Legenda chegou a ser a terceira maior força política do país, após se popularizar em meio à grave crise financeira dos anos 2010; protestos antifascismo tomaram as ruas ao redor do tribunal

 

O julgamento político mais importante que a Grécia viu em décadas chegou ao fim nesta quarta-feira, após um tribunal em Atenas determinar que o partido neonazista Aurora  Dourada é uma organização criminosa. O veredicto emblemático efetivamente bate a legenda, que chegou a ser a terceira maior do país após se popularizar durante a crise financeira, mirando na xenofobia e nos críticos à esquerda.

 

 

A decisão pôs fim a um julgamento que começou há cinco anos, em uma corte improvisada na maior prisão de segurança máxima do país, em Atenas. Assim como em 2015, nenhum dos integrantes da organização esteve presente nesta quarta, mas milhares de gregos ocuparam as ruas ao redor do tribunal carregando cartazes e bandeiras com frases como “Eles não são inocentes” e “fora nazistas” e “prisão perpétua”.

 

Crise migratória:"Eram dois enterros por dia. Acordávamos e pensávamos: quem vai morrer hoje?", lembra refugiado sírio que hoje é professor em Berlim

 

Todos os grandes partidos políticos do país, de situação ou oposição, estiveram presentes no protesto, que terminou em confrontos com a polícia. Um pequeno grupo de manifestantes lançou coquetéis molotov contra a polícia, que com cerca de 2 mil agentes nas ruas, respondeu com gás lacrimogêneo e canhões d'água.

 

A corte, composta por três juízes, determinou que o Amanhecer Dourado foi responsável por uma série de ataques, incluindo o assassinato do rapper Pavlos Fyssas, alinhado à esquerda grega. O integrante do movimento que o esfaqueou, Giorgos Roupakias, também foi considerado culpado de homicídio.

 

Criado na década de 1980 por um ex-integrante do Exército grego, Nikos Mihaloliakos, o partido se fortaleceu em meio à crise financeira de 2012, em meio ao descontentamento com a austeridade fiscal e o aumento da imigração. Enquanto esteve no Parlamento, entre 2012 e 2019, manteve sua popularidade com slogans e políticas patrióticas, mas nunca abandonou seus elos com outros movimentos neonazistas.

 

 

Alguns dias após o assassinato de Fyssas, a polícia grega prendeu toda a liderança da sigla, respondendo às suspeitas de que o Amanhecer Dourado era também uma quadrilha. O julgamento teve início em abril de 2015, com um processo de 3 mil páginas, 69 réus (um deles morreu desde então) e 120 testemunhas.

 

Os procedimentos custaram caro para o partido, que viu o apoio popular se esvair e não conseguiu se reeleger para o Parlamento grego no ano passado. Ainda assim, a ameaça neonazista continua presente na Grécia: ex-integrantes da sigla, como o antigo porta-voz Ilias Kasidiaris, formaram suas próprias legendas com ideias similares, enquanto outros partidos de extrema direita, mesmo que menos radicais, também despontaram.

 

 

O Amanhecer Dourado nega sistematicamente qualquer elo com os ataques e classifica o julgamento como uma “conspiração” com “motivações políticas”. Já o primeiro-ministro grergo, Kyriakos Mitsotakis, escreveu no Twitter semana passada que a experiência do país com a “desastrosa formação da entidade nazista Amanhecer Dourado tem sido traumática, dolorosa e, infelizmente, muito sangrenta”.

 

 

“O impacto deste veredicto, que diz respeito ao julgamento emblemático de um partido de extrema direita com uma agressiva postura anti-imigracão e anti-direitos humanos, vai ser sentida para muito além das fronteiras gregas”, disse na segunda, via comunicado, Nils Muiznieks, diretor regional da Anistia Internacional.

 

Fonte: O Globo