A reportagem do Estadão destaca que o estudo, realizado com cerca de 2 mil entrevistados, mostra adesão à exigência e medo de conviver com alguém não imunizado; especialistas defendem medida, que é atacada por Bolsonaro

 

Em meio à discussão no Brasil sobre a importância do passaporte da vacina, pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que 65% dos brasileiros são favoráveis à exigência do comprovante. Segundo o levantamento, divulgado nesta terça-feira, 14, essa parcela da população considera que os estabelecimentos comerciais e outros lugares devem exigir o certificado como condição para os clientes frequentarem os mesmos. Apenas 22% são contra essa prática – mesma posição do presidente Jair Bolsonaro.

 

Os dados da pesquisa com 2.016 entrevistados mostram, no entanto, que a exigência ainda não está disseminada no País. Somente 18% dos entrevistados tiveram de comprovar a vacinação em algum dos lugares que frequentou nos últimos três meses. Nesta segunda-feira, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) começou a cobrar passaporte da vacina dos viajantes que chegam de voos internacionais e também nas fronteiras, após determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso.

 

Em boletim na semana passada, pesquisadores da Fiocruz defenderam a medida para frear o contágio do coronavírus. “Grande parte dos países põem restrições para evitar o alastramento da covid-19 nos seus territórios. O Brasil não pode caminhar na contramão, sob o risco de se tornar o destino de pessoas não vacinadas, que oferecem mais riscos para a difusão da doença”, dizem. Com o avanço da variante Ômicron, com maior risco de contágio, especialistas veem necessidade ainda maior de manter medidas de controle.

 

“O crescimento econômico, a geração de emprego e renda serão mais intensos na medida em que conseguirmos acabar com a pandemia. A vacinação em massa foi determinante para contermos a disseminação do vírus. Nesse sentido, a CNI apoia todas as medidas que ajudam no combate à Covid-19”, afirma o presidente da entidade, Robson Andrade. O executivo avalia que, quanto mais a população e o setor produtivo se sentirem seguros, melhor será o ambiente de negócios para a retomada da economia.

 

Dois terços têm medo de conviver com alguém não imunizado

Com relação à segurança, o levantamento revela que dois em cada três brasileiros (66%) têm medo de conviver diariamente com pessoas que não tomaram nenhuma das doses de vacina contra a covid-19. Já aqueles que não receberam nenhuma dose do imunizante são os que têm menos medo de frequentar lugares públicos.

 

Se 65% dos brasileiros totalmente imunizados têm algum temor de ir a shows e eventos, esse porcentual cai para 39% entre os que não se vacinaram. Em geral, essa é a atividade que mais desperta algum tipo de medo entre os entrevistados, tanto imunizados ou não. Um total de 61% afirma que tem medo muito grande, grande ou médio de ir a shows ou eventos.

 

Cidades como São Paulo e Rio cobram o passaporte da vacina para a entrada em grandes eventos. O trabalho presencial é, por outro lado, a atividade que menos assusta: 23% afirmam que têm medo muito grande ou grande e 27% dizem que o medo é médio.

 

Quase metade defende manter máscara obrigatória

Enquanto muitos Estados e municípios já flexibilizam o uso de máscaras em espaços abertos, 49% dos entrevistados se manifestaram contra a queda a exigência do equipamento de proteção e 39% são favoráveis às medidas que tornam o uso facultativo. Outros 10% não são nem a favor nem contra e 2% não sabem responder.

 

As pessoas que não se vacinaram são as mais favoráveis ao fim da obrigatoriedade de máscaras. Entre eles, o porcentual é de 50% contra 38% daqueles que estão totalmente imunizados. Esse mesmo comportamento é visto em relação ao uso das máscaras atualmente. Entre os brasileiros totalmente imunizados, 59% usam máscaras em locais abertos e fechados. Já entre os que não tomaram nenhuma dose de vacina, o porcentual cai para 29%.

 

O levantamento, feito pelo Instituto FSB Pesquisa a pedido da CNI, ouviu presencialmente 2.016 brasileiros com idade superior a 16 anos, em todas as unidades da federação, entre os dias 18 e 23 de novembro. A margem de erro no total da amostra é de dois pontos porcentuais, com intervalo de confiança de 95%.

 

Fonte: Estadão