Uma criança, de 4 anos, que estava com as pernas amarradas por fios de eletricidade, dormia ao lado de um bebê de colo

 

Uma família de origem boliviana, que vivia em situação de regime de trabalho análogo à escravidão, foi liberada após a Polícia Civil localizar uma oficina de costura na rua Joaquim Afonso de Souza, na Casa Verde, zona norte de São Paulo, na tarde desta segunda-feira (13).

 

Durante a ocorrência, um casal foi preso acusado de manter a própria filha amarrada pelos pés dentro do imóvel.

 

De acordo com o delegado titular do 13° Distrito Policial da Casa Verde, Luis Carlos Silva Santos, a corporação recebeu uma denúncia do Ministério Público a respeito de um local onde pessoas de origem boliviana viviam sob regime de trabalho análogo à escravidão.

 

Com as informações, as equipes de investigação se deslocaram até o endereço e encontraram crianças dormindo no chão enquanto o resto da família trabalhava em máquinas de costura.

 

Em um dos colchões, um bebê dormia ao lado de uma menina, de 4 anos, que estava com as pernas amarradas por fios de eletricidade. Segundo o delegado, quando os investigadores questionaram a criança sobre quem teria amarrado seus pés, a garota respondeu que teria sido seu "papai".

 

Ainda durante buscas dentro do imóvel, os policiais localizaram outras pessoas, todas de origem boliviana, trabalhando em condições precárias.

 

O casal, pais da criança amarrada, também foram encontrados. Eles alegaram que estavam trabalhando no imóvel há cerca de um mês.

 

A reportagem teve acesso às imagens que mostram a insalubridade do local, com restos de alimentos na geladeira e muita sujeira espalhada pelos cômodos. Nos dormitórios havia colchões velhos e roupas espalhadas por toda parte.

 

A gravação também mostra parte da família trabalhando nas máquinas de costura. Outra criança aparece nas imagens em cima de um dos equipamentos.

 

Segundo informações da polícia, os documentos das vítimas ficavam retidos com os donos do imóvel até o pagamento de supostas dívidas dos funcionários.

 

O responsável pela oficina foi identificado e conduzido até a delegacia. Na unidade policial, ele relatou que os trabalhadores são, na verdade, parentes. Ainda questionado sobre o trabalho confeccionado na oficina, o homem disse que as peças são entregues na região do Brás/Pari, zona central da capital paulista.

 

O casal responsável pela criança encontrada amarrada foi detido por maus-tratos, crime inafiançável, e autuados em flagrante. A menina foi encaminhada ao Conselho Tutelar e passará por exames de corpo de delito.

 

O caso foi registrado no 13° Distrito Policial da Casa Verde, que prosseguirá com as investigações.

 

Solicitamos uma nota à Secretaria de Segurança Pública (SSP) e ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP), mas não obtivemos retorno.

 

Não foi a primeira vez

O endereço já havia sido alvo de buscas na última quarta-feira (8), quando a Polícia Militar foi acionada para uma ocorrência de maus-tratos em bolivianos instalados na residência.

 

Nessa data, um homem de origem boliviana foi à Unidade Básica de Saúde da Casa Verde Alta tomar vacina e confessou que vivia em regime de escravidão em uma casa no bairro, após ser questionado por uma técnica de enfermagem.

 

Uma funcionária pública notou que a vítima estava com o cartão de vacinas atrasado e passou a perguntar o motivo. O homem relatou que, além dele, nove bolivianos trabalhavam no local.

 

A vítima chegou a afirmar que um casal mantinha uma criança amarrada para evitar que a mesma descesse para a linha de produção.

 

O homem também disse que cinco bolivianos são os responsáveis pelos trabalhadores, que são impedidos de sair de casa. Eles recebem três refeições por dia, sendo café da manhã, almoço e jantar e não podem fazer refeições fora dos horários determinados pelos chefes.

 

Questionado como conseguiu sair da casa, o boliviano relatou que só conseguiu sair porque um dos chefes, o mais violento, não estava em casa. Para despistar, a vítima inventou que precisava comprar fios.

 

Após a denúncia, a técnica de enfermagem entrou em contato com a polícia para denunciar o caso. Equipes da 1ª Companhia do 9º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano foram até o endereço indicado e perceberam que o portão da casa estava fechado.

 

Os oficiais conversaram com um homem que estava na casa, que disse que o patrão havia trancado o portão e levado a chave. Ele negou que havia maus-tratos no local.

 

Diante disso, os policiais encerraram a ocorrência e não constataram o crime de trabalho escravo no endereço.

 

Fonte: R7