Menor índice desde as eleições de 2018, número de candidaturas femininas pode ficar ainda mais baixo já que elas precisam ser referendadas por seus partidos. Até agora, 22 mulheres se lançaram pré-candidatas de um total de 161 nomes

Decisivas nas eleições deste ano, correspondendo a 53% do eleitorado brasileiro, as mulheres são apenas uma em cada 7 pré-candidaturas a governos estaduais. De um total de ao menos 161 nomes que devem concorrer aos governos de 26 estados e Distrito Federal, somente 22 mulheres se lançaram pré-candidatas. O total representa 14%, menor índice desde as eleições de 2018. E pode ficar ainda mais baixo, já que as candidaturas precisam ser referendadas por seus partidos.

Os dados fazem parte de levantamento do jornal Folha de S. Paulo, divulgado nesta segunda-feira (16). Em 2018, esse percentual chegou a 15% com 30 candidaturas femininas. Se confirmado o número atual, a participação das mulheres retrocederá ao patamar de 2014, quando 20 candidaturas femininas foram registradas. O equivalente a 11% do total de postulantes a governos estaduais. O desenho atual mostra que apenas 14 das 27 unidades da federação terão mulheres como candidatas ao Executivo estadual.

Até hoje, apenas seis estados brasileiros já elegeram mulheres governadoras. Nesse caso estão Rio de Janeiro, Pará, Maranhão, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Roraima.

 

Baixa representatividade em 2022

Rio Grande do Norte, conforme destaca a reportagem, é o recordista nesse quesito com três governadoras ao longo de sua história desde a redemocratização. A última delas, a atual governadora Fátima Bezerra (PT) que vai concorrer a um novo mandato em outubro. Se reeleita, a petista repetirá um feito alcançado por apenas outras duas mulheres no Brasil, Roseana Sarney, no Maranhão, e Wilma de Faria, no Rio Grande do Norte. A avaliação de Fátima Bezerra é de que a postura menos aberta à diversidade de gênero na definição de candidaturas nos estados, pelos partidos, é resultado da ascensão do presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Voltamos algumas casas nas nossas conquistas quando atravessamos períodos em que até mesmo a nossa existência é ameaçada por discursos de ódio e de violência e por políticas públicas facilitadoras da barbárie”, destacou a governadora à Folha. Pernambuco também pode viver uma situação inédita. Nunca comandado por uma mulher, o estado tem na liderança das pesquisas para o governo a deputada federal Marília Arraes (Solidariedade) e ex-prefeita de Caruaru Raquel Lyra (PSDB).

Por outro lado, o levantamento também mostra que poucas candidaturas femininas serão uma prioridade de seus partidos em nível nacional. Ao todo, os partidos Psol, PDT, PT, MDB, PSDB, PSB, União Brasil, Solidariedade, PMB e PCB devem lançar candidatas mulheres aos governos estaduais. Professora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), Flávia Biroli diz que há “uma reafirmação do controle masculino nos partidos”, apesar da obrigatoriedade na destinação de 30% do fundo eleitoral para as candidaturas femininas.

 

Poder da escolha

A especialista observa que o controle sobre o recurso ainda é masculino, uma vez que cabe aos partidos definir quais candidaturas serão beneficiadas. Mas a professora também vê impacto do governo Bolsonaro e da violência política de gênero para a baixa representatividade feminina que se desenha em 2022. “Sem a existência de uma legislação que exija que os partidos abram espaço para as mulheres, enxergamos que a roda segue girando do jeito que está azeitada. Ou seja, é mantido o controle dos homens sobre os recursos partidários, o que inclui o direito de candidatura, que segue produzindo esse desequilíbrio muito grande.”

Reportagem da TVT mostra, contudo, que as mulheres são a maioria do eleitorado. E que a escolha por candidaturas comprometidas com as políticas públicas voltadas a essa parcela da população é a principal forma de garantir que as brasileiras consigam voltar a se inserir no mundo do trabalho, principalmente. Segundo o IBGE, mais da metade dos 12 milhões de desempregados no Brasil são mulheres, com destaque para as mulheres negras.

“Nós temos que reverter esse quadro de precariedade mais acentuada entre as mulheres e entre as mulheres negras. Temos que recuperar o emprego no Brasil, reduzir os percentuais de desemprego, desocupação de sub-utilização considerando que esses percentuais são muito maiores entre as mulheres e as mulheres negras”, destaca a economista e pesquisadora do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas (Cesit-Unicamp) Marilane Teixeira.

 

Fonte: Rede Brasil Atual