Spike Lee polêmico por natureza, colorindo as diferenças
Por: Marcisio Moura
Da homenagem a Prince, vestido com a cor de um de seus grandes hits (Purple rain), à suas antepassadas e ao aclamado "Faça a coisa certa", Spike Lee, um dos consagrados na premiação em roteiro adaptado por, “Infiltrado na Klan”, foi muito mais além.
Imagem do filme: Infiltrado na Klan
Num discurso muito politizado, despertou a atenção dos que acompanhavam a entrega das estatuetas no tapete vermelho e ocupando seu espaço de militância despertou as atenções às eleições de 2020 e as possibilidades de colocar um fim aos devaneios Trumpnianos.
Em seu discurso no Oscar 2019, Spike Lee, celebrou a ancestralidade, sua história e muito mais:
“A palavra hoje é ironia. Hoje é 24 de fevereiro, o mês mais curto do ano. Também é o mês do ano da história negra. 1619… Há 400 anos nós fomos sequestrados da África e trazidos para a Virginia, escravizados. A minha avó, que viveu até 100 anos de idade, apesar de sua mãe ter sido escrava, conseguiu se formar. Ela viveu anos com seu seguro social, e conseguiu me levar para a universidade NYU. Diante do mundo, eu gostaria de reverenciar os ancestrais que construíram esse país, e também os que sofreram genocídios. Os ancestrais que vão ajudar a voltarmos a ganhar nossa humanidade. As eleições de 2020 estão chegando, vamos pensar nisso. Vamos nos mobilizar, estar do lado certo da história. É uma escolha moral. Do amor sobre ódio. Vamos fazer a coisa certa”, disse Lee.
Spike Lee
Ícone do cinema afro-estadunidense, Spike sempre abordou a temática racial abrindo as portas em Hollywood para uma conscientização sobre os problemas sociais do país. Além de diretor, produtor e roteirista, ele seguidamente atua em seus próprios filmes. Nascido em 20 de março de 1957 em Atlanta, sul dos EUA, numa época marcada pelo preconceito racial, mudou-se com sua família, quando tinha 3 anos, para o Brooklyn, onde adquiriu toda a sua consciência social.
Em 1989, com Faça a Coisa Certa, que lhe rendeu uma indicação ao Oscar por melhor roteiro original, conseguiu reproduzir com maior fidelidade a sua visão do cotidiano das minorias. Cansado da maneira estereotipada que seu povo sempre fora retratado nas telas, Lee tem, normalmente, como tema o racismo, porém, trabalha diferentemente de tudo que se viu até então, ao mostrar toda a complexidade dos guetos estadunidenses, não apenas os negros, mas latinos, orientais, mestiços etc., ele destrói maniqueísmos criados em torno desses temas, mostrando como essas etnias também sabem ser preconceituosas e intolerantes.
Em 1990, com Mais e Melhores Blues, uma história mais voltada para o Jazz, tentando recuperar este movimento cultural, decepciona alguns fãs que esperavam algo mais ousado e com uma denúncia mais pesada, porém vem a se recuperar um ano depois com Febre da Selva, que trata de relacionamentos inter-raciais. Ainda dirigiu a cinebiografia "Malcolm X" sobre o famoso ativista afro-estadunidense dos anos 60. Provou também toda sua versatilidade em Uma Família de Pernas pro Ar, em 1994, uma comédia leve escrita em parceria com seu irmão, e em Irmãos de Sangue, em 1995. E não parou por aí...
O diretor Spike Lee, comemorando com grande entusiasmo ao lado de Samuel L. Jackson
Nesse 2019, mais que uma estatueta, Spike Lee, levou sua luta e de tantos injustiçados ao tapete vermelho e deixou a cena bem mais colorida pra quem acompanhou a entrega oscariana, mas deixou claro também, que a cor da pele é mero detalhe, ou melhor, deveria ser.