Nos últimos dias, o vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) criticando as mudanças no Pix promovidas pela Receita Federal ganhou destaque como um verdadeiro fenômeno digital. Com quase 300 milhões de visualizações, ultrapassou marcos como a comemoração de Lionel Messi pela vitória na Copa do Mundo (206 milhões), a celebração de Donald Trump pela presidência em 2024 (57 milhões) e até o emocionante momento em que Fernanda Torres foi premiada no Globo de Ouro (77 milhões).

Esses números impressionam, mas também levantam uma série de perguntas. Como é possível um vídeo atingir essa marca em um país com pouco mais de 200 milhões de habitantes? Será que todos esses acessos são legítimos?

Vivemos em um Brasil onde milhões ainda enfrentam dificuldades para acessar a internet, especialmente em comunidades afastadas como ribeirinhos, quilombolas e povos indígenas. Além disso, um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) aponta que somos o segundo país menos interessado em política no mundo, com 41% da população desinteressada no tema.

Diante disso, me pergunto: esses números são reais? Ou estamos diante de mais um caso de impulsionamento digital por plataformas como a Meta, que potencializam o alcance de determinados conteúdos?

Uma guerra de retóricas nas redes
Se houve interferência das redes sociais para ampliar o alcance do vídeo, isso revela algo maior do que a simples viralização. Estamos enfrentando uma nova batalha, uma guerra de retóricas, onde narrativas cuidadosamente construídas dominam os algoritmos, moldam opiniões e influenciam milhões em segundos.

As redes sociais, que poderiam ser ferramentas democráticas para promover a informação e o diálogo, muitas vezes acabam reforçando polarizações e promovendo conteúdos que apelam para o emocional, independentemente da veracidade ou do impacto social dessas mensagens.

Nikolas Ferreira sabe usar esse modelo a seu favor. Ele transforma questões complexas, como mudanças tributárias, em discursos simplificados, com forte apelo emocional e elementos de identificação para sua base de seguidores. Não é coincidência que o vídeo tenha se espalhado de forma tão intensa.

O desafio para nós, líderes sindicais
Como presidente do Sintratel, vejo que o sucesso desse vídeo nos coloca frente a frente com uma realidade desafiadora: o movimento sindical precisa se adaptar a esse novo modelo de comunicação. Não podemos ignorar o poder das redes sociais e a forma como elas moldam percepções.

Nosso trabalho não é apenas esclarecer, mas também disputar narrativas nesse ambiente digital. Precisamos apresentar conteúdos que sejam não apenas informativos, mas que também dialoguem com as emoções e os interesses dos trabalhadores.

A luta pela verdade
Por trás do sucesso do vídeo, há uma mensagem maior: a verdade precisa ser defendida. Não podemos permitir que retóricas simplistas ou desinformações se tornem dominantes. Nosso compromisso é com a construção de um diálogo honesto, que empodere os trabalhadores e os capacite a tomar decisões com base em informações confiáveis.

Esse fenômeno nos lembra que a batalha sindical também acontece no campo das ideias e das narrativas. Precisamos estar preparados para enfrentar uma comunicação ágil, estratégica e, muitas vezes, desonesta.

Nosso desafio é grande, mas não recuaremos. O Sintratel continuará sendo uma voz ativa na defesa dos trabalhadores, seja nas negociações, nas ruas ou nas redes sociais. Este é o nosso compromisso com a classe trabalhadora e com o futuro do Brasil.

Marco Aurélio
Presidente do Sintratel