A crise econômica que o país vem atravessando desde 2014/2015 talvez seja a mais grave e resiliente de nossa história. A cada nova rodada de pesquisas sobre desemprego e índices de atividade econômica, fica corroborado cientificamente aquilo que todos os brasileiros sabemos empiricamente: está longe a tão sonhada - e prometida - volta do crescimento.
Basta caminhar pelo centro de qualquer grande cidade para ver as faces marcadas pela dor do desemprego, do desalento, da fome. São mais de 13 milhões de desempregados, segundo o IBGE, mas ultrapassam 27 milhões os subocupados e a enorme massa de informais, precarizados, vivendo a cada dia uma agonia na busca pela sobrevivência.
A pretexto de incentivar uma retomada econômica que não vem, os poderosos aprovaram a terceirização irrestrita, devastaram a CLT e os direitos com a nefasta Reforma Trabalhista, desestruturaram o financiamento do movimento sindical para enfraquecer a oposição às medidas antipopulares.
As promessas de geração de empregos caíram no vazio. Enquanto a miséria e as doenças curáveis voltam a matar pessoas diariamente, o lucro do Bradesco saltou 22% neste 1º trimestre, ultrapassando 6 bilhões de reais. Ao tempo em que estados e municípios chafurdam em uma crise fiscal que solapa salários de servidores e serviços públicos vitais, como saúde, educação e atenção a desastres naturais, o superávit primário do governo central, apenas no mês de janeiro, foi de 35 bilhões de reais, dinheirama transferida para pagamento dos juros da dívida pública.
O mercado exige mais. A chantagem da vez é a Reforma da Previdência de Bolsonaro: ou se esfola ainda mais o povo para dar 1 trilhão para Paulo Guedes ou o Brasil “quebra”, bradam os agiotas nacionais e internacionais. Dizem que vão acabar com privilégios. Uma mentira grosseira, uma hipocrisia sem tamanho. Os privilegiados de sempre, pela proposta de Bolsonaro, serão privilegiados para sempre, pois o centro da “reforma” é acabar com a Previdência pública para transferir à banca financeira esse filão através do sistema de capitalização.
Na verdade, o 1 trilhão é assaltado do bolso do trabalhador urbano, que passará a trabalhar mais com a instituição da idade mínima para homens e mulheres; das viúvas e dos idosos pobres, que terão seu benefício desvinculado do salário mínimo e reduzidos em 40%; dos professores, que só poderão se aposentar depois dos 60 anos; e do trabalhador rural, que terá aumentado o tempo de contribuição para 20 anos.
Essa é a verdade sobre o projeto de Bolsonaro, o presidente que se passa por “homem do povo”, que gosta de ser chamado de “capitão” – só se for o capitão do time dos milionários.
Frente a essa situação tenebrosa em nosso país, a boa nova vem das ruas. Reveste-se de contornos históricos o 1º de Maio unitário, envolvendo todas as centrais sindicais e sindicatos do Brasil. Será a primeira vez que o Dia do Trabalhador será comemorado com um brado único de luta, sob a bandeira ampla e mobilizadora: “Contra o fim da aposentadoria e por mais empregos!”
Lembremos, porque as lutas passadas ensinam: a maior derrota imposta ao governo antipopular de Michel Temer foi impedir a Reforma da Previdência. Para tanto, foi fundamental a vitoriosa greve geral de 28 de abril de 2017, quando 40 milhões de trabalhadores cruzaram os braços em defesa do direito à aposentadoria.
Desde a redemocratização, nunca o país e o povo viveram riscos como os de hoje. Estamos sob um governo autoritário, que flerta com ideias fascistas, ultraliberal na economia e antinacional no que diz respeito ao enxovalhamento da soberania brasileira frente a interesses estrangeiros.
Mas é um governo politicamente rudimentar, dirigido por uma figura inepta, caricata, que em menos de 5 meses de mandato implodiu sua possível base de apoio no parlamento e fez erodir a popularidade e autoridade da Presidência da República.
Por isso, é possível derrotar a Reforma da Previdência de Bolsonaro. Mas a força das ruas será o diferencial e novamente o movimento sindical soube atender ao chamado da História. É chegada a vez da frente ampla, que se materializa entorno de bandeiras e lutas concretas, de uma forma nos movimentos sociais e nas ruas, de outra no parlamento, como dois rios que correm para desaguar no mesmo mar. Viva o 1º de Maio unificado dos trabalhadores!
Orlando Silva é deputado federal pelo PCdoB-SP