Centenas de funcionários do Google e de sua controladora, a Alphabet (GOOGL), lançaram um sindicato, um passo raro para a indústria de tecnologia e que também representa o maior e mais organizado desafio para a liderança executiva da empresa.

 

Anunciado na manhã de segunda-feira (4), o Sindicato dos Trabalhadores da Alphabet será administrado por funcionários e aberto tanto para trabalhadores contratados em tempo integral quanto para terceirizados na gigante da tecnologia. “Isso é histórico”, disse Dylan Baker, engenheiro de software do Google, em um comunicado.

 

“O primeiro sindicato em uma grande empresa de tecnologia por e para todos os trabalhadores de tecnologia. Elegeremos representantes, tomaremos decisões democraticamente, pagaremos taxas e contrataremos organizadores qualificados para garantir que todos os funcionários do Google saibam que podem trabalhar conosco se realmente quiserem que a empresa reflita seus valores”.

 

A iniciativa foi lançada com mais de 200 membros, de acordo com um artigo de opinião do “New York Times” que o grupo publicou na segunda de manhã. Até 226 membros do grupo já tinham carteiras sindicais do Communications Workers of America (CWA), um dos maiores sindicatos trabalhistas do país.

 

Nos Estados Unidos, sindicatos podem ser certificados pelo governo federal quando a maioria dos funcionários de um local de trabalho vota para apoiá-lo em uma eleição realizada pelo Conselho Nacional das Relações de Trabalho (NLRB na sigla em inglês). Outra alternativa, de acordo com o NLRB, é um sindicato ser reconhecido voluntariamente por um empregador se um número suficiente de trabalhadores indicar que gostaria que o sindicato negociasse em seu nome.

 

Mas os funcionários do Google optaram por uma terceira via que, pelo menos por enquanto, não prevê o reconhecimento formal, disse Beth Allen, diretora de comunicações da CWA. A razão é que os acordos coletivos de trabalho tradicionais “quase sempre excluem os terceirizados”, disse Allen, o que não foi possível para muitos dos organizadores do Google.

 

O ato não impede o sindicato de buscar reconhecimento formal posteriormente. Mas, até lá, os membros do sindicato não terão o apoio de um acordo coletivo de trabalho com o Google. Em vez disso, disse Allen, o sindicato provavelmente precisará buscar outras táticas para conseguir mudanças no Google, como pressionar por cobertura da mídia, lutar no congresso por uma nova legislação e supervisão ou apresentar queixas ao NLRB.

 

Segundo Allen, os funcionários do Google também poderiam teoricamente organizar uma greve, embora isso seja um desafio e não haja planos atuais para fazê-lo.

 

Em resposta ao esforço sindical, o Google se comprometeu a se envolver com os trabalhadores.

 

“Sempre trabalhamos duro para criar um local de trabalho que dê suporte e recompensa para nossa força de trabalho”, disse Kara Silverstein, diretora de operações de pessoal do Google, em um comunicado à CNN Business. “É claro que nossos funcionários têm direitos trabalhistas protegidos, que apoiamos. Mas, como sempre fizemos, continuaremos nos envolvendo diretamente com todos os nossos funcionários”.

 

A formação do sindicato vem após anos de aumento das tensões dos colaboradores no Google sobre as decisões operacionais e de negócios da empresa, incluindo seu trabalho com o setor de defesa, planos para um mecanismo de pesquisa censurado na China e o tratamento da empresa dado a alegações de má conduta sexual, a última das quais resultou em um protesto maciço de funcionários. As demandas do sindicato atingem muitas dessas questões.

 

“Por muito tempo, milhares de nós no Google – e outras subsidiárias da Alphabet, a empresa controladora do Google – tivemos nossas preocupações com o local de trabalho ignoradas pelos executivos”, escreveram os

 

trabalhadores no artigo do “NYT”. “Nossos chefes têm colaborado com governos repressores em todo o mundo. Eles desenvolveram tecnologia de inteligência artificial para uso pelo Departamento de Defesa e lucraram com anúncios de um grupo de ódio. Eles não conseguiram fazer as mudanças necessárias para resolver significativamente nossos problemas de retenção de pessoas não brancas”.

 

Os organizadores fizeram menção especial a Timnit Gebru, uma importante pesquisadora de IA que recentemente saiu do Google depois de criticar os esforços de diversidade da empresa. A saída dela gerou protestos sobre as práticas de trabalho do Google.

 

Alguns trabalhadores que levantaram a voz no passado foram demitidos, em certos casos levando a queixas ao NLRB. Em dezembro, o NLRB acusou o Google de infringir a lei ao demitir dois funcionários supostamente por se organizarem pelos trabalhadores.

 

Fonte: CNN Brasil