A Amazônia teve o pior início de temporada de incêndios em uma década, com 10 136 incêndios detectados nos primeiros 10 dias de agosto, um aumento de 17% em relação ao ano passado.
A análise dos dados do governo brasileiro pelo Greenpeace mostrou que os incêndios aumentaram 81% nas reservas federais em comparação com o mesmo período do ano passado. Vindo um ano depois que os crescentes incêndios na Amazônia causaram uma crise internacional, os novos números levantaram temores de que a temporada de incêndios deste ano possa ser ainda pior do que a do ano passado.
“Este é o resultado direto da falta de uma política ambiental deste governo”, disse Romulo Batista, ativista florestal sênior do Greenpeace Brasil. “Tivemos mais incêndios do que no ano passado.”
Os números devem aumentar o sentimento de alarme crescente, entre líderes empresariais e investidores, sobre o impacto negativo causado pela destruição contínua da floresta amazônica do Brasil.
“É uma situação muito preocupante. Claramente, a política ambiental do governo para a questão da Amazônia não está funcionando”, disse na quarta-feira Candido Bacher, presidente do maior banco do Brasil, o Itaú Unibanco.
Em julho, o governo proibiu incêndios por 120 dias nas regiões da Amazônia e do Pantanal, onde as queimadas também estão intensas. Na terça-feira, o presidente de extrema-direita do Brasil, Jair Bolsonaro, alegou falsamente que os relatórios sobre o aumento do número de incêndios na Amazônia eram “mentira”.
Seu governo não conseguiu controlar o aumento dos incêndios e do desmatamento, apesar de uma cara operação do exército lançada em maio. Chamada Operação Green Brasil 2 e chefiada pelo vice-presidente general Hamilton Mourão, envolve milhares de soldados e, de acordo com o Ministério da Defesa, já apreendeu 28,1 mil metros cúbicos de madeira e distribuiu £575 mil (cerca de 4 milhões de reais) em multas.
Os incêndios em julho aumentaram 28% em relação ao ano anterior, segundo o Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), responsável pelo monitoramento por satélite. O desmatamento de agosto de 2019 a julho de 2020 aumentou 34%. E ninguém foi acusado pelo coordenado “Dia do Fogo” do ano passado, quando os incêndios triplicaram apenas no estado do Pará entre 10 e 11 de agosto, especialmente no entorno da área de Novo Progresso, onde 638 incêndios foram detectados nos primeiros 10 dias de agosto.
“É muita propaganda”, disse Batista sobre a operação. “Você não combate o desmatamento com uma operação do exército, você o faz trabalhando o ano todo com inteligência e coordenação.”
Há um ano, Bolsonaro tentou culpar Leonardo DiCaprio e ONGs pelos incêndios, apesar de não ter fornecido provas — e demitiu o chefe do INPE. Na terça-feira, durante uma reunião de países amazônicos, ele fez mais afirmações incorretas.
“Essa história de que a Amazônia está pegando fogo é mentira e devemos combatê-la com números verdadeiros”, disse Bolsonaro, segundo a Reuters, que publicou fotos da floresta devastada por um incêndio no município de Apuí, no Amazonas.
Os incêndios na estação seca da Amazônia são causados principalmente por pessoas desmatando ou queimando árvores derrubadas, ou florestas, das quais madeiras valiosas já foram removidas, disse Batista.
Grande parte dessa terra vira pasto para gado, responsável por 80% do desmatamento em todos os países amazônicos. A análise do Greenpeace mostrou que entre os municípios amazônicos mais atingidos pelos incêndios nos primeiros 10 dias de agosto, estavam algumas das áreas de produção de gado mais importantes da região. No ano passado, o Guardian e o Bureau of Investigative Journalism relataram que os incêndios na Amazônia eram 30% mais prováveis em zonas de criação de animais para consumo.
A indústria de carne do Brasil está sob pressão crescente para impedir que o gado de áreas desmatadas ilegalmente na Amazônia contamine as cadeias de abastecimento. Suas maiores empresas disseram que fizeram um grande progresso no monitoramento dos últimos anos e estão desenvolvendo novas estratégias para melhorá-lo.
Na quarta-feira, Candido Bracher, do Itaú Unibanco, disse que o banco não financiará carnes vinculadas ao desmatamento. “Queremos garantir que o setor não seja abastecido com carne de rebanhos criados em áreas desmatadas”, disse ao jornal Estado de S.Paulo. “Faremos isso rastreando.”
O Itaú Unibanco faz parte do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), que tem se reunido com Mourão, juízes da Suprema Corte e líderes do Congresso para exigir ações que protejam a Amazônia, evitando enfrentar a postura anti-ambientalista de importantes governantes que têm contestado a ciência das mudanças climáticas.
“Esta não é uma questão ideológica”, disse sua presidente, Marina Grossi. “Quando você não tem uma política clara sobre isso, você compromete essas empresas. Você perde valor e o país perde.”
Fonte: ANDA Agência de Notícias de Direitos Animais