De Muddy Waters a Helen Humes e B.B. King
“Muitas pessoas se perguntam: ‘o que é o blues?’ Eu ouço um monte de gente dizendo ‘o blues, o blues’, mas eu vou te dizer o que o blues é. Quando você não tem nenhum dinheiro, você tem o blues. Quando você não tem dinheiro para pagar o aluguel de casa, você ainda tem o blues. Muitos povos gritam ‘Eu não gosto de nenhum blues’, mas quando você não tem nenhum dinheiro, e não pode pagar o seu aluguel de casa e não pode comprá-lo sem comida, você tem a maldita certeza que tem o blues. Se você não tem nenhum dinheiro você tem o blues, porque você está pensando mal. Isso mesmo. Toda vez que você está pensando mal, você está pensando sobre o blues ” – Howlin‘ Wolf.
Você sempre quis ouvir blues e não sabia por onde começar? Nós lemos o seu pensamento e fizemos uma seleção com 30 das músicas mais clássicas da história do blues pra que você possa conhecer melhor o gênero. Senta aí, aumenta o volume e deixe o ritmo te levar…
Origem
O blues tem suas origens nas plantações do século 19 no sul dos EUA, onde os escravos cantavam músicas de trabalho enquanto se matavam de trabalhar sob o sol quente. Quando os afroamericanos aprenderam a tocar instrumentos europeus, o violão se tornou um acompanhamento popular para a cantoria cheia de sentimentos e levou ao desenvolvimento do estilo.
É caracterizado por uma progressão específica de acordes – geralmente a progressão twelve-bar –, assim como pelas blue notes [N.T.: às vezes chamada em português de “nota fora”, embora o termo em inglês seja bem mais utilizado]. Uma blue note é uma nota cantada ou tocada com um timbre ligeiramente mais baixo do que o da escala maior, o que faz com que a nota tenha um som distintivamente triste e melancólico. [N.T.: A própria palavra “blues”, em inglês, é sinônimo de melancolia.]
Robert Johnson
O gênero musical é considerado, junto com o jazz, o pai do rock, hip-hop, música latina e etc. A lista de estilos, músicos, e artistas em geral influenciados pelo blues se perde de vista.
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Pra entender melhor
Delta Blues – um dos mais antigos estilos da música blues. Foi originado na região do delta do Rio Mississippi, nos Estados Unidos, que se estende de Memphis, Tennessee a norte, a Vicksburg, Mississippi no sul, e do Rio Mississippi a oeste ao Rio Yazoo a leste;
Boogie Blues – uma forma de movimento rítmico, advindo originariamente das raízes do blues. Caracteriza-se pelo movimento sincopado e cadencial, orientado pela simplicidade de compasso. Dentre as várias lendas que cercam o blues, diz-se que o boogie origina-se na tentativa do guitarrista em imitar a cadência de um trem em movimento.
Vamos à lista:
1. Crossroad Blues – Robert Johnson
Pra começar, um blues clássico e casca grossa.
Descrito por Eric Clapton como “o músico de blues mais importante que já viveu”, Johnson foi um lendário e polêmico cantor de Delta Blues. Há várias versões populares para sua morte: envenenado pelo uísque servido por um dono de bar enciumado, que haveria morrido de sífilis, e que havia sido assassinado com arma de fogo. Seu certificado de óbito cita apenas “No Doctor” (sem médico) como causa da morte.
Outro mito popular recorrente sugere que Johnson vendeu sua alma ao diabo na encruzilhada das rodovias 61 e 49 em Clarksdale, Mississippi, em troca da proeza para tocar guitarra. Este mito foi difundido principalmente por Son House, e ganhou força devido às letras de algumas de suas músicas, como “Crossroad Blues”.
Curtiu? Então vá ouvir “Love In Vain”.
2. Manish Boy – Muddy Waters
Muddy Waters teve um importante papel na ploliferação do Delta Blues pelo mundo, chegando a influenciar artistas como Mick Jagger, Eric Clapton e Jimmy Page. “Manish Boy” é a versão de Waters do hit “I’m a Man” de Bo Didley. A música logo tornou-se um clássico do rock e foi regravada, mais tarde, pelo Rolling Stones.
Curtiu? Então vá ouvir “You Don’t Have To Go”.
3. Spoonful – Howlin’ Wolf
Howlin’ Wolf está entre os artistas mais eletrizantes da história do blues. Sua figura imponente era condizente com a música que fazia. Um feroz e encorpado cantor, de vocal áspero e rouco. Nas palavras do historiador Bob Santelli, “Wolf agiu por um blues potente, tornando-se a encarnação viva de suas forças mais poderosas”. “Spoonful” é uma ótima amostra da força do blues de Wold.
Curtiu? Então vá ouvir “Change My Way”.
4. Baby Please Don’t Go – John Lee Hooker
Era humanamente impossível não sacudir pelo menos uma parte do corpo ao ouvir e ver John Lee Hooker em ação. Seu carisma era tamanho que até mesmo suas canções mais fracas chamavam a atenção. O legítimo criador do Boogie Blues usava sua voz rouca, seu dedilhado esquisitíssimo e seus pés batucantes para criar canções sensacionais, vide “Baby Please Don’t Go”.
Curtiu? Então vá ouvir “Boom Boom”.
5. Keep It To Yourself – Sonny Boy Williamson
Gosta de gaita? Então ouça Sonny Boy Williamsom, o homem que colocou a gaita como instrumento de primeira grandeza no blues. Com uma carreira longa o suficiente a ponto de ter tocado com Robert Johnson e outros ícones do blues, “o rei da gaita” entrou para a história com seu blues cadenciado e de letras provocantes, além, é claro, de seus incríveis solos de gaita.
Curtiu? Então vá ouvir “I’m a Lonely Man”.
6. Pearline – Son House
Este é Son House: o homem que foi a maior influência de Robert Johnson e Muddy Waters. House foi um músico atuante e influente dos anos 20 e 30, passou as décadas de 40 e 50 praticamente no anonimato e ressurgiu nos anos 60 para o mundo da música. Músicos como Jimi Hendrix, Eric Clapton, Keith Richards e Jimmy Page assistiram seus shows nos anos 60. Inspirou as obras de Jimi Hendrix, Cream, Rolling Stones e Led Zeppelin. Son House é naturalmente o elo entre o Delta Blues e o Blues moderno, sendo, por si só, a evolução do Blues em pessoa.
Curtiu? Então vá ouvir “Death Letter”.
7. Where Did You Sleep Last Night? –Leadbelly
Compôs dezenas de canções blues que renderam incontáveis covers. Diz a lenda que ele levou um tirou de espingarda na barriga e sobreviveu, por isso o apelido “Lead Belly” – que significa “Barriga de Chumbo”. Seu instrumento era o violão de 12 cordas. “Where Did You Sleep Last Night?” foi regrava, mais tarde, por Doc Watson, Mark Lanegan, Nirvana, Dolly Parton e muitos outros artista. [N.T.: a versão do Nirvana ficou incrível.]
Curtiu? Então vá ouvir “Take This Hammer”.
8. Dust My Broom – Elmore James
Conhecido como o “rei da guitarra slide” [N.T.: forma de tocar guitarra em que se utiliza no dedo anular ou minimo um pequeno tubo oco e cilíndrico], Elmore tinha um estilo único no instrumento, e ficou conhecido pelo uso de amplificação em volumes elevados e por sua voz comovente.
Curtiu? Então vá ouvir “I Held My Baby Last Night”.
9. Five Long Years – Buddy Guy
Chamado por muito de “a ponte entre o blues e rock and roll”, Buddy Guy é conhecido como um dos expoentes do Blues de Chicago e, pela guitarra marcante, foi uma das principais influências para Jimi Hendrix.
Curtiu? Então vá ouvir “What Kind Of Woman Is This”.
10. Lonesome Valley – Mississipi John Hurt
John Smith Hurt passou a maior parte de sua juventude tocando músicas antigas para seus amigos, em bailes e ganhando a vida como trabalhador braçal em fazendas da região na década de 1920. “Mississipi” foi acrescentado, mais tarde, ao seu nome para alavancar as vendas. Sua influência afetou diversos outros gêneros musicais, como o country e o bluegrass.
Gostou? Então vá ouvir “Payday”.
11. Canned Heat Blues – Tommy Johnson
Também natural do Mississipi, Tommy foi um dos mais influentes guitarristas do Blues. “Canned Heat Blues” é uma canção sobre um alcoólatra que tomou Sterno – um combustível com uma mistura tóxica de etanol e metanol, que quando combinado com líquidos, como água, era chamado “calor enlatado”.
Curtiu? Então vá ouvir “Cool Drink Of Water Blues”.
12. Ramblin’ – Johnny Shines
Outro expoente do Blues de Chigago, Johnny tinha uma voz potente e solos de guitarra marcantes.
Curtiu? Então vá ouvir “Trouble’s All I See”.
13. Banana In Your Fruit Basket – Bo Carter
Mesmo após ficar parcialmente cego, Bo continuou a trabalhar na agricultura e a compor influentes canções para o blues.
Curtiu? Então vá ouvir “Pin in Your Cushion”.
14. They Raided The Joint – Helen Humes
Começou a sentir falta de uma mulher na lista? Não se preocupe, Helen Humes está aqui. Helen despontaria em sua carreira cantando jazz, mas foi no blues em que ela começou a chamar atenção; sua voz poderosa ajudou a formar e a definir o balanço vocal das próximas gerações do blues e jazz.
Curtiu? Então vá ouvir “Million Dollar Secret”.
15. Parchman Farm Blues – Bukka White
“Parchman Farm Blues” foi escrita na prisão de Parchman Farm, onde Bukka cumpria pena por matar um homem [N.T.: Bukka White alegou legítima defesa, mas foi condenado mesmo assim].
Curtiu? Então vá ouvir “Strange Place Blues”.
16. Be Careful With a Fool – Johnny Winter
Num gênero musical dominado pelos negros, qual seria a chance de um texano vesgo e albino fazer sucesso? Acontece que, Johnny Winter tinha, com toda certeza, a alma de uma verdadeiro bluesman. Exímio guitarrista, quebrou todos os paradigmas do blues com seus solos poderosos.
Curtiu? Então vá ouvir “Life Is Hard”.
17. Pride And Joy – Steve Ray Vaughan
Já que estamos falando de guitarristas brancos e texanos, impossível deixar de fora um dos maiores guitarristas que já se viu. Steve Ray e sua guitarra levaram o blues a um patamar mais swingado, com linhas de baixo mais marcantes, aproximando-o, assim, ao Rock. Morreu em 1990, em um acidente de helicóptero que também pôs fim à vida de integrantes da equipe de Eric Clapton.
Curtiu? Então vá ouvir “Crossfire”.
18. The Thrill Is Gone – B.B. King
B.B. – Blues Bloy – e “Lucille” – nome carinhoso que dava a suas guitarras – marcaram para sempre a história do blues. Dono de uma discografia irretocável, influenciou guitarristas como Eric Clapton e Hendrix. King morreu na madrugada de 15 de maio de 2015, enquanto dormia, aos 89 anos. Era apreciado por seus solos, nos quais, ao contrário de muitos guitarristas, preferia usar poucas notas. Certa vez, teria dito: “posso fazer uma nota valer por mil”. Alguém discorda de King?
Curtiu? Então vá ouvir “Rock Me Baby”.
19. Born Under a Bad Sign – Albert King
Embora tenha gravado muitos discos, Albert King nunca recebeu o crédito que merecia por conta de sua excelência como bluesman e como guitarrista. A união entre a guitarra cortante de King e a base segura e cheia de molho funky de sua banda a propiciou uma discografia tão matadora quanto clássica, com músicas, posteriormente, regravadas por Clapton, Gary Moore, Free e Rory Gallagher.
Curtiu? Então vá ouvir “Oh Pretty Woman”.
20. Sittin’ On The Top Of The World – The Mississipi Sheiks
O famoso grupo de Delta Blues possuiu diversas formações, onde algumas lendas se juntaram ao grupo, tais como: Bo Carter, Charlie McCoy e Sam Chatmon. Gravada em 1930, esta canção foi regravada por diversos artistas, como Frank Sinatra, Bob Dylan e Cream. [N.T.: a versão de Jack White ficou incrível].
Curtiu? Então vá ouvir “I’ve Got Blood In My Eyes For You”.
21. All Your Love – John Mayall
Que tal um blues britânico? “Blues Breakers With Eric Clapton” foi o disco que catapultou Eric Clapton – então apenas um integrante da banda de John Mayall – à categoria de “deus” para a juventude britânica na segunda metade dos anos 60. Lançado entre o período em que o guitarrista abandonou o Yardbirds e montou o Cream, este álbum até hoje é considerado o melhor disco de blues britânico de todos os tempos e o resultado da proverbial presença de Mayall dentro do cenário musical inglês. “All Your Love” é uma faixa em que já podemos notar que Clapton se sobressaía à banda.
Curtiu? Então vá ouvir “It Ain’t Right”.
22. Back Door Man – Willie Dixon
Dixon era um dos compositores mais famosos do Delta Blues. Escreveu para lendas como Howlin’ Wolf e Little Walter. “Back Door Man” foi escrita para Howlin’ Wolf e regravada pelo The Doors.
Curtiu? Então vá ouvir “I Can’t Quit You, Baby”.
23. Crow Jane – Skip James
Skip James gravou algumas canções para Paramount em 1931, mas não foi totalmente pago para este trabalho, e as vendas caíram rapidamente, devido à grande depressão nos EUA. Então, em meados dos anos 60, o colecionador de blues, John Fahey, o descobriu um hospital do Mississippi. Uma coisa levou a outra e ele acabou tocando no Festival de Folk de Newport. Então, passou a gravar algumas das melhores músicas de sua carreira, como “Crow Jane”.
Curtiu? Então vá ouvir “Devil Got My Woman”.
24. Rolling Stone – Robert Wilkins
Escrita por Muddy Waters, cuja versão foi apropriadamente escolhida pela revista Rolling Stone como o número 459 em sua lista das 500 melhores músicas de todos os tempos em 2004.
Curtiu? Então vá ouvir “That’s No Way To Get Along”.
25. A Sponful Blues – Charlie Patton
Patton é conhecido, por muitos, como o “pai do Delta Blues”. Nasceu em Mississipi, perto de Edwards, mas viveu grande parte de sua vida em Sunflower County, no Delta do Mississipi. Várias fontes dizem que nasceu em 1891, mas ainda há dúvidas sobre isso. Em 1900, entretanto, sua família viajou 160 km ao norte para a lendária Dockery Plantation, uma fazenda perto de Ruleville, Mississipi. Foi lá que John Lee Hooker e Howlin’ Wolf aprenderam com Patton. Também foi nessa região que Robert Johnson tocou sua primeira guitarra. O violão que Patton utilizava era um Stromberg-Voisinet.
Curtiu? Então vá ouvir “Shake It And Break It”.
26. Stormy Monday – T-Bone Walker
Walker é conhecido como o pioneiro na utilização de guitarra elétrica no Blues – motivo pelo qual, por si só, já seria o suficiente para considerá-lo uma lenda. Mas sua influência ultrapassou a sua música; T-Bone Walker foi o herói de infância de Jimi Hendrix – que procurou de alguma forma imitá-lo ao longo de sua vida.
Curtiu? Então vá ouvir “Roots of Blues”.
27. Wild Geese Blues – Gladys Bentley
Mais uma mulher na lista. Gladys era da Filadélfia e foi manchete nos primeiros trinta anos de Ubangi Clube do Harlem, onde ela foi apoiada por uma linha de coro de drag queens . Ela se vestiu com roupas masculinas (incluindo uma assinatura smoking e cartola), tocava piano, e cantou suas próprias letras obscenas para músicas populares da época rosnando profundamente com a sua voz enquanto flertava escandalosamente com as mulheres na platéia.
Curtiu? Então ouça “Worried Blues”.
28. Alabama Blues – JB Lenoir
Em setembro de 1963 quatro estudantes negros foram mortos quando uma bomba explodiu durante uma missa na 16th Street Baptist Church em Birmingham, Alabama. Martin Luther King chamou Birmingham “de longe a pior cidade para as relações raciais na América”, e John Coltrane escreveu uma música de protesto chamada “Alabama”. Em março de 1965 manifestantes dos direitos civis foram brutalmente agredido por agentes estaduais e deputados, causando ferimentos graves aos que protestavam. Mais tarde, em 1965, JB Lenoir gravava este hino anti-racista ardente.
Curtiu? Então vá ouvir “Feelin’ Good”.
29. Hound Dog – Big Mama Thornton
Uma das vozes femininas mais poderosas da história do blues fez de Big Mama Thornton um ícone popular na década de 50.
Curtiu? Então vá ouvir “Let’s Go Get Stoned”.
30. Got To Be Some Changes Made – Otis Rush
Considerado como o 53º melhor guitarrista de todos os tempos pelo revista Rolling Stone, Rush é canhoto e usa a guitarra para destros virada ao contrário, sem trocar o encordoamento. Com isso, a corda mais fina (E) fica em cima, e os bends têm que ser realizados para baixo, contribuindo para seu som distinto. Influenciou diretamente outros famosos guitarristas, como Clapton, Peter Gray e Steve Ray Vaughan.
Curtiu? Então vá ouvir “So Many Roads”.
Leia a matéria completa em: 30 músicas essenciais para começar a gostar de blues - Geledés http://www.geledes.org.br/30-musicas-essenciais-para-comecar-a-gostar-de-blues/#ixzz3lqUbFnlr
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