Bairros ficaram alagados; 12 pessoas morreram e duas estão desaparecidas
As fortes chuvas que atingiram a região metropolitana do Rio de Janeiro no último fim de semana e deixaram 12 pessoas mortas, segundo informações do governo do estado, trouxeram novamente para o debate político o tema do racismo ambiental. O termo repercutiu e foi bastante procurado na internet após ser usado pela ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, em declaração na rede social X sobre o temporal que atingiu seu estado de origem.
Rita Maria da Silva Passos, integrante da Rede Brasileira de Justiça Ambiental e pesquisadora e doutoranda do Instituto de Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sintetiza o significado da expressão utilizada pela ministra: um conjunto de injustiças que atingem a população mais vulnerável.
“O conceito de racismo ambiental fala justamente sobre práticas, políticas, que afetem direta ou indiretamente povos de cor com relação a sua qualidade de vida ambiental. Ou seja, você precisa zelar pela vida de pessoas que estão em áreas mais vulnerabilizadas, mais suscetíveis a enchentes, alagamentos, remoções… Então, você precisa estar mais atento a políticas que sejam benéficas a essas populações que, historicamente, são excluídas. Ou seja, há um histórico de políticas nocivas à qualidade de vida de pessoas não brancas. E não falamos só de políticas públicas, mas também políticas empresariais”, explica Passos.
Por causa do alto volume de chuvas no Rio de Janeiro, que já eram previstas pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), rios transbordaram e vários bairros ficaram inundados. De acordo com o Inmet, o índice acumulado de chuva na Vila Militar, zona oeste da cidade, no domingo (14) foi de quase 152 milímetros. O Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil informaram que duas pessoas seguem desaparecidas.
O Rio Botas, localizado em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, ficou obstruído pelo lixo. Uma mulher desapareceu no local. O governador Cláudio Castro (PL) chegou a cobrar participação da população na luta contra os alagamentos. Porém, Passos argumenta que a responsabilidade não é só dos moradores, que dependem de ações do governo, como boas políticas de coleta de resíduos e saneamento.
“Você não pode responsabilizar a pessoa por uma prática ou uma ação que é de uma instância política governamental. Então, não dá pra você individualizar. A gente tem um processo político hoje em dia de individualizar e responsabilizar o indivíduo, mas na verdade, o que a gente precisa responsabilizar é a política ou a ausência de política. Ou seja, a ausência de coleta de lixo regular é o que acomete essas populações”, declara a pesquisadora.
Um pouco abaixo do nível do mar, os rios da Baixada Fluminense podem sofrer mais com riscos de transbordamentos quando o volume de chuva é grande e se a maré estiver alta. Mas isso não justifica deixar que tragédias aconteçam, segundo Passos.
“O que a gente tinha que ter era políticas de mitigação e adaptação climáticas e ambientais para que essas pessoas não sofressem com isso. Porque se a gente tem isso na Baixada [Fluminense], na Lagoa Rodrigo de Freitas, que tem uma lagoa gigante, não acontece a mesma coisa. Ou seja, existe uma desigualdade aí no tratamento dessas pessoas”, denuncia.
A entrevista completa, feita pelo apresentador Kaique Santos, está disponível na edição desta terça-feira (16) do Central do Brasil, no no canal do Brasil de Fato no YouTube..
Fonte: Brasil de Fato