Jornal citou rivalidade entre Jair Bolsonaro e governador de São Paulo, João Doria. Por enquanto, Indonésia não tem planos de suspender testes com da CoronaVac.

 

O desenvolvimento de uma vacina contra a Covid-19 é atualmente a maior preocupação mundial. Por isso, o anúncio de que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspendeu os testes da CoronaVac, desenvolvida no Brasil pelo Instituto Butantã em parceria com a empresa chinesa Sinovac, repercutiu internacionalmente. O The New York Times, um dos jornais mais importantes do mundo, noticiou o assunto e disse que há dúvida sobre o caráter técnico da decisão  em uma matéria chamada: “Brasil suspende testes da vacina chinesa. Mas a culpa é da ciência ou da política?”, publicada nesta terça-feira (10), assinada por Sui-Lee Wee e Ernesto Londoño.

Segundo a Anvisa, a decisão de suspender os testes aconteceu após um evento adverso grave. O diretor do Instituto Butantã, Dimas Covas, confirmou em entrevista coletiva concedida nesta terça, que o evento foi a morte de um voluntário no dia 29 de outubro. No entanto, acrescentou, seria “impossível” a morte estar relacionada à vacina. Mais tarde, a imprensa brasileira informou que a causa da morte do voluntário foi suicídio.

O New York Times citou a rivalidade entre Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria. A matéria lembra que a vacina chinesa é uma “favorita global” na corrida para imunizar contra o novo coronavírus. A suspensão, afirmam os jornalistas, provocou comoção política, com críticos de Jair Bolsonaro acusando o governo federal de colocar vidas em perigo ao politizar os testes da vacina. O perfil de Bolsonaro em uma rede social chegou a dizer que o presidente “ganhou mais uma”.

“A pesquisa da vacina chinesa inflamou a rivalidade política entre Bolsonaro e Doria, que, acredita-se, tem grandes chances de candidatar-se à presidência em 2022 (…). Bolsonaro já havia manifestado seu ceticismo em relação à vacina chinesa, e nesta terça-feira, regozijou-se com a interrupção”, ressaltou o jornal norte-americano.

A matéria destacou também que, no mês passado, Bolsonaro se enfureceu ao saber que o Ministério da Saúde pretendia comprar 46 milhões de doses da vacina e mandou cancelar a compra.

O NYT conversou com Kim Mulholland, pediatra do Murdoch Children’s Research Institute em Melbourne, na Austrália, que considerou “alarmante” o Instituto Butantã não saber o motivo da interrupção dos testes. “Eu fico pensando quem fez isso e porque. Esta é a pergunta que precisa de fato ser respondida, porque é uma violação do processo normal”, afirmou.

O jornal lembra que é “raro” uma droga cujos testes não foram completados ser administrada em larga escala dessa forma e, por isso, houve cientistas que criticaram o programa chinês de uso emergencial. Especialistas em vacina afirmam que é importante concluir a terceira e última fase de testes em seres humanos antes de disponibilizar o remédio. A terceira fase, no entanto, envolve dezenas de milhares de pessoas e pode detectar efeitos colaterais incomuns e potencialmente graves.

A Sinovac começou os testes da fase três no Brasil e na Indonésia em agosto e na Turquia em setembro, em aproximadamente 27 mil pessoas. O NYT destacou que a suspensão no Brasil pode atrasar a conclusão do processo em outros países, comprometendo o prazo original informado pela Sinovac, de concluir os testes até o fim de 2020.

A estatal Bio Farma, da Indonésia disse ao jornal que, por enquanto, não tem planos de cancelar os próprios testes, segundo Iin Susanti, chefe do Departamento de Planejamento Comercial e Estratégia da empresa.

Tao Lina, especialista em vacinas de Xangai, disse ao New York Times que acredita que a suspensão no Brasil teve motivações políticas. “A tecnologia de vacinas inativadas está muito avançada e a possibilidade de este incidente ser relacionado à vacina é muito pequena”, disse. Tao, ex-imunologista do Centro de Controle de Doenças e Prevenção de Xangai, considera improvável que o governo chinês suspenda o uso emergencial da vacina em curso no país porque, segundo ele, “causaria muito pânico”.

 

Fonte: Vermelho