Estruturas de transmissão de luz localizadas no Paraná e em Rondônia foram danificadas horas após eclosão de movimento golpista. Governo cria gabinete de crise

 

Três torres de transmissão de energia localizadas no Paraná e em Rondônia foram danificadas entre o fim da noite de domingo (8/1) e a madrugada de segunda-feira (9). Os ataques geraram preocupação à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que criou um gabinete de crise para acompanhar a situação. Não houve prejuízo ao fornecimento energético, mas relatórios internos mostram que a Aneel trabalha com a possibilidade de vandalismo e sabotagem às estruturas vandalizadas.

Os ataques ocorreram horas depois de golpistas terem invadido o Palácio do Planalto e o prédio do Congresso Nacional, em Brasília (DF). A sede do Supremo Tribunal Federal (STF) também foi alvo do grupo, composto por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Obtidos pelo Estado de Minas, os boletins emitidos pela Aneel para tratar do tema não fazem relação entre a derrubada das torres e o movimento radical. A autarquia está vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME), chefiado pelo mineiro Alexandre Silveira (PSD).

O primeiro registro de avaria, feito às 21h30 de domingo, ocorreu na Usina Hidrelétrica de Samuel, em Rondônia. Uma das torres do local caiu e, segundo a apuração da Aneel, há indícios de vandalismo. Duas torres vizinhas à estrutura que foi ao solo acabaram torcidas.

Poucos minutos depois da 0h de segunda, em Medianeira (PR), uma torre de transmissão de luz foi derrubada. Outras três estruturas responsáveis por levar energia à cidade acabaram danificadas, mas continuaram de pé. Segundo a agência reguladora do setor energético, também há elementos que apontam vandalismo no local.

Ainda no início da madrugada de segunda-feira, em uma subestação localizada em Porto Velho, capital rondoniense, uma das torres caiu. Ao tratar do caso, o documento emitido pela Aneel fala em "indícios de sabotagem".

Na Usina de Samuel, trabalhadores já atuam para reparar os danos causados pelo possível vandalismo. Um segundo boletim, emitido pela Aneel nesta terça-feira (10/1), afirma que há pessoas no local cuidando de procedimentos como a recuperação do pino central da torre e a retirada dos acessórios avariados.

 

Concessionárias e distribuidoras recebem orientações

A Aneel enviou ofício às concessionárias locais de energia para informar da criação do grupo emergencial. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) também está ciente da formação da equipe de crise.

"(O gabinete) receberá e processará as informações referentes a qualquer tentativa de ataque ou efetivo vandalismo, tanto sob o aspecto de integridade física como também cibernética das instalações mapeadas como infraestruturas críticas do Sistema Interligado Nacional (SNI)", lê-se em trecho do primeiro boletim da Aneel, que detalha os prejuízos às torres em Rondônia e no Paraná.

Às distribuidoras responsáveis pela entrega de energia aos consumidores, a Aneel pediu cuidado com a segurança física dos trabalhadores e o monitoramento constante da integridade das estruturas.

A ideia, inclusive, é que a Aneel receba dois informes diários sobre possíveis tentativas de ataque. Segundo a orientação do governo federal, ofensivas concretas às estruturas de distribuição deverão ser imediatamente comunicadas às forças locais de segurança pública.

A reportagem procurou o Ministério de Minas e Energia para saber se a pasta relaciona a derrubada das torres ao movimento golpista ocorrido na capital federal. A equipe do ministro Alexandre Silveira confirmou a criação do comitê de crise. A pasta mantém contato com os setores de mineração, combustíveis e energia acerca de eventos em que há indícios de vandalismo.

"Com a ocorrência dos fatos associados a derrubadas das torres de transmissão, não houve interrupção no fornecimento de energia elétrica e de abastecimento para a população. Um grupo de trabalho segue monitorando e subsidiando com informações necessárias às decisões para assegurar o suprimento energético e a preservação da cadeia mineral. Paralelamente, foram acionados os órgãos de segurança federais e estaduais de modo a apurar e prevenir novos atos", lê-se em comunicado enviado ao EM.

 

Fonte: Estado de Mínas