Supervisor da Receita preso por cobrar propina impôs multa 50 vezes maior que supostos "desvios" cometidos pelo instituto e abastecendo a imprensa com vazamentos
O auditor fiscal Marco Aurélio Canal foi preso nesta quarta-feira (2) por suspeita de cobrar propinas de réus e delatores em troca da suspensão de multas da Receita Federal. Ele era supervisor da Equipe de Programação da Operação Lava Jato, e comandou devassa contra o Instituto Lula entre 2015 e 2018. Os dados da auditoria foram vazados pela imprensa, e pagamentos classificados como “desvio de finalidade” que somaram R$ 365 mil resultaram em multa de R$ 18 milhões.
As investigações contra Canal começaram a partir de delação premiada de Lelis Teixeira, réu da Lava Jato e ex-presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio (Fetranspor).
Ele relatou ter negociado pagamento de R$ 4 milhões ao auditor para evitar uma multa contra a empresa de transportes carioca em um processo que corria na Receita. Ele é apontado como chefe de uma organização que incluía outros 13 integrantes também presos.
O uso político da investigação foi denunciado pelo Instituto Lula à época, e também agora. Além da multa desproporcional, o instituto afirma que os vazamentos à imprensa “serviram para alimentar a investida política e judicial contra o ex-presidente e o projeto de país que tem nele seu maior símbolo”. Os dados eram vazados antes mesmo que pudessem ser contestados pela defesa da entidade.
“Entre os ‘desvios’ estavam, por exemplo, o pagamento da passagem de R$ 936 para um segurança que acompanhou o ex-presidente no velório do vice-presidente José Alencar. Para os auditores, foi uma despesa ‘que diz respeito exclusivamente ao interesse particular do ex-presidente’. Também foi considerado desvio o pagamento do intérprete que acompanhou Lula quando o ex-presidente recebeu prêmio de doutor honoris-causa na Bolívia. O Instituto tem a obrigação estatutária de preservar e defender o legado do ex-presidente Lula”, diz nota divulgada também nesta quarta (3).
Canal era tratado como uma referência no combate à corrupção, ministrando inclusive palestras envolvendo sua atuação junto à Lava Jato, sobre a CPI dos Fundos de Pensão e a Divisão de Fiscalização da Receita comandada por ele.
Fonte: Rede Brasil Atual