Campanha da CUT no mês internacional das mulheres também destaca temas como a redução da jornada de trabalho, sem redução de salários e a defesa da democracia sem anistia para golpistas

 

A luta e a defesa da vida de todas as mulheres foi o tema escolhido pelo Movimento das Mulheres da CUT para a campanha deste 8 de março de 2025 – Dia Internacional da Mulher. O slogan da campanha é “Pela Vida de Todas as Mulheres, que remete à luta contra a violência, a resistência e a resiliência dos movimentos de mulheres da CUT e feministas.

O Coletivo de Mulheres Trabalhadoras da Central já definiu as estratégias de mobilização para o próximo dia 8 e para todo o mês de março. As atividades começam já durante o Carnaval, dando visibilidade às bandeiras de luta na maior festa popular do país.

Para a CUT e entidades parceiras, trata-se de uma oportunidade para ampliar o público, alcançando não somente mais mulheres mas, para além de militantes e toda a sociedade.

“Vamos aproveitar as manifestações populares para levar as nossas pautas, chegar às mulheres que não são militantes, que não estão informadas sobre as lutas, aproveitar essa oportunidade para trazer as pautas para os blocos, as escolas de samba”, diz a secretária nacional da Mulher Trabalhadora da CUT, Amanda Corcino.

Para além dos dias de folia, o mês de março terá diversas atividades, promovidas pelas entidades filiadas à CUT, que vão desde rodas de conversas, seminários e debates a mobilizações nas ruas no 8 de março.

“Onde for possível, o ato acontecerá no próprio dia oito de março, aproveitando a ludicidade do Carnaval para reforçar uma identidade visual que divulgue nossas pautas e bandeiras de luta”, reforça a dirigente.

A participação das mulheres no Carnaval será reforçada com materiais como leques, abanadores de papel, viseiras, abadás, além de adesivos. Todas as estaduais, ramos e entidades sindicais filiadas à CUT estão mobilizadas também para as demais atividades da data articuladas com os movimentos sociais, Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, Comitês de Luta, Brigadas Digitais da CUT, Centrais Sindicais, entidades parceiras e comunidades locais.

Pautas

Além do tema central “Pela vida de todas as mulheres, ‘ainda estamos aqui’; pela redução da jornada de trabalho, sem redução de salários; e pela democracia - sem anistia para os golpistas”, as pautas também incluem a luta pela igualdade salarial; o combate à violência e ao assédio no mundo do trabalho e a importância da Convenção 190 da Organização Internacional do Trabalho – OIT; a política de cuidados e a Convenção 156 da OIT; direitos reprodutivos, violência de gênero e aborto legal; e a importância da V Conferência de Políticas Públicas para as Mulheres.

O 8 de março

Em entrevista ao Portal da CUT, Amanda Corcino detalhou as principais pautas deste 8 de março e do mês internacional das mulheres.

A violência contra a mulher é tema central. A intensificação da luta contra o feminicídio no Brasil, nos últimos dois anos deu resultados. Em 2024, houve redução de 5,1% dos casos registrados em relação a 2023. De acordo com os dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), até outubro de 2024, os estados e o Distrito Federal comunicaram ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) 1.128 mortes por feminicídio. A expectativa é que, em 2025, o país esteja mais seguro para a população feminina.

Mas a luta não cessa porque a violência ainda existe. De acordo com o Anuário da ONU Mulheres”, sobre assassinatos de mulheres e meninas no mundo, mais de 51 mil pessoas do gênero feminino foram mortas por seus parceiros ou membros da família em 2023.

Em 2025, o tema “Pela Vida de Todas as Mulheres”, reforça que a luta é em defesa de todas elas, independente de orientação sexual e sexo biológico. “É em defesa de todas as mulheres, sejam elas heterossexuais, bissexuais, lésbicas, cisgênero, transsexuais e travestis”, diz Amanda. Recentemente o STF ampliou os efeitos da Lei Maria da Penha para mulheres trans e travestis.

- Redução da jornada de trabalho sem redução de salários: “A redução da jornada é um debate que pegou muito forte no fim do ano passado e que a gente quer continuar pautando esse ano porque é importante para todos os trabalhadores, mas para nós, mulheres, tem um impacto maior por causa de questões como o trabalho de cuidados, a nossa dupla jornada e questões que envolvem a reprodução e a manutenção da vida”, diz a dirigente.

“A redução da jornada de trabalho é algo que permitirá que a mulher possa ter recursos e tempo para poder se qualificar, descansar e cuidar de si mesma”. Amanda diz ainda que com a redução, o companheiro da mulher também terá mais tempo de se dedicar a afazeres que hoje recaem sobre ela.

- Democracia, sem anistia: A pauta é central neste 8 de março por se tratar de um tema de grande relevância para o conjunto da sociedade, mas em especial às mulheres. Durante o governo de Jair Bolsonaro, ataques a políticas públicas feriram direitos das mulheres. Durante seus quatro anos de gestão, por exemplo, o Orçamento da União teve 94% menos de recursos para as políticas de combate à violência contra a mulher do que nos quatro anos anteriores.

As mulheres foram protagonistas na luta para derrotar Bolsonaro. Agora, defender a democracia e sem anistia para os golpistas que tentaram tomar o poder de assalto no 8 de janeiro de 2023 é essencial e continua sendo uma luta das mulheres.

Amanda Corcino fez uma avaliação do cenário político mundial. “A gente vê com bastante preocupação o crescimento e fortalecimento do fascismo no mundo. O retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos preocupa pelo poder que ele quer ter sobre a América Latina. Ano que vem é ano de eleição no Brasil e as mulheres terão, novamente, papel muito importante para manter a democracia”.

- Igualdade salarial: “Temos que garantir que a lei seja cumprida”, diz Amanda Corcino. Ela explica que se trata de um direito de todas mulheres e que o tema precisa sair do debate e ter ações mais efetivas para que a mulher tenha seu espaço de respeito garantido nos locais de trabalho. “Tem que ter a fiscalização, mas tem que haver também a consciência, tem que haver a mudança de nossa cultura que naturaliza a mulher ganhando menos que os homens”, diz Amanda.

- Violência e assédio no mundo do trabalho: Enquanto a tramitação da Convenção 190 continua parada por conta da atuação do deputado Eduardo Bolsonaro, a estratégia é inserir o tema nas negociações coletivas para que cláusulas façam parte das Convenções Coletivas (CCTs) e Acordos Coletivos (ACTs). O governo Lula enviou a Convenção ao Congresso, mas ela está parada na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional do Congresso, que inclusive, o relator é o deputado Eduardo Bolsonaro”, relembra Amanda. Por isso, ela destaca, tratar do tema nas negociações é uma forma de garantir que haja punição a assediadores nas empresas, além de campanhas de prevenção para que se desenvolva uma cultura de respeito no ambiente de trabalho

Política de Cuidados: “Esta é uma pauta que nos remete a uma responsabilidade social e não apenas feminina”, diz Amanda Corcino. Ela explica que é preciso, definitivamente, mudar a cultura e entender que “todos nós, empresas, governos, enfim a sociedade, têm reponsabilidade na política e na prática de cuidados”. Alerta ainda que é preciso que a Convenção 156, sobre Igualdade de Oportunidades e de Tratamento para Homens e Mulheres seja ratificada.

A Política Nacional de Cuidados (Lei 15.069/2024) sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva visa garantir o direito ao cuidado para quem o recebe e para quem cuida. Os objetivos são promover a inclusão social; garantir direitos de quem cuida e de quem recebe cuidados; redistribuir e reduzir o trabalho não-remunerado de cuidado; promover o trabalho decente para trabalhadores remunerados do cuidado, e transformar a percepção e a organização do cuidado na sociedade.

Direitos reprodutivos: “A mulher ainda não é dona de seu corpo”, diz Amanda, lamentando que o machismo estrutural ainda seja uma realidade no país. “São homens, na maioria héteros, brancos, querendo legislar, mandar, dizer o que o corpo da mulher pode ou não pode”. Amanda fala, em especial sobre o Projeto de Lei 1.904/2024 (PL do Estupro), que equipara o aborto legal em casos de estupro em idade gestacional acima de 22 semanas ao crime de homicídio simples.

“A gravidez é questão feminina. É a vida da mulher que está em jogo, se vai conseguir levar ou não adiante, se tem rede de apoio, suporte, e eles querem decidir por ela sob a falsa argumentação de defender a vida. Mas, contraditoriamente, nenhum deles defende a vida depois que a criança nasce. O que vai ter é a polícia matando essa juventude”, critica a dirigente ao se referir também que “grande parte das mulheres, vítimas de estupro, que buscam o aborto, são na verdade meninas. No período de 2021 a 2023, o Brasil teve 164.199 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes até 19 anos.

Redes sociais

Além das ações a serem realizadas nos estados, municípios e territórios, ações nas redes sociais também serão realizadas para divulgar e mobilizar para as pautas e para os locais onde haverá atos neste 8 de março.

Fonte: CUT