Medida começa a valer na próxima sexta (26); rodízio também muda a partir de segunda (22) e valerá das 20h às 5h

 

A Prefeitura de São Paulo vai adiantar os próximos cinco feriados a partir de sexta-feira (26) na tentativa de diminuir a circulação de pessoas na cidade e, assim, frear a disseminação da Covid-19 na capital paulista.

A medida, anunciada no início da tarde desta quinta-feira (18) pelo prefeito Bruno Covas (PSDB), é vista por técnicos da prefeitura como uma das poucas alternativas para tentar evitar o colapso do sistema de saúde nas próximas semanas.

Serão antecipados os dois feriados municipais de 2021 e outros três de 2022. Assim, o recesso começa na sexta (26), continua nos dias 29, 30, 31 de março e 1º de abril, e junta-se ao feriado da Paixão de Cristo (Sexta-feira Santa). Segundo Covas, a medida vai forçar a cidade a ficar sem dias úteis por dez dias.

Os feriados são os de Corpus Christi (3 de junho), Consciência Negra (20 de novembro) e o aniversário da cidade (25 de janeiro).

A antecipação dos recessos mira as indústrias e algumas empresas que ainda seguem em funcionamento nessa fase emergencial do Plano São Paulo. Não foi anunciado se os bancos devem seguir o novo calendário.

Inicialmente, a prefeitura planejava começar a sequência de feriados já na próxima segunda (22), mas preferiu empurrar o megaferiado para sexta a fim de aproveitar a Páscoa e ampliar a quantidade de dias em recesso.

Segundo o prefeito, a medida repete a experiência de 2020, quando os recessos foram antecipados e a capital teve um megaferiado de seis dias em maio.

"Se voltarmos a termos bons índices de 60% [como em 2020], certamente a gente vai reduzir a quantidade de casos aqui na cidade. É por isso que a gente consolidou todos [feriados] próximos. Para que a gente possa ter esse período de aperto de 10 dias, quase duas semanas, para que os resultados possam aparecer."

Covas ainda afirmou que trata com o governador João Doria a antecipação do feriado estadual da Revolução Constitucionalista (9 de julho).

A partir da próxima segunda (22), a prefeitura também vai alterar o horário de rodízio, para tentar diminuir a circulação de veículos à noite. Assim, a restrição passa a valer das 20h às 5h, seguindo o horário do toque de recolher do governo do estado, e não mais das 7h às 10h e das 17h às 20h.

Com a mudança, os veículos de placas finais 1 e 2, não poderão circular das 20h de segunda até as 5h de terça. Os de finais 3 e 4, não devem circular entre a noite de terça e madrugada de quarta e assim sucessivamente. A alteração valerá para as próximas duas semanas.

Covas ainda destacou que a restrição de veículos à noite ajudará a reforçar as medidas do governo do estado e, quem precisar sair de casa durante o dia —embora a orientação seja para que a população só saia em caso de necessidade—, poderá usar o próprio veículo. "Esperamos, com isso, que as pessoas entendam que esse é um momento de ação coletiva contra o coronavírus."

Nos dias de antecipação do recesso, segundo Covas, a oferta de ônibus municipais não será reduzida. Segundo ele, hoje a cidade está com cerca de 90% da frota na rua mesmo com a demanda de passageiros na cada de 47%.

Nesta quinta-feira, a capital paulista atingiu a ocupação de 88% dos leitos de UTI para atendimento de pacientes com Covid-19. “A gente vê colapsando todo o sistema de saúde”, afirmou.

Segundo o prefeito, a capital registrou a primeira morte de paciente à espera de uma vaga de UTI em um hospital municipal no último dia 13. O paciente, com 22 anos, morreu 46 horas após dar entrada no pronto-atendimento de São Mateus, na zona leste. Segundo o secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido, o jovem era obeso. Nesta quinta, a fila de espera na cidade para um leito de UTI tinha 475 pessoas.

"A cidade que nunca parou, a cidade que trabalha, a cidade que é a soma dos esforços de vários imigrantes precisa parar para que a gente não tenha mais casos como esse de pessoa que não consegue ser atendida e que vem a óbito por falta de atendimento", disse Covas.

A prefeitura ainda anunciou a abertura de 640 novos leitos para atendimento de pacientes de Covid na cidade nos próximos dias.

Para isso, três unidades hospitalares serão transformadas em "hospitais de catástrofe", para atender somente pacientes infectados pelo coronavírus. Nas próximas 24 horas, segundo o secretário, os hospitais Jabaquara (zona sul), Itaquera (zona leste) e o Vereador José Storopolli, na Vila Maria (zona norte) terão ampliação de leitos e serão exclusivos para doentes de Covid.

Os atendimentos de maternidade, por exemplo, serão deslocados para outros hospitais da rede.

O prefeito ainda afirmou que deve assinar na tarde desta quinta o contrato com a Caixa Econômica Federal para a liberação de cerca de R$ 500 milhões para o pagamento do auxílio emergencial municipal. Ao menos 1 milhão de pessoas devem ser beneficiadas com a renda a ser paga nos meses de março, abril e maio.

Além disso, a prefeitura vai ampliar a distribuição de cestas básicas de 2.500 unidades diárias para 7.500. Já as refeições oferecidas, passarão de 7.500 por dia para 10 mil, segundo Covas.

CAPITAL TEVE MEGAFERIADO EM 2020

Em 2020, a prefeitura já havia antecipado os recessos para tentar frear a alta de casos na cidade. Foram antecipados os feriados de Corpus Christi, que é em junho, para 20 de maio (quarta-feira), e do Dia da Consciência Negra, celebrado em novembro, para 21 de maio (quinta-feira). Na sexta (22), foi decretado ponto facultativo.

Na mesma ocasião, o governador João Doria (PSDB) antecipou o feriado da Revolução Constitucionalista, de julho, para 25 de maio (segunda-feira), formando assim um megaferiado.

No primeiro dia do feriado prolongado de 2020, o isolamento social na capital chegou a 51%, ante 49% registrado no dia útil anterior. Já no último dia, quando a antecipação do recesso vigorava para todo o estado, esse índice chegou a 53% na cidade e 51% no estado.

Temendo uma invasão de turistas diante dos seis dias de recesso na capital paulista, cidades da Baixada Santista pediram ajuda do governo do estado e anunciaram barreiras sanitárias e blitze.

O Ministério Público de São Paulo conseguiu uma liminar para barrar as rodovias que dão acesso aos municípios de Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe, Itariri e Pedro de Toledo durante o megaferiado, mas a decisão acabou sendo derrubada pelo Tribunal de Justiça.

No primeiro dia do megaferiado, a cidade de Guarujá barrou a entrada de mais de 300 veículos. Já a cidade de Santos, registrou congestionamento na entrada da cidade.

Questionado se o novo megaferiado não poderia levar as pessoas novamente ao litoral, Bruno Covas disse que as pessoas precisam entender que não é um período de contraternização, seja indo a festas clandestinas ou lotando praias.

"Não há ação isolada do poder público que tenha o efeito desejado, sem a adesão da população."

 

Fonte: Folha de SP