Somente em 2019, quase 10,7 mil abaixo-assinados online foram criados na versão brasileira da plataforma Change.org sobre as mais diversas causas - uma média de mais de 200 petições abertas toda semana. Mais que impressionar, os números cada vez maiores de mobilizações surgidas online revelam como os cidadãos vêm enxergando nesse recurso um meio válido e eficiente de atuação democrática. A avaliação é da diretora-executiva da Change.org Brasil, Monica Souza, que divulgou ao HuffPost um ranking das maiores petições do ano passado. 

 

“O ‘ativismo de sofá’, como muitas vezes essa atuação é injustamente classificada, vem na verdade ditando as regras de debates nacionais e internacionais. Todos os grandes temas em discussão no Brasil e no mundo são permeados por mobilizações desse tipo, que buscam reunir o maior número possível de apoiadores. Com a internet, essa mobilização tornou-se muito mais prática, rodando o mundo rapidamente através de um link”, destaca Monica. 

 

O ranking dos maiores abaixo-assinados comprova a análise da diretora, já que o top 10 inclui manifestações sobre temas que dominaram as acaloradas pautas políticas ao longo do ano passado. Na liderança aparece justamente a Amazônia, já o 4º e 7º lugares, por exemplo, são ocupados por discussões ligadas à educação. Justiça e combate a privilégios também não ficaram de fora do levantamento, aparecendo na 3ª, 6ª e 10ª colocações. Apenas as 10 maiores petições de 2019 acumularam juntas um volume de 16,8 milhões de assinaturas.

 

Duas petições pela prisão em 2ª instância aparecem no ranking.

Exercer a cidadania, fazer sua voz ser ouvida pelas autoridades, se envolver nas discussões e participar mais ativamente das decisões que estão sendo tomadas no país. Isso é o que, na opinião da diretora da plataforma, tem movido as pessoas a buscarem cada vez o webativismo como recurso de participação democrática e cidadã. A quantidade de mobilizações criadas na Change.org no Brasil é crescente. O total de 10,7 mil petições abertas no ano passado é quase o dobro das 5,5 mil hospedadas em 2018 e 319% maior que as 2,5 mil lançadas em 2017. 

 

Dos 10 abaixo-assinados que compõem o ranking da Change.org Brasil, dois conquistaram vitória e outros dois influenciaram diretamente os rumos dos acontecimentos. A petição pelo fim das queimadas na Amazônia foi declarada vitoriosa pelo criador da mobilização depois que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), instalou uma comissão externa para avaliar e monitorar as políticas públicas ambientais. Na ocasião, em setembro do ano passado, Maia recebeu as assinaturas da petição diretamente das mãos de seu autor.  

 

A outra campanha vitoriosa, que figura em sétimo lugar no ranking com mais de 1 milhão de assinaturas, foi lançada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O abaixo-assinado se mobilizava em defesa dos recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A entidade, que também entregou o abaixo-assinado ao presidente da Câmara dos Deputados, considerou a causa vitoriosa depois de receber um aporte de R$ 340 milhões para a cobertura das bolsas de pesquisa. 

 

As outras duas mobilizações que ainda não foram declaradas vitoriosas, mas influenciaram os rumos dos acontecimentos também são relacionadas a educação e meio ambiente. Em quarto lugar no ranking aparece uma petição criada por um professor em defesa das universidades públicas. O abaixo-assinado, que ainda segue aberto, acumula mais de 1,6 milhões de apoiadores contra o contingenciamento de verbas que as universidades federais sofreram no ano passado. Os recursos foram desbloqueados após remanejamentos. 

 

Na sequência vem uma petição que reúne 1,2 milhão de apoiadores para proteger o Parque Marinho de Abrolhos da exploração de petróleo. Depois de toda a mobilização dos ativistas do meio ambiente, o leilão realizado no ano passado terminou sem ofertas para as bacias próximas a Abrolhos. Apesar disso, os blocos ainda permanecem no sistema de ofertas da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e, por isso, a campanha segue ativa. 

 

Assim como os abaixo-assinados da Amazônia e do CNPq, as petições em defesa das universidades e de Abrolhos também foram levadas por seus criadores até ao Congresso Nacional. “Essa é uma forma prática e efetiva de demonstrar o peso e a força de uma mobilização. É uma maneira eficiente de pressionar diretamente os governos e fazer as vozes de tantos cidadãos serem democraticamente ouvidas pelos políticos, que foram eleitos justamente para representar e fazer valer a vontade do povo”, ressalta Monica. 

 

Monica Souza, diretora-executiva da Change.org Brasil.

Em tempos de ataque à democracia, espaços que prezam pela pluralidade de ideias e se abrem de forma independente ao debate saudável de opiniões são cada vez mais valorizados. A Change.org chegou ao Brasil em 2012 e já contabiliza mais de 680 petições vitoriosas e 26 milhões de pessoas usando a ferramenta para transformar na sociedade aquilo que as incomoda. No mundo, são mais de 331 milhões de usuários conectando-se além de inúmeras barreiras culturais e geográficas. Segundo dados mundiais da plataforma, uma petição se torna vitória a cada hora - já são mais de 39 mil mobilizações vitoriosas em todo o mundo. 

 

Para a diretora-executiva da organização no Brasil, o ranking permite uma “leitura” do atual momento político brasileiro. “Notamos, de forma geral, que o cenário do Brasil está representado neste ranking. Metade das causas que moveram os brasileiros em 2019 pode ser considerada como ‘progressista’, inclusive a maior de todas elas, já que, assim como a educação, o meio ambiente também virou pauta política no ano que se passou”, avalia Monica. 

 

“Também não é possível deixar de notar a força que o conservadorismo ainda tem no nosso país, já que a segunda maior petição foi contra o especial de Natal do Porta dos Fundos. Com causas ligadas à direita, à esquerda ou até mesmo dissociadas do embate político, como a petição de saúde, esse ranking mostra claramente como a Change.org é uma plataforma aberta, plural e neutra, que incentiva debates e garante espaço para que todas as pessoas, independente de seu posicionamento ideológico ou preferência política, possam se mobilizar dentro da lei e de forma saudável em torno das bandeiras que acreditam”, pondera a diretora. 

 

Conforme explica Monica, a plataforma é independente, não cria abaixo-assinados e não tem relação com as petições lançadas. Apesar disso, segundo ela, um conteúdo pode ser passível de remoção do site se violar as leis vigentes ou infringir os Termos de Uso da plataforma, como, por exemplo, casos de discurso de ódio, incitação à violência, violação de privacidade, falsidade ideológica, entre outras situações descritas nas diretrizes da comunidade.

 

Fonte: Huffpostbrasil.com