O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira (10) que é preciso enfrentar a pandemia do novo coronavírus de “peito aberto” e que o Brasil tem de deixar de ser “um país de maricas”, utilizando referência pejorativa e que minimiza os impactos da pandemia do novo coronavírus, que já matou mais de 162 mil brasileiros e infectou 5,67 milhões de pessoas em todo o País.

“Tudo agora é pandemia, tem que acabar com esse negócio, pô. Lamento os mortos, lamento. Todos nós vamos morrer um dia, aqui todo mundo vai morrer um dia... Não adianta fugir disso, da realidade. Tem que deixar de ser um país de maricas, pô”, disse o presidente, em cerimônia no Palácio do Planalto.

Em seguida, acrescentou: “Olha que prato cheio para a imprensa, prato cheio para a ‘urubuzada’ que está ali atrás. Temos que enfrentar de peito aberto, lutar. Que geração é essa nossa? A geração minha, do Milton (Ribeiro, ministro da Educação), é diferente, 60 anos de idade. A geração hoje em dia é toddynho, nutella, zap. É uma realidade”, continuou o presidente.

A declaração foi dada em evento sobre a retomada Turismo no País, em que a plateia era composta majoritariamente por empresários da área. Bolsonaro disse que o setor ficou “na lona” neste ano e que a pandemia foi “superdimensionada”. Ele ainda afirmou que fez certo em adotar medidas menos drásticas e criticou líderes que se preparam para a 2ª onda da doença.

Segundo boletim do Conass, desta terça-feira (10), com dados incompletos do estado de São Paulo e do Paraná, 162.802 brasileiros morreram por covid-19.

“Vocês foram na lona nessa pandemia. Que foi superdimensionada. A manchete amanhã: ‘ah, não tem carinho, não tem sentimento com quem morreu...’. Tenho sentimento com todos que morreram. Mas foi superdimensionado. E agora já começam a enfrentar o povo brasileiro com uma segunda onda. Tem que enfrentar, pô, é a vida. Tem que enfrentar.”

“Fique em casa e a economia vem depois. Afundaram vocês”, continuou o presidente. “Nós aqui, numa onda mundial, fechamos tudo. Um só país não fechou tudo e lá, a situação é diferente. E agora já começam a amedrontar o povo brasileiro com uma segunda onda [de coronavírus]. Tem que enfrentar.”

Bolsonaro ainda reclamou que não o deixaram tomar as medidas que queria para diminuir o isolamento e culpou governos estaduais; o mandatário ainda afirmou que o Congresso tem sua “parcela” de culpa afirmando que “lá tem uma corrente de esquerda, do atraso”. “O que faltou para nós não foi um líder, foi não deixar o líder trabalhar”, disse Bolsonaro.

Sem citar Joe Biden, presidente eleito nos Estados Unidos no último domingo (8), Bolsonaro ainda afirmou que “tem que ter pólvora” para fazer frente a candidato a chefe de Estado que quer impor sanção por causa da Amazônia. 

“Assistimos há pouco um grande candidato à chefia de Estado dizer que se eu não apagar o fogo da Amazônia levanta barreiras comerciais contra o Brasil. E como é que podemos fazer frente a tudo isso? Apenas a diplomacia não dá, não é, Ernesto [Araújo, chanceler]? Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora, senão, não funciona”, continuou.

O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou nesta segunda (9) que Bolsonaro irá cumprimentar o presidente eleito dos Estados Unidos “na hora certa”, e que deve esperar o final de processo de judicialização do resultado que o atual presidente, Donald Trump, promete promover.

As declarações foram dada horas depois deBolsonaro ter comemorado a suspensão dos testes da vacina contra a covid-19, a CoronaVac, elaborada pela farmacêutica chinesa Sinovac, que está sendo testada no Brasil pelo Instituto Butantan, de São Paulo. Há uma disputa política em torno desta vacina envolvendo Bolsonaro, e o governador do estado, João Doria.

Ao responder uma pergunta de um seguidor em uma publicação do Facecook sobre as ações do governo federal na pesquisa sobre medicamentos para a covid-19, Bolsonaro colocou o link de um artigo sobre a suspensão dos testes e afirmou: “Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”.

″É coisa de maricas, pô”

Bolsonaro afirmou que o setor ou “na lona”, disse que a pandemia foi “superdimensionada” e fez críticas a quem fala em uma 2ª onda da doença.

No evento desta terça no Planalto, Bolsonaro usou o termo “maricas”, de cunho homofóbico, em mais um momento. Ao comentar a tentativa de criação de uma candidatura de centro para 2022, após o jornal Folha de S. Paulo noticiar encontro do ex-ministro Sérgio Moro com o apresentador Luciano Huck, ele repetiu que buscar uma alternativa política é “coisa de maricas”. 

“Nós temos que buscar mudanças, pô. Não teremos outra oportunidade. Aí vem uma turminha aí falar de “ah, queremos um centro, nem ódio pra lá, nem ódio pra cá”. Ódio é coisa de marica, pô. Meu tempo de bullying na escola era porrada. Agora se chamar o cara de gordo é bullying.”

Nesta terça, Bolsonaro não comentou sobre a dificuldade em coletar os dados sobre a covid-19 em pelo menos três estados do País. Nesta terça, novamente, o estado do Amapá não teve atualizações em 24 horas, pelo sexto dia seguido. Segundo a Secretaria de Saúde do Estado, o apagão ocorrido no desde a noite do dia 3 segue impossibilitando o fechamento do boletim.

O estado de São Paulo não divulga boletim desde o dia 6 de novembro. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, o motivo é um problema no acesso aos dados do e-SUS. Os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro também alegaram que tiveram problemas de acesso ao sistema e não conseguiram atualizar o número de mortes, somente o de casos.

CORONAVAC E GUERRA POLÍTICA

Guerra política e fake news sobre vacina de laboratório chinês ameaçam resposta à covid no Brasil

Bolsonaro tem um histórico de declarações consideradas homofóbicas. Especialistas e ativistas apontam que sua agenda conservadora coloca em risco conquistas e pleitos da comunidade LGBT. Ele nega que suas falas sejam preconceituosas ou racistas e, ano passado, chegou a dizer que a criminalização da homofobia pelo STF pode, na verdade, prejudicar LGBTs.

Na semana passada, deputados federais do PSol e ativistas anunciaram que vão entrar com uma representação no MPF (Ministério Público Federal) contra o presidente. Em visita ao Maranhão, depois de beber o tradicional Guaraná Jesus, que é conhecido pela coloração rosa, Bolsonaro afirmou a apoiadores em visita ao estado: “Agora eu virei boiola igual maranhense, é isso? Olha o guaraná cor de rosa do Maranhão. Quem toma esse guaraná vira maranhense.”

Em seguida, o presidente, rindo de seu próprio comentário, voltou a falar sobre a cor do refrigerante e disse ser “boiolagem”. “Guaraná cor de rosa do Maranhão, fodeu. Fodeu. É ‘boiolagem’ isso aqui.”

A representação é baseada na decisão recente do STF (Supremo Tribunal Federal) que, em junho de 2019, equiparou a LGBTfobia ao crime de racismo. A pena é de até 3 anos de prisão e o crime é inafiançável e imprescritível, como o racismo. 

À noite, naquele mesmo dia, de volta a Brasília e durante transmissão semanal ao vivo no Facebook, o presidente disse que fez “uma brincadeira” e que o comentário não era “para a televisão”.

“Se alguém se ofendeu, me desculpa, eu fiz uma brincadeira com a cor do guaraná Jesus, que é cor-de-rosa. E a brincadeira que eu fiz não foi para a televisão, eu estava falando com um cara lá. Falei uns troços, e divulgaram como se eu estivesse ofendendo o pessoal do Maranhão. A maldade está aí.”

 

Fonte: www.huffpostbrasil.com