O espantalho não assusta. Provoca risos e pena nos corvos. Essa é a metáfora o filme O Espantalho.

O tema é o encontro de dois vagabundos na estrada para a Califórnia: Max, um homem durão, esquentado, que foi preso várias vezes devido ao seu temperamento difícil, e Lion, um ex-marinheiro irresponsável e negligente. Eles são homens comuns, que topam qualquer trabalho, vivem de “bicos” e que têm sonhos e ambições. Os dois se conhecem por acaso. E planejam se tornar sócios em um negócio de lavagem de carros quando chegarem a Pittsburgh, na Pensilvânia. O objetivo de Lion é chegar a Detroit para conhecer o filho que nunca viu, e fazer as pazes com sua esposa Annie. Max concorda em fazer esse desvio no caminho.

A supremacia da indústria automobilística, no início dos anos de 1970, faz com que prevaleçam os trabalhos ligados a este ramo e dá o tom da paisagem árida e poluída.

Não à toa o grande projeto de Max é construir um lava-rápido e tornar-se um empresário em prestação de serviços.

Mas o filme os associa à imagem triste do espantalho. Desempregados e “informais”, Max e Lion são o retrato da marginalização provocada por um sistema que não abrange e ao mesmo tempo não liberta. O Espantalho, desta forma, retrata a condição do trabalhador, sua alienação inerente e sua constante busca por si mesmo.

Os dois amigos compartilham uma realidade fragmentada, cultivando pedaços de vida, de percepção e de mundo. Mas esses homens guardam dentro de si sentimentos e valores íntegros e invioláveis. Ao mesmo tempo engraçado e comovente O Espantalho nos faz parar para prestar atenção em um mundo que pode estar a nossa volta.

O Espantalho (Scarecrow)

EUA, 1973

Direção: Jerry Schatzberg

Elenco: Gene Hackman, Al Pacino, Dorothy Tristan e Ann Wedgeworth

 

 

 

 

Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical