.”

 

A pesquisa identificou que pretos e pardos são maioria apenas entre aprendizes e trainees, 57% e 58% do total. Em conselhos de administração, os negros representam 4,9%, em quadros executivos, 4,7%, e em cargos de gerência, 6,3%.

 

São poucas as empresas que desenvolvem ações permanentes sobre o tema. Das 23 companhias que responderam aos questionários, 19 afirmam ter um comitê específico para debater a questão da diversidade racial e realizam ações sobre questões raciais em datas simbólicas, como dias da Abolição da Escravatura, Consciência Negra e Luta contra a Discriminação Racial.

 

De acordo com a pesquisa, organizar espaços de debates sobre inclusão racial no ambiente de trabalho já é uma realidade para 16 das empresas consultadas, e discutir a diversidade racial em reuniões estratégicas e encontros gerenciais é tema recorrente para 12 delas.

 

Quando se discute ações permanentes de treinamento, com cursos e workshops específicos sobre a temática negra, o número cai para nove.

 

O questionário sobre políticas de inclusão racial do IIRE foi dividido em seis pilares principais e foi respondido pelas 23 empresas entre 5 de agosto e 4 de setembro. As companhias puderam marcar como respostas as opções “atende”, “não atende”, “atende parcialmente” e “supera” os critérios estabelecidos.

 

Das 23 empresas participantes, quatro afirmaram superar o critério de recenseamento empresarial, que consiste em mapear características raciais dos funcionários, considerando critérios de gênero, idade, cargo e remuneração.

 

Para a iniciativa, este mapeamento funciona como um retrato da diversidade racial na empresa e por meio dele é possível entender se as ações afirmativas aplicadas são, de fato, bem fundamentadas.

 

Em relação à conscientização sobre o tema, nove companhias afirmaram superar o critério, 12 afirmaram atender, enquanto duas afirmaram não atender.

 

A metodologia do índice, que passará a ser divulgado anualmente, foi desenvolvida durante três anos. Segundo Vicente, o objetivo do indicador é servir de referência para situação do negro no ambiente corporativo e no mercado de trabalho brasileiro, bem como estabelecer uma série histórica para monitorar as mudanças.

 

A meta é que as empresas possam receber relatórios para comparar o seu desempenho em diferentes frentes e estimular uma competição positiva em torno do combate ao racismo. Com esse acompanhamento, diz Vicente, as empresas também vão conseguir identificar eventuais lacunas anualmente.

 

O coordenador reconhece que o número de empresas ainda é baixo, no entanto, a iniciativa tem como meta para 2021 dobrar o número de participantes.

 

Fonte: Folha de SP